Vikings – Uma jornada pela série
Publicado a 30 Jan, 2021

A segunda e última parte da sexta e última temporada de Vikings trouxe-nos a última fornada desta série do canal História e não há nada como um bom final para nos fazer voltar às origens.

Pois é, muito sinsériemente, quando vi Vikings pela primeira vez em 2013, um pequeno ícone escuro com o canal História associado, não pensei uma segunda vez sobre o assunto. Já tinha visto vários documentários do canal e mesmo o mais interessantes tinham qualidade abaixo dos meus padrões. Quero dizer, se é do canal História, tem que ser um daqueles documentários com narrativa sobre-dramática, escrita desenhada para nos obrigar a voltar depois do intervalo, recapitulações a cada 10 minutos, guarda-roupa da loja dos 300 e efeitos especiais à la Windows 95, certo? Bem, pelos vistos não.

Acabei por decidir ver um episódio, por duas razões. Primeiro, porque estava curioso sobre o porquê de haver uma série do História no mesmo saco que continha séries como House (que tinha terminado no ano anterior), The Big Bang Theory e mesmo Game of Thrones. Segundo, porque estava aborrecido e não tinha mais nada para ver.

O primeiro episódio mudou logo a minha opinião. É verdade que, principalmente nos primeiros episódios, há um forte cheiro a exposição e montes de cenas cujo o único propósito é dizer “era assim que eles faziam”. Isso não é necessariamente mau, é apenas tão óbvio que meio que tira da imersão criada pelo visual incrível (para uma série do História). No entanto, ultrapassado esse aroma inicial, o sentimento que ficou foi “bem, este foi o documentário do História mais cativante que já vi”.

Não tem narrador, para começar. Em vez disso, o que tem são personagens humanas e interessantes. Ao mesmo tempo que nos é apresentado este povo bárbaro, também nos é apresentado Ragnar (Travis Fimmel), um homem que acha que lutas entre vikings são coisa do passado e que o futuro está na exploração de outras terras. Afinal, porquê lutarem por terreno entre si quando pode haver um mundo inteiro à espera de ser conquistado.

Essa é a fagulha que leva ao grande incêndio que se alastra por seis temporadas, um fogo que leva Ragnar e companhia a lutarem por conquistar não só terra, mas também um lugar na História e no História.

É certo que a série não é perfeita. Há partes menos entusiasmantes, mas prendem-se principalmente com o aproveitamento do tempo. Por outras palavras, há ocasiões em que sentimos algum enchimento de chouriças. Dito isso, para ser justo, não sei exatamente qual o nível de precisão histórica desta série, mas assumindo que é elevado, diria que foi feito um trabalho extraordinário tanto na dramatização de vários momentos importantes, como na exploração de vários aspetos das vidas dos vikings.

O choque entre culturas e religiões é possivelmente a melhor parte, mas há também cenas de pancadaria, aventura, intriga e suspense que nunca deixam de nos lembrar: Estes tipos eram malucos, mas não eram assim tão diferentes de nós. Outro aspeto bastante interessante é o facto de, apesar de serem extremamente violentos, ao ponto de ainda hoje “viking” ser sinónimo de “bruto”, a sua sociedade era mais avançada que a nossa em questões de igualdade social, se ignorarmos o facto de haver escravidão, claro.

Ao longo das várias temporadas, vemos um notável crescimento a nível de produção, claramente impulsionado pelo sucesso da série, e nota-se cada vez menos aqueles momentos de “documentarice” forçada. Eventualmente, Vikings acaba por transcender a aventura de Ragnar e acaba por englobar também a saga dos seus filhos, levando-nos aos quatro cantos do globo.

Por fim, não podia deixar de dar algum destaque às personagens. São fantásticas. De Alfred (Ferdia Walsh-Peelo) a Ubbe (Jordan Patrick Smith), a maioria das personagens mostra-se única, relacionável e memorável, de tal forma que só queremos que se entendam e vivam felizes.

Entrando um pouco mais em detalhe, temos por exemplo Athelstan (George Blagden), um monge cristão que se vê sozinho numa terra de pagãos e embarca numa aventura para se tornar o favorito dos fãs. Há também Lagertha (Katheryn Winnick), mulher de Ragnar e famosa guerreira, muitas vezes fonte de estabilidade para o marido. Outro que merece destaque seria Ivar (Alex Høgh), nascido com uma doença que faz com que parta os ossos facilmente, mas que não deixa que isso o impeça de se tornar um dos mais temíveis vikings.

Não haja dúvida que o que leva a série para a frente é a grande variedade de personagens relacionáveis com histórias ricas e cativantes. Não é possível ver esta série sem em algum momento pensar “bem, a esta hora, esta pessoa já terá ido para Valhalla” e, infelizmente, a realidade raramente dá finais felizes e majestosos, mas mesmo aquelas que consideraríamos vilões, acabam por deixar um vazio quando partem. Outro facto importante sobre a realidade é que frequentemente é imprevisível, e isso reflete-se na série, que muitas vezes toma rumos inesperados.

Para quem é esta série criada e escrita por Michael Hirst? Bem, qualquer fã de História deverá gostar, nem que seja para apontar as imprecisões. De resto, é como um mini Games of Thrones, mas baseado na realidade e com um final decente.

Vikings pode ser encontrada no TVCine e no Prime Video.

Escrito por:
Pedro Cruz
"Spawned" em Aveiro no fim do início da década de 90, apreciador de amostras de imaginação e criatividade, artesão de coisas, mestre da fina e ancestral arte da procrastinação e... por hoje já chega. Acabo isto amanhã...