The White Lotus – O Caos Antes da Tempestade
Publicado a 01 Fev, 2023

The White Lotus é uma série satírica da HBO que se foca num grupo de turistas e nos funcionários de um resort com o mesmo nome.

Poderia descrever esta série como “tecido de drama, costuras de comédia (muitas vezes negra)”, mas deixem-me dar um passo atrás e tecer melhor esta tapeçaria. A areia é branca, a água cristalina, o hotel meticulosamente tratado, o staff recebe-nos de braços abertos nestas nossas maravilhosas férias no Havai. Mas um pequeno pormenor. Antes das férias chegarem ao fim, uma pessoa vai morrer. O ambiente está pintado, a tensão foi criada. É assim que começa The White Lotus.

Rapidamente é nos apresentado o Shane (Jake Lacy), convencido filho de pais ricos em lua-de-mel com a sua noiva, Rachel (Alexandra Daddario), uma jornalista de artigos clickbait; a Nicole (Connie Britton), uma mulher de sucesso no mundo da tecnologia e casada com Mark (Steve Zahn), que tem os testículos inchados; o jovem Quinn (Fred Hechinger), filho de Nicole e Mark, que talvez aproveite as férias se conseguir pousar o telemóvel; a Olivia (Sydney Sweeney), irmã do Quinn, que raramente o trata bem; a Paula (Brittany O’Grady), amiga de universidade da Olivia, que não tem grandes posses, mas foi à boleia da amiga rica; a Tanya (Jennifer Coolidge), uma mulher que procura encontrar paz interior enquanto faz luto pela mãe; a Belinda (Natasha Rothwell), a administradora do spa; e o Armond (Murray Bartlett), o administrador do hotel, que não tolera nada menos que perfeição, mas que tem que lidar com as suas próprias tentações.

Uma coisa é certa: são umas férias que ninguém irá esquecer.

O que achei mais curioso e estranho foi a forma como, à medida que as personagens e as suas pequenas atribulações nos são introduzidas, aquele pequeno fantasma vai e vem. É fácil esquecê-lo, nesta ilha paradisíaca, mas ele vai espreitando para nos lembrar que nem tudo são rosas e para nos fazer questionar quem voltará para casa na posição horizontal.

Se fiz isto soar muito a drama criminoso, não é. Não há um puzzle a resolver e pistas para encontrar. Tem alguma tensão, por vezes, mas o foco cai nas personagens, todas elas cativantes e compreensíveis. Não quero dizer “relacionáveis”, porque algumas são um pouco extremas.

A produção é fantástica e o talento é talentoso. O tema principal e mais recorrente, que é o do comportamento de quem tem dinheiro e poder, especialmente face a quem o não tem, é-nos apresentado de vários pontos de vista diferentes. Algumas personagens fizeram-me sentir mais que outras, fosse compaixão ou vontade de lhes deixar um presente na mala de viagem, mas não houve uma prestação que se destacasse pela positiva ou negativa. Eram todas boas.

É perfeito para pipocas ou gelado em frente à lareira ou debaixo de uma manta, apesar do ritmo lento poder induzir sono. Se visto em companhia, aconselho irem fazendo apostas. É capaz de tornar a coisa mais interessante.

A primeira temporada tem 6 episódios de aproximadamente 1 hora e a segunda já está disponível, com uma terceira a caminho.

Escrito por:
Pedro Cruz
"Spawned" em Aveiro no fim do início da década de 90, apreciador de amostras de imaginação e criatividade, artesão de coisas, mestre da fina e ancestral arte da procrastinação e... por hoje já chega. Acabo isto amanhã...