Em 2006, o ator Daniel Craig dava algumas dores de cabeça aos fãs que não ficaram nada agradados com a escolha para o papel do espião inglês mais famoso do mundo. O personagem de Ian Fleming, que sempre foi caracterizado por um tipo de homem, era agora totalmente diferente do padrão. Isto deixou muitos fãs bem desconfortáveis. No entanto, ao longo dos 15 anos e de 5 filmes, tudo foi mudando e Daniel Craig tornou-se num favorito dos fãs, pelo seu trabalho interessante e diferenciado. 007 Sem Tempo Para Morrer é o último filme de Daniel Craig, mas não o final de James Bond.
Sempre fui muito fã deste género de filmes. A enorme franquia de 007 é uma das minhas favoritas, mesmo com todas as questões que podem ser colocadas a cada um dos filmes. É uma saga em que cada filme demonstra bem o seu tempo de lançamento. Tem diversas situações que atualmente não são de todo aceitáveis pelos padrões da sociedade e muito bem. Contudo, é um produto do seu tempo e se olharmos para o seu lado de ação e espiões é uma narrativa interessante no seu todo.
Antes de avançar para a opinião mais específica, deixem-me também referir que está disponível um episódio do podcast T4KE onde falamos sobre este filme. Descobre mais no link abaixo ou nos habituais agregadores de podcasts.
Nunca um arco deste espião inglês no cinema esteve tão interligado como estes cinco filmes de Daniel Craig. A contínua história que começa em Casino Royale e culmina neste Sem Tempo Para Morrer, oferece uma experiência de qualidade. Apesar de nem todos os filmes serem os melhores, a junção dos cinco desenvolve este personagem como nunca tínhamos visto nos restantes 20 filmes.
Esse é sem dúvida um dos pontos mais fortes deste arco de James Bond. A ligação entre os vários filmes protagonizados por Craig tornam este final ainda mais interessante. O enredo que envolve o espião é melhor que o guião de Sem Tempo Para Morrer nos oferece. Infelizmente, não se pode dizer o mesmo quanto à história criada para o vilão. Apesar de conseguir ver algum potencial para o vilão, interpretado por Rami Malek, a forma como este foi escrita não foi a melhor e tornam tudo muito deslocado do resto do filme.
A construção do enredo é o menos positivo neste filme, com vários momentos que necessitavam de melhor explicação. Em alguns momentos, o espectador pode ficar mesmo a perguntar-se o que terá acontecido para este personagem estar em determinado sitio. Sem grande exposição, o que em parte pode ser um ponto positivo, transformou este filme num conjunto de ideias sem grande lógica.
Sem fugir muito o conceito tradicional dos filmes de espiões, onde o vilão tem um plano maléfico para destruir o mundo, mas onde as suas intenções são no mínimo duvidosas. Não pode falhar aquele momento, onde o mau da fita explica tudo ao heróis e claro as típicas lutas com os capangas. Está tudo presente, mas é notório que na edição houve cenas cortadas que davam muito mais lógica a toda a construção narrativa. Isso não acontece e acabamos por ter vários momentos de nos deixar a pensar porque é que aquilo tudo está a acontecer.
Se há algo que esta saga nunca me desapontou foi ao nível técnico. Os seus efeitos, as coreografias durante os combates, os momentos explosivos, as perseguições, tudo se compõe como se estivesse destinado a isso. Nem sempre podemos considerar que o nível de detalhe esteja nos melhores padrões, mas são sempre filmes que levam um típico espião mais além e as suas aventuras transportam-nos por cenários e situações incríveis. Aqui não é diferente. Com um nível técnico dentro dos moldes atuais, o filme define-se com vários aspetos que tem vindo a ser normais nesta saga.
Julgo que posso referir que todas as cenas de combate ou de perseguição estão num nível muito alto, com bons momentos, bem coreografados e que dão verdadeiro espetáculo visual. Talvez uma das cenas que mais me ficou marcada foi quando Ana de Armas entra em ação, demonstrando a sua incrível capacidade para fazer parte do futuro desta saga. Que momento tão bem construído e que só tem um defeito: é demasiado curto.
As histórias deste espião são feitas para estes momentos e com um bom desenvolvimento acabamos com um filme muito positivo. Acho que o filme falha em alguns aspetos e não consegue oferecer a experiência derradeira, mas não se esquece as origens e oferece um bom velho filme de espiões, muitas vezes sem grande lógica.
Ficamos agora na incógnita de quem será o próximo James Bond. No final dos créditos somos brindados com um simples James Bond Will Return. Fica agora a dúvida de qual o verdadeiro significado disto em termos práticos. Será que vamos regressar ao “cada filme, cada história”? Ou teremos um novo arco, com um novo ator? Seja qual for a decisão, espero que não demore mais uma eternidade a chegar. Os filmes de James Bond com o Daniel Craig foram especialmente espaçados pelo tempo, o que tornou todo o efeito mais especial, mas ao mesmo tempo demasiado demorado. Pessoal que ainda estava longe de ter idade para um filme como Casino Royal, está agora nos seus 18 anos a assistir ao final da saga.
Pessoalmente, foi uma boa experiência, bem ao estilo que gosto de assistir. Espero o retorno de James Bond e julgo ter sido um final digno para um dos melhores arcos deste espião levados até ao cinema. Foi o ator que mais se ligou aos fãs desta saga e especialmente conseguiu mudar muitas cabeças que só viam o personagem com um único aspecto. Passou por várias fases e ofereceu um visão única do mundo que se foi transformando ao seu redor. Foi uma jornada interessante que agora termina. Para mim, a melhor história conjunta de toda a saga.
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