Ms. Marvel foi uma das maiores surpresas dos últimos anos no que toca à banda desenhada de super-heróis. Já há muito que não lia um conjunto de livros que tão bem ligasse o desenvolvimento dos poderes com questões sociais e inadvertidamente pessoais do herói e esta foi uma prova que ainda há espaço para novas ideias. O mais interessante é que esta é uma boa obra em todos os seus componentes, havendo apenas algumas ideias menos interessantes durante o terceiro volume. Aliás, julgo que é mesmo nesse livro onde se encontra as maiores alterações artísticas.
Agora chegamos ao final, e a Marvel levou a ideia de final mesmo à letra, com uma história que tanto é divertida como séria, carregada de ideias e momentos bem desenvolvidos. É um final épico para um arranque épico e isso é o que mais surpreende em toda esta leitura pois a forma como se conseguiu manter uma consistência artística e literária não é algo que se possa afirmar em todas as histórias de super-heróis. Mesmo com algumas ideias menos interessantes ao longo do percurso, a jornada foi bem estruturada e funcionou perfeitamente.
Este quarto volume vem colocar o ponto final aos momentos do livro anterior, com os últimos do arco a conseguir concluir de forma exemplar aquilo que tinha vindo a ser construído. Todas as personagens têm o seu momento e apesar de em alguns pontos dar uma ideia de que tudo parece tão fácil, vemos que a nossa protagonista apenas procura colocar os pontos finais nas suas confrontações pessoais e sociais. Ao longo deste livro, Kamala tem oportunidade de se juntar lado a lado com Captain Marvel e isso por si é já extremamente interessante, mas a forma como estas desenvolvem uma relação perante uma catástrofe global, mostrando que por vezes o trabalho mais minúsculo pode ser o mais importante para os últimos momentos.
Esta é uma história de desenvolvimento pessoal de várias personagens e onde a ignorância sobre o que está prestes a acontecer é demonstrada de formas totalmente distintas. É uma história com momentos fortes e que levarão o leitor por uma belíssima jornada, mas por favor, comecem pelo primeiro volume e terão acesso a uma viagem mais que completa.
O nome de Adrian Alphona pode ser desconhecido para muitos de vocês, mas para quem acompanha a Marvel já há alguns anos pode encaixar este nome ao desenvolvimento de Runaways. Esta história do início dos anos 2000 ficou bem famosa no universo da Marvel e já teve direito a uma adaptação para televisão e ainda algumas presenças nos videojogos. Foi aqui que o nome de Adrian foi catapultado e graças aos prémios ganhos e nomeados durante vários anos por Runaways, o artista acabou por ter acesso a outros mundos da Marvel e não só, chegando em 2013 para abraçar Ms. Marvel. Que belo trabalho que este senhor aqui desenvolveu, desde o traço fino onde as cores se conciliam tão bem entre os garridos dos personagens em destaque e o cenário que compõe todo o momento. São quadros muito interessantes e bem trabalhados, num formato que faz lembrar o desenho clássico. Quando olhamos para as últimas páginas do último capítulo onde toda a arte nos absorve para aquele momento, é de regalar os nossos olhos.
O quarto volume de Ms. Marvel é um final como só podia esperar desde o começo da leitura desta banda desenhada. Ideias muito bem desenvolvidas ao longo de quatro volumes e onde até o mais fraco é bom. Este último volume abriu caminho para um conjunto de grandes novidades no universo Marvel, mas esses ficam para outras aventuras, pois é muita leitura. Não podia terminar sem deixar nota para os capítulos de The Amazing Spider-Man que compõe também este livro, onde Kamala faz uma visita ao principal herói da editora. É um estilo gráfico bem diferente do resto do livro, com um formato mais próximo do digital e onde as linhas distintas da heroína nas páginas anteriores ainda se destacam mais. É um pequeno extra muito interessante onde novamente podemos ver Kamala a interagir noutros universos da Marvel.
São quatro volumes que valem muito a pena, por isso se não conheces podes ficar com a nota que estes são mesmo obrigatórios. Uma grande novidade da Marvel, que apesar de bem diferente e irreverente consegue convencer e tenho a certeza que mais trabalhos únicos destes darão muitos frutos numa modernização social da editora.
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