A obra de Tatsuki Fujimoto, publicada entre 3 de dezembro de 2018 e 14 de dezembro de 2020, é nada mais que uma obra-prima sem medo de tabus. Chainsaw Man explora um mundo de perigos surrealistas e medos personificados, utilizando violência extrema, crueldade fria e trauma como veículos de exploração emocional. Com personagens extremamente complexas e intrinsecamente humanas, Fujimoto conta uma história sobre o medo e a procura da humanidade, num mundo que continuamente desumaniza tudo e todos.
Num mundo, antes do virar do milénio, onde diabos nascem a partir de medos humanos, perigo e morte são fatores constantes da vida. Estes diabos, por vezes, criam contratos com os humanos – dando-lhes parte dos seus poderes em troca de algo. Apesar desta troca ser raramente benéfica para os seres humanos, Devil Hunters utilizam certos diabos para proteger a população da destruição vinda do inferno.
Com uma adaptação em anime espetacular, e a continuação a ganhar força, esta é a altura certa para entrar no mundo de Chainsaw Man! Não te deixes assustar pela quantidade de capítulos. A Parte 1 tem apenas 97 capítulos – todos cativantes e fáceis de ler. Se esta for uma história para ti, acredita que a vais devorar tão rápido como um diabo devora um humano!
Apresento-te Chainsaw Man!
Chainsaw Man segue Denji, um rapaz a quem o mundo falhou. Denji está preso na pobreza, numa constante luta pela sobrevivência, enquanto tenta pagar a dívida do seu falecido pai aos yakuza. A única forma de pagar a sua dívida, e conseguir manter-se vivo, é vender partes do seu corpo e trabalhar como um Devil Hunter com o seu único amigo e cão de estimação, Pochita – o Chainsaw Devil. Mas, quando Denji é traído pelos yakuza, numa luta contra o Zombie Devil, Pochita cria um contrato com Denji.
Pochita toma o lugar do coração de Denji e, em troca, Denji tem que continuar a viver e mostrar a Pochita que consegue alcançar o seu sonho: ter uma vida normal. Assim nasce o Chainsaw Man – um híbrido entre um humano e um diabo.
Rapidamente, Denji é novamente colocado entre a espada e a parede, quando Makima, um dos líderes do departamento de Segurança Pública, chega ao local. Makima, uma Devil Hunter, faz um ultimato a Denji: ou ele se junta a ela, em troca de uma boa vida – como um humano e um Devil Hunter – ou morre ali – como um diabo. Denji aceita, deixando-se ir pelo pouco afeto e contacto humano que lhe é demonstrado, acreditando que este é o melhor caminho para alcançar o seu sonho.
Lentamente, Denji aprende o que significa ter uma vida normal, numa viagem para descobrir o que uma vida humana realmente significa. Começando como um jovem imaturo que sonha com abrigo, comida e mulheres, Denji descobre a importância de ligação pessoal, amor e viver uma vida completa – tudo enquanto luta contra inimigos que procuram roubar-lhe Pochita, e tudo aquilo que ele quer na vida.
Denji representa a procura de identidade pessoal num mundo repleto de perigos e medos. A sua luta constante contra traumas passados e a procura da felicidade, face um mundo que parece querer roubar-lhe tudo aquilo ama, representa o caminho de muitos – especialmente no mundo atual, onde a adversidade, por vezes, parece infindável. Em Denji podemos ver a luta contra o medo – contra o medo da solidão, ou o medo da irrealização pessoal – medos intrinsecamente humanos.
De um ponto de vista mais amplo, Chainsaw Man utiliza Denji para explorar o impacto da nossa sociedade atual na mente de uma pessoa, através de medos modernos, como escravatura financeira, alienação social, opressão capitalista e a falta de contacto pessoal. Tudo isto através do surrealismo do horror apocalíptico e a exploração de temas alinhados com o absurdismo.
Mas, para além do comentário social que apresenta, a obra de Fujimoto é definitivamente uma obra-prima da ficção, com a potencial para marcar toda uma geração e redefinir o género em que se inclui. Fujimoto criou uma peça de literatura onde a escrita, storytelling e design, não só são utilizados com mestria, mas se elevam uns aos outros, unindo-se em harmonia. Chainsaw Man desafia conceitos e convenções da banda-desenhada, ocidental e oriental, incorporando elementos de ambos com as suas respetivas influências culturais e de ficção.
Com o lançamento da adaptação em anime, o mundo mainstream está agora a descobrir o trabalho de Fujimoto. Se já viste a anime – então tudo o que disse até agora não é novidade para ti. Por isso, se quiseres saltar para a manga e continuar onde terminaste, recomendo começar pelo Capítulo 40: Love, Flower, Chainsaw. Aqui começa uma nova arc, onde uma personagem favorita da comunidade fãs é introduzida!
Contudo, a minha melhor recomendação é começar pelo início – mesmo que já tenhas visto a anime. Apesar da adaptação ter sido absolutamente incrível e impecável, não deixa de ser uma adaptação para um media diferente. Por isso, se queres experienciar a viagem toda pela mão do autor, ou se nunca contactas-te com Chainsaw Man antes disto, então começa pelo início. Prometo que não te vais arrepender.
Redes Sociais