“Naturezas Mortas”, com argumento de Zidrou e arte de Oriol, é uma novela gráfica que funde a sensibilidade estética da pintura modernista catalã com uma narrativa densa e intrigante, oferecendo uma experiência visual e literária de grande profundidade. Publicada em co-edição pela Arte de Autor e A Seita, esta obra transporta o leitor para a Barcelona do final do século XIX, mergulhando-o num universo de arte, mistério e paixão.
A história centra-se em Vidal Balaguer i Carbonell, um pintor prodigioso nascido em Barcelona em 1873. Embora considerado uma promessa do modernismo catalão, Balaguer foi uma figura controversa e incompreendida. Frequentador assíduo do cabaret boémio Els Quatre Gats, ele conviveu com artistas como Joaquim Mir e foi membro do influente grupo La Colla del Safrà, conhecido pelo seu papel na promoção da arte catalã. Apesar das suas contribuições artísticas, Balaguer nunca alcançou o reconhecimento que merecia, o que apenas amplificou o seu mistério, culminando no seu desaparecimento inexplicável.
A narrativa de “Naturezas Mortas” começa com um foco sobre Mar, uma musa jovem e sedutora que inspirou inúmeros artistas. No entanto, é Balaguer quem se torna obcecado por ela, até ao dia em que Mar desaparece de forma misteriosa. A sua ausência assombra o pintor, especialmente porque foi ele quem produziu o último retrato da jovem, a célebre tela La mujer del mantón. À medida que a polícia começa a investigar, a sombra da suspeita recai sobre Balaguer, não só pela possível ligação ao desaparecimento de Mar, mas também pelo envolvimento noutras desaparecimentos misteriosos que abalam a cidade.
A trama tece-se entre vários géneros: é, simultaneamente, um romance policial, uma biografia ficcional, uma exploração do mundo da arte e uma fábula poética. O enredo desenvolvido por Zidrou cruza habilmente a Terceira e a Nona Arte, criando uma obra que tanto é um tributo à pintura como uma peça de narrativa gráfica inovadora. A rica tapeçaria visual, tecida por Oriol, remete-nos para os estilos dos pintores modernistas, enquanto as cores vibrantes e expressivas intensificam a atmosfera melancólica e enigmática da história.
Zidrou, nascido como Benoît Drousie, é um dos mais respeitados argumentistas da banda desenhada franco-belga. Com uma carreira prolífica, destacou-se por criações como “A Fera” (com Frank Pé) e pela popular série “Élève Ducobu”. No entanto, é na sua obra mais autoral que Zidrou brilha com histórias como “Verões Felizes”, “Lydie”, “Emma G. Wildford” e, claro, “Naturezas Mortas”. Estas obras, já publicadas em Portugal, são marcadas por uma sensibilidade única que mistura introspeção com uma narrativa envolvente e emocional.
Oriol, por seu lado, é um dos mais promissores autores espanhóis da atualidade. Formado na Escola Joso de Barcelona, iniciou a sua carreira na animação, participando em projetos como “Donkey Xote” e “Nocturna”. Contudo, foi na banda desenhada que encontrou a sua verdadeira voz artística, especialmente através da colaboração com Zidrou. Juntos, criaram obras como “La Peau de l’Ours” e “As 3 Frutas”, sendo “Naturezas Mortas” uma das suas parcerias mais ambiciosas.
Esta edição de “Naturezas Mortas”, com um total de 80 páginas, destaca-se não só pela qualidade narrativa e visual, mas também pelos extras inéditos incluídos na edição portuguesa, que conta com um caderno de 30 páginas dedicado à recriação da pintura de Vidal Balaguer. Este pormenor faz desta edição uma verdadeira peça de colecionador, única entre as edições internacionais deste título.
Com capa dura, impressa em cores vibrantes e num formato generoso de 21 x 28,5 cm, esta edição é uma verdadeira homenagem ao talento dos seus criadores e uma celebração da arte e da narrativa gráfica. Ao preço de 23€, é uma obra indispensável para fãs de banda desenhada, amantes da arte modernista e colecionadores que procuram uma experiência estética e narrativa diferente.
“Naturezas Mortas” não é apenas uma história. É uma imersão na cultura e na arte, onde o mistério e a beleza se entrelaçam para criar uma das novelas gráficas mais marcantes dos últimos tempos.
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