O Mercado Pardal: Um Evento de Artistas para Todos
Publicado a 16 Jun, 2023

Nos dias 9 e 10 de Junho ocorreu uma nova edição do Mercado Pardal, novamente no Shopping Brasília, na Boavista. Este evento pequeno é organizado por artistas portugueses, já desde 2021, com uma nova edição em cerca de dois em dois meses. Desta vez, na 12ª Edição, o Café Mais Geek visitou o Mercado Pardal para falar com a organização e os artistas sobre o evento, o seu crescimento, e a comunidade que se formou em sua volta.

A Impressão de um Cliente Frequente

Cada iteração do Mercado Pardal celebra o talento dos artistas portugueses num espaço íntimo, oferecendo a oportunidade ao público de conhecer não só a arte mas também o artista. Assim, não é nenhuma surpresa que, envolta do Mercado Pardal, tenha surgido toda uma comunidade inclusiva e calorosa de artistas, clientes e interessados pela arte e cultura pop.

Ao entrar no espaço do Mercado, que ocupa pequenas secções de dois andares do Shopping Brasília, o público depara-se com várias bancas de artistas, com diferentes peças da sua autoria (desenhos, stickers, brincos e diversos acessórios) à venda. Muitas vezes, estas peças são influenciadas por séries, animes e jogos, mas a individualidade e originalidade do artista está sempre presente – seja no seu estilo próprio, seja nas peças originais que criam.

Cultura pop é um elemento fulcral do Mercado Pardal, mas não está reduzido à arte exposta. Na nossa visita ao Mercado, encontraram-se clientes e artistas em cosplay, a interagir e a trocar histórias e paixões em comum. Está aqui a primeira grande diferença entre o Mercado Pardal e os Artist Alleys de outros eventos: o elemento pessoal.

Enquanto que num Iberanime ou numa Comic-Con, os artistas estão quase colocados de parte, aqui eles são os protagonistas. Enquanto um Artist Alley é apenas um corredor onde o público passa, compra, e segue em frente, no Mercado Pardal há tempo e espaço para as pessoas interagirem umas com as outras. Em conversa com os artistas, viu-se que a relação artista-público não só era diferente como essencial para o Mercado.

Em Conversa com a Organização do Mercado Pardal:

O Café Mais Geek falou com dois membros da organização do Mercado Pardal, Saskia Freitas (grapejoonies) e Inês Guedes (inesguedes_art), sobre como o Mercado surgiu.

Como e porquê é que o Mercado Pardal surgiu?

S: O Mercado Pardal surgiu por termos reparado numa falta em mercados deste estilo, porque há muitos mercados pelo Porto, mas não especificamente para o anime ou a ilustração que nós preferimos como organização. Aceitamos de tudo, toda a arte – temos os regulamentos no nosso instagram, o que nós aceitamos e os critérios – mas há um foco especial na na ilustração de anime, e de pop culture (…). Vemos que há muito mais mercados ligados às belas artes e achámos interessante haver um mercado deste estilo (…) all year around. Um Iberanime anual, mas só o Artist Alley.

Um dia gostaríamos de crescer, mas foi mais essa procura de algo que não fosse só anual, que fosse constante para ajudar artistas e a comunidade artista. O nosso interesse mesmo é os artistas chegarem, que lhes corra bem do início ao fim, e ajudar a comunidade artística.

I: Estávamos em contexto de recuperação, depois da pandemia. Estavam várias áreas a começar a voltar a aparecer, porque estávamos todos fechados em casa. Muitas áreas foram afetadas, a cultura nem se fala, claramente foi muito afetada. Começaram a voltar várias áreas, mas não os mercados de arte, e nós começamos a discutir esta ideia de “era tão bom haver mais mercados, era tão bom que voltassem”, e os outros [mercados] não voltavam. Então pensamos “porque não fazer um?”

Juntamo-nos, a ideia começou a borbulhar e, de repente, demos por nós a começar a delinear e a fazer medidas para poder levar o projeto para a frente. Tínhamos um boa equipa, tínhamos pessoal em diferentes áreas, que foi muito importante. Somos todas de áreas diferentes, com especialidades muito distintas e complementares, então acabou por resultar muito bem.

E nesse sentido, vocês têm conseguido alcançar esse objetivo?

S: Eu gosto de acreditar que sim. Do feedback que temos recebido, tem corrido bem. Temos conseguido expandir em cada edição. Temos mesas novas, artistas novos – começamos com por volta de 40 artistas, já somos 70. Num ano e meio acho que é ótimo. Em cada edição tentamos comprar- uma mesa extra para podermos aceitar dois artistas novos.

Sim, nós temos recebido feedback muito bom. Nós mesmos somos artistas no nosso mercado, por isso temos essa experiência, e tem corrido cada vez melhor. Temos gente que vem de muito longe; temos artistas que vêm do Algarve, de Lisboa. (…) É fantástico mesmo. Metade desta gente viaja de muito longe, e, portanto, vale a pena. É uma comunidade e uma ambiente fantástico – e temos ouvido muito bom feedback.

I: Não vemos coisas como um objetivo finito. Há sempre um improvement constante, estar sempre a tentar melhorar. Recebemos feedback, adoramos também esta parte da personalização e da proximidade. Permite-nos receber constantemente opiniões das pessoas que, às vezes, nem precisam de vir por mensagem! Podem só vir ter connosco no Mercado e dizer “olhem, reparei nisto” ou “olhem, reparei naquilo” e sentir que se tem essa proximidade.

Sentir que as pessoas ativamente querem chegar à beira de uma pessoa e dizer “eu gosto disto e sei de uma forma de fazerem ainda melhor”, é brutal. É fundamental. Porque estas coisas fazem-se em comunidade, com partilha. Não é com pessoas a definir tudo sozinhas e sem ouvir feedback. É importante haver essa abertura ao feedback, e acho que é das melhores coisas que temos.

Como dirias que o Mercado Pardal se distingue de outros eventos maiores?

S: O que distingue é ser organizado por pessoas que sabem o que é ser artista. Somos todos artistas, somos todos queer – isto é uma comunidade muito queer. E acho importante nós sermos pessoas que passaram por essa experiência e conseguirmos melhorá-la para os nossos colegas, nesta área.

Somos todos artistas. Sabemos que o Iber não quer saber de artistas, que os valores são absolutamente ridículos. Eu acho que o nosso valor mais caro é 20€, por dois dias, numa mesa individual; o mais baixo, para uma mesa partilhada, 5-7€ – que facilmente se recupera com o público que nós temos. Então acho que se destaca isso – uma preocupação por quem vai vender.

I: Eu acho que, quando somos um evento mais pequeno e local acaba por ser possível alguma personalização, e um contacto muito mais direto com as pessoas que estão a participar. Principalmente nós [a organização] com os artistas.

Temos o processo de comunicar com eles nas redes sociais e conhecer as pessoas, mesmo quando estamos aqui [no Mercado] – a nível de comunicar com eles – tudo isso é possível, e é algo que em mercados maiores, devido à dimensão e ao nível do que é exigido, nem sempre é possível. Por exemplo, temos o prazer de conversar constantemente com os artistas; não é algo que organizamos, chegamos cá e cada um faz o que tem que fazer. Não. Nós aqui podemos ir lá falar com eles, e eles podem vir falar connosco, e sinto que isso é uma coisa super possível e fantástico nos eventos pequenos, que nos eventos grandes não costuma acontecer.

Como é que achas que é a vossa relação com o cliente? Como é que vocês se relacionam com eles?

S: Pelo que já me disseram dos clientes, eles adoram. Voltando a comparar [com o Iberanime] porque é algo muito comparado com o nosso evento – apesar do nosso evento ser a uma escala muito menor -, uma coisa que comparam bastante é o facto do Iber ser muito movimentado, de não haver muito espaço entre as mesas, então o cliente não consegue ter aquela relação mais próxima com a pessoa a quem está a comprar.

Aqui, como é uma coisa muito mais calma, eles podem falar. Eu aqui tenho pessoas que falam comigo durante horas, vão dar uma volta, voltam a aparecer… E acho que ajuda ser um ambiente mais calmo, um ambiente maior, em que as pessoas se podem sentar e daqui a pouco voltam para falar com o artista. Acho que é isso. É uma ambiente muito mais pessoal e muito mais acolhedor.

Escrito por:
João Araújo
Sou um escritor com uma paixão por storytelling, que adora tudo o que é fantasia e ficção-científica! Adoro TTRPGs e sou GM há mais de 6 anos. Acredito que uma boa história consegue mudar o mundo, e quero ouvir a tua.