Se alguma vez desejaram uma comédia estilo buddy-cop portuguesa, 2 Duros de Roer vem tentar satisfazer esse desejo, trazendo às salas de cinema uma produção nacional de ação e comédia, mas que infelizmente de engraçado pouco tem.
2 Duros de Roer, uma longa-metragem realizada por Victor Santos, conta as desventuras de um dia de trabalho de dois policias. Mas o primeiro minuto do filme é uma sequência de citações famosas, como ‘Sei que nada sei’ de Sócrates, passadas em fundo negro, mas acabando com uma frase cheia de asneiras sobre imundices, estabelecendo desde cedo o absurdismo e o tipo de humor do filme. Dos dois agentes que seguimos durante a longa, o primeiro apresentado é Manuel Venâncio de João Seabra, um detetive do Porto, que se encontra a investigar, com o seu parceiro, uma pista que poderá levar à captura do cabecilha da rede de tráfico de droga, que ameaça uma onda de overdoses pelo país. Depois de deixar o criminoso escapar, numa piada extremamente cansada e já sem graça, Venâncio vê a sua mulher dar à luz para uma criança negra, e revelando portanto que a sua esposa cometeu adultério com o seu parceiro de trabalho. Venâncio pede transferência para Lisboa para poder ter um começo em limpo.
Em Lisboa, o público é dado a conhecer o novo parceiro de Venâncio, José Sobreiro de Fernando Rocha, um polícia que tende mais a snifar as drogas, do que as apreender. Após ter sido descoberto em apostas ilegais e consumindo droga em serviço, Sobreiro é castigado com o novo parceiro nortenho e tem ainda de receber uma aluna de mestrado estadunidense Murphy, interpretada por Mafalda Luís Castro, que para sua tese tem de gravar o dia da dupla. Os dois agentes procuram investigar o mesmo cartel apresentado de início, que como Venâncio, convenientemente mudou a sua base de operações para Lisboa.
Se a premissa parece interessante, não fiquem iludidos, porque após 40 minutos de filme muito pouco é mencionado sobre o tráfico da nova droga. Ao invés, acompanhamos os dois policias a almoçar num restaurante Michelin às 8h30 da manhã, a responder a uma ocorrência de violência doméstica e finalmente a um talho que está sob protestos de ativistas veganos, onde só aí a verdadeira investigação começa. Esta longa introdução não teria sido um problema se o diálogo e a comédia suportassem as cenas, no entanto somos sujeitos a piadas secas e baratas, recheadas de asneiras. Os dois principais personagens, de fortes personalidades, credivelmente tem dificuldade em trabalhar em conjunto no imediato, e acabam por estar constantemente em embirração e a atirar insultos pouco criativos um ao outro como: ‘tu és gordo’, que até podem ter piada de início, mas rapidamente se tornam cansativos e algo irritante. Isto não é necessariamente por culpa dos intérpretes, que são competentes, exibindo performances exuberantes e absurdas que combinam com o tom do filme.
Para além de um argumento pouco engraçado, a caracterização das personagens fica muito aquém, e não é por estarem em situações absurdas, uma vez que outras histórias desse carácter conseguem também desenvolver boas personagens. As motivações da principal vilã do filme, a Maxine Canine de Melânia Gomes, fazem pouco sentido e não são explicadas para além de um cliché ‘Quero conquistar o mundo’. Sobreiro que começa o filme como polícia corrupto tem zero desenvolvimento, tendo aprendido nada com o dia e com as situações a que foi exposto, e Venâncio tem apenas ‘gordo e cornudo’ como únicos traços de personalidade. Murphy é a única personagem interessante neste filme, mas que acaba por ser muito pouco explorada, sofrendo mesmo de algumas inconsistências no guião, que tentam servir a comédia, mas sem grande sucesso.
Não podia deixar de mencionar um momento do filme em que os agentes dão resposta a uma ocorrência de violência doméstica. Neste caso um casal de meia idade, cuja mulher não se sente satisfeita pelo marido, comete adultério, levando a uma resposta violenta pelo marido, sendo necessário chamar os polícias para dissolverem a situação. Contudo, fico algo surpreso quando a resolução para este caso de violência doméstica é pouco mais que um simples ‘Então não há nada que continuem a gostar um no outro?’ que provoca uma fácil reconciliação, para que a narrativa possa continuar para a próxima ocorrência. A leveza e a falta de tato com que o guião aborda um assunto tão sério como a violência doméstica deixa um sabor amargo na boca, especialmente porque em nada contribui para a principal narrativa e que acaba por ser apenas um setup de uma piada, que podia ter sido incorporada no filme de forma mais sensata.
Em suma, 2 Duros de Roer sofre de uma narrativa pouco consistente, com personagens sem qualquer desenvolvimento, em prol da comédia, que infelizmente tem pouca piada. Porém consigo ver os fãs de comédias como Balas e Bolinhos (2001) rirem se das situações caricatas que os escritores colocam estes dois agentes, mas que no fundo não funcionaram para mim.
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