O último episódio da segunda temporada de Beastars foi lançado no dia 25 de Março e trouxe a conclusão dramática que todos nós esperávamos aos vários arcos da temporada. Pessoalmente, como um fã da história criada por Paru Itagaki, adorei a temporada, tal como tinha sucedido com a primeira. Aqui vou analisar mais ao detalhe a segunda temporada, o que significou para  história e como vai influenciar as possíveis próximas temporadas. É interessante como muitos dos problemas sociais Academia servem como uma pequena metáfora para os problemas sociais da sociedade Beastars e num nível mais profundo para a nossa própria sociedade.

Seguindo a história do manga, não a 100% porque seria praticamente impossível em temporadas de apenas 12 episódios, a segunda temporada começou com o lobo Legosi e a coelha Haru a voltarem a sua rotina na Academia de Cherryton depois do que passaram com a máfia Shishigumi no fim da primeira temporada, enquanto toda a escola também tenta lidar com o desaparecimento de Louis.

Quando os alunos dizem ver o fantasma de Tem durante a noite, o alpaca morto e comido por alguém no átrio da escola no início da primeira temporada, começa toda uma investigação e instala-se medo e desconfiança. Legosi é incumbido de descobrir quem matou Tem pelo segurança da Academia, uma cobra gigante que tem estado a investigar a morte desta personagem através de vários túneis que ligam os edifícios da escola.

Porque é que o segurança só apareceu agora? Porque é que o segurança está a pedir a Legosi para resolver este mistério em vez de ele próprio o resolver ou chamar a polícia? Porque é que nenhum outro aluno na escola sabe da existência deste segurança?

Isto são todas respostas a que nunca nos são dadas quaisquer resposta, sem ser o facto de que, sendo uma cobra o segurança não gosta de ser visto pelos outos animais (qualquer coisa a ver com um complexo de inferioridade por não ter braços e pernas). Ele acha que, tendo em conta o que tem estudado dos alunos da escola, o Legosi é o mais indicado para tentar desvendar este mistério porque tem a força e instinto de um predador mas o coração e a empatia de um herbívoro.

No final de contas, este personagem torna-se muito irrelevante passados alguns episódios e nunca mais o voltamos a ver, servindo apenas como algo para ajudar a história a tomar a direção que a autora queria e nada mais. Mesmo assim, é uma pequena crítica a esta temporada, uma falta de exploração da estrutura de segurança na escola e no mundo Beastars, mas no final não é nada assim tão relevante que arruíne o resto da história.

Assim, Legosi vê-se no meio de uma mistura de problemas que tem de resolver, como descobrir quem matou Tem e o que fazer depois de o descobrir? Será ele capaz de aprender a controlar os seus instintos de predador para poder ter uma relação estável com Haru? O que aconteceu com Louis?

Bem, este último problema é rapidamente resolvido quando Legosi e o resto da escola descobrem que Louis afinal está vivo. Louis regressa depois de 2 meses desaparecido, simplesmente para abandonar a escola e ser o novo líder dos Shishigumi (os mafiosos leões que raptou Haru), depois do final surpreendente que tivemos na primeira temporada.

Apesar de Louis várias vezes explicar e demonstrar que não está a ser obrigado a nada e isto é uma escolha sua, que os leões os escolheram como o seu novo líder (depois de este matar o seu anterior líder), para voltar a fazer do grupo um dos mais influentes do Mercado de Carne, Legosi continua a achar que o Louis merece melhor que viver o resto da vida no Mercado de Carne e sente-se culpado pelo que lhe disse no fim da primeira temporada e que o levou a tomar esta decisão.

No final de contas, percebemos que toda esta história de Louis no Mercado de Carne serve como uma forma de ele próprio lidar com as suas inseguranças e com o seu passado obscuro. Sendo um anterior escravo, que ia ser vendido como carne no Mercado de Carne, Louis sente que não tem lugar no “mundo normal” e que nunca se vai conseguir adaptar ao mesmo.

Entretanto, para lidar com todo o conflito interno, Legosi volta a pedi ajuda Gohin, o Panda, para que o treine a controlar os seus instintos predatórios. Este concorda e torna-o o seu aprendiz, mas Legosi acaba por se focar tanto nos treinos e na resolução do assassinato de Tem, afastando-se de Haru, que o confronta com esta situação quando muito raramente conseguem falar.

Isto é um tema recorrente neste temporada, a transferência da relação entre Legosi e Haru pra segundo plano, focando-se mais na auto-descoberta de Legosi, na sua relação com Louis e na resolução do assassinato de Tem.

Por um lado é compreensível, uma temporada de 12 episódios não se consegue focar em todo os arcos da história, por outro fiquei um pouco triste de uma personagem tão relevante e marcante como Haru ter passado de personagem principal a personagem que raramente vemos e que apenas serve como motivação interna para as escolhas de Legosi. Espero que nas próximas temporadas voltemos a ter Haru no seu máximo esplendor e a compartilhar o papel de personagem principal com o Legosi e o Louis.

Mas continuando com a história, todo o ambiente de desconfiança na Escola atinge o seu cúmulo quando Tao, a pantera negra, acidentalmente arranca um braço a Kibi durante uma treino no grupo de teatro e a escola (aparentemente a única escola que ainda permite herbívoros e carnívoros estudarem juntos) decide separar as turmas por herbívoros e carnívoros e acabar com os grupos (como o de teatro), que têm animais de ambos os lados juntos.

Este pequeno arco, apesar de parecer irrelevante traz-nos algumas das mensagens mais poderosas da temporada, mostrando como discriminatória a sociedade é e como cria uma cultura de rivalidade e medo em vez de tentar criar um ambiente de aceitação e convivência. Apesar disso, também mostra que os membros da escola, que já estão habituados a conviver uns com os outros, não se deixam levar por esta ideologia discriminatória e rapidamente se organizam para combater esta ordem da Academia.

Pequenos momentos como o grupo de teatro a se unir para quebrar e combater as regras impostas pela escola de separatismo; vários herbívoros e carnívoros da escola a saírem em conjunto para demonstrar à sociedade como está errada; e o momento muito emotivo de Tao a ir visitar Kibi ao hospital, com o último a demonstrar completa empatia com a Pantera, a perdoá-lo e a dizer que também percebe a sua dor (referindo-se à auto-culpa que a sociedade impõe nos carnívoros por causa do mais pequeno erro que cometam) são das razões porque esta série é tem uma comunidade tão apaixonada.

Todo estes momentos postos em conjunto com a história de Rizz, o urso que por esta altura Legosi descobre que foi quem matou Tem, que desde criança é forçado a tomar comprimidos para diminuir o seu crescimento e força (porque sendo um urso é demasiado alto e forte, segundo as normas sociais daquele universo) que lhe dão pesadelos e dores de cabeça constantes, são o paralelismo perfeito para a discriminação e a sua racionalização ilógica e populista que temos no nosso mundo também.

Ao descobrir a história de Rizz, e de como este não matou Tem por maldade mas sim por causa de vários problema emocionais que a sociedade se recusa a ajudar, Legosi e Pina (um novo personagem que é escolhido para substituir Louis no grupo de teatro) tentam resolver este problema sem chamar a polícia, mas isto acaba em Pina a ser raptado e Legosi a combinar uma luta com Rizz na noite de ano novo.

Assim, depois de todo o treino com Gohin, Legosi tem uma última coisa a fazer: pedir a Louis para estar presente na sua luta contra Rizz. Esta temporada desenvolveu ainda mais a complexa relação ente Louis e Legosi e este último continua a ver Louis como uma inspiração e alguém que o ajudou a ver a sua própria força (enquanto Louis sente o mesmo relativamente a Legosi). Ele preferia que Louis estivesse presente na luta para se sentir mais suportado e para, caso morresse, Louis pudesse usar o ser charme, inteligência e influência para resolver o problema que Legosi não conseguiu.

Louis ao início recusa-se a fazê-lo, neste momento ele está focado em liderar os Shishigumi e não pode simplesmente ir ajudar Legosi depois de todos os problemas que este causou no Mercado de carne durante o seu treino. Mas, depois de uma última visita de Legosi, Louis apercebe-se que está a forçar a sua presença no Mercado de Carne por causa dos seus traumas passados e decide deixar a máfia.

Apercebendo-se disto, e num momento num emotivo, Ibuki (o leão que tem protegido e apoiado Louis durante a sua estadia no Mercado de Carne, e por quem Louis desenvolveu uma amizade forte ao ponto de Ibuki perceber que Louis merece mais ficar preso no Mercado de Carne o resto da vida) força-se a atacar Louis como se o fosse tentar comer, obrigando um dos seus companheiros leões a matá-lo, dando a Louis a desculpa perfeita para deixar os Shishigumi, sem estragar a sua imagem e sem ser posteriormente perseguido e morto.

Louis consegue chegar a tempo à luta de Legosi contra Rizz, durante a qual Legosi tentar fazer Rizz perceber que a sua visão das relações entre herbívoros e carnívoros está errada, salvando Legosi de ser morto.

Depois de uma conversa entre ambos e de se aperceber que Legosi está tão mal fisicamente que não iria conseguir derrotar Rizz e iria ser morto, temos o momento de maior impacto de toda a temporada, Louis diz a Legosi para comer a sua perna, para lhe dar mais força para derrotar Rizz. Este momento serve como o culminar de todos os arcos desta temporada.

Legosi finalmente consegue aceitar que é um carnívoro mas que isso não significa que vai perder sempre o controlo cada vez que cheirar carne, pois ele consegue comer a perna de Legosi sem o matar e devorar por inteiro. Louis mostra a confiança que até agora tinha escondido ter para com Legosi, confiando que este não o vai devorar, e finalmente lida e vê-se livre do seu trauma do passado, com Legosi a comer a perna onde este tem uma tatuagem que servia como lembrete, durante toda a sua vida, que Louis era considerado apenas mais um naco de carne pelo mundo e que podia ser devorado a qualquer altura.

Depois disto é bastante simples, Legosi ganha força para lutar com Rizz mas ao aperceber-se da ligação que Legosi e Louis têm um com o outro, e que esta é a verdadeira ligação entre um carnívoro e herbívoro, desiste da luta e diz que Legosi ganhou, deixando-se prender pela polícia que tinha sido chamada por Pina.

Numa última cena, temos Legosi a falar com Haru sobre a sua relação e sobre os planos futuros e Legosi diz que vai desistir da escola para explorar o mundo e Haru, meio a brincar meio a sério, diz que devia arranjar um novo namorado com quem esta não tem de se estar constantemente a preocupar.

Concluindo, a segundo temporada de Beastarsesteve ao nível da primeira e entregou o que os fãs estavam à espera. Um comentário social e desenvolvimento dos personagens, concluindo alguns dos arcos que começaram na primeira temporada.

Ainda melhor que isso, para fãs do manga, foram notórios detalhes já a preparar a história e o vilão para as próximas temporadas, que vai trazer uma revolução e novos problemas para resolver nunca antes vistos em Beastars.

Alguns arcos acabaram por não se resolver, como quem é que será nomeado Beastar? Ou como é que os alunos da Academia de Cherryton vão conseguir contrariar as regras impostas pela direção? E algumas personagens como Haru e Juno deveriam ter tido muito mais tempo de ecrã do que o que tiveram, mas tudo isto pode ser resolvido nas próximas temporadas.

Com ainda muita história para contar, mal posso esperar pelo anúncio da terceira temporada e para voltar ver estes personagens por quem me apaixonei, que têm tanto de estranho como de relacionável. Vivamente recomendo qualquer pessoa que esteja interessada em ver uma história de comentário social ao estilo de Zootopia, mas com temas e histórias muito mais sérias e obscuras, para verem Beastars e quem sabe apaixonarem-se por este estranho universo.