Hoje, nas “Histórias do Lacerda”, damos espaço a duas das minhas coisas favoritas: literatura epistolar e azedume. O que vão ler em baixo é a primeira de uma série de cartas, de remetente desconhecido, que tenciono partilhar convosco. Chamei-lhes “As Novas Cartas Portuguesas (da Sacanice)”, não porque sejam remotamente parecidas com as verdadeiras “Novas Cartas Portuguesas”, mas para que, mesmo só lendo o título, percebam que estamos perante um ser desagradável e pouco respeitador do sagrado. Apreciem:
Excelso,
Tenho por si um certo apreço.
Aliás, a estima que tenho por si é tanta que a posso quantificar: tenho por si o mesmo apreço que tenho por uma fila para entrar na Primark.
Entre ter sujeitos sem máscara a derramar sobre mim, de forma sôfrega, os untuosos vapores da sua respiração suburbana ou passar tempo com a sua “pessoa”, prefiro o martírio sem nome que é privar consigo.
Se ao ler isto, sem dúvida com o auxílio de um Border Collie particularmente inteligente, sentiu o seu peito a encher-se de orgulho, é normal. A ironia, tal como viver a vida sem os hábitos, tiques e trejeitos de um orangotango drogado, nunca foi o seu forte.
Oiço dizer que não raras vezes os seus dias são pontuados com pessoas a desejar-lhe, com vigor e entusiasmo, uma viagem para bem perto do produto interno bruto dos seus intestinos.
Magoa-me sabê-lo. Se é para o mandarem à merda ao menos que o façam como a sua progenitora o fez: negligenciando todos os atos que poderiam fazer de si um ser humano decente.
Soube, por uma alma infeliz que afirma conhecê-lo bem, que a amizade é algo que valoriza. Fico feliz em sabê-lo. Assim tenho outro gosto em ignorar todas as suas tentativas de aproximação.
A minha missiva já vai longa e o seu propósito era só um: assinalar o seu aniversário. Espero que este dia seja, para si, tão bom como comer um caju frito em óleo de fígado de bacalhau.
Despeço-me com pena de (legalmente) me poder chamar de,
Avô
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