Se há algo que me tem desiludido ao longo de vários anos é a capacidade da Warner ter tanta dificuldade em acertar na fórmula para os seus filmes da DC. Não gosto muito de comparar o que se tem feito na Marvel com o que se faz com a DC, mas neste caso e antes de avançar para o filme, preciso de encaixar aqui algum contexto. A Warner tinha, à partida, vantagem sobre a Disney, já que a DC Comics e os direitos dos personagens estavam todos sobre a mesma casa.
Como bem sabemos, universos cinematográficos é coisa de agora e antes nem sequer se tentava algo assim, mas se pensarmos bem, os comics são o objeto mais fácil de tornar num universo de multi-filmes, porque a própria base já funciona dessa forma. Com tudo isto, a Warner não tem sabido lidar com as suas propriedades intelectuais e transformou algo que podia ser grandioso numa valente salganhada. Não só isso, como nos últimos anos a empresa passou por tantas mudanças que tudo ficou ainda mais confuso e estranho.
Black Adam aparece aqui com uma missão, talvez demasiado grandiosa para aquilo que quer apresentar no grande ecrã. Assim, a Warner utiliza este filme para dar um revamp ao universo da DC no cinema. Digo desde já que o filme faz exatamente isso e apenas precisa de algumas cenas. Black Adam acaba por ser muito mais que um simples filme no cinema live-action da DC e é transformado numa mensagem para o público e para os dirigentes. Diga-se o que se disser de Dwayne Johnson, a sua presença na indústria é forte o suficiente para fazer mexer com as produções. E este nome pode ser um importante impulsionador para que o universo DC tenha algum tipo de rumo. Felizmente e como algumas notícias indicaram, a DC Universe é cada vez mais oficial e com os conteúdos lançados até hoje a não serem esquecidos.
Vamos então conversar unilateralmente sobre o filme. Parti para esta jornada sem grandes expectativas. As conturbadas produções e decisões mais recentes do estúdio não deixam o público confiante com os novos filmes e da minha parte não é diferente. Contudo, a esperança de que o filme me possa entreter e ser algo positivo levam-me sempre a querer assistir às movimentações destes heróis no cinema. Levar alguém como Black Adam ao grande ecrã é logo difícil à partida pois não é dos mais conhecidos. E colocar este no meio de uma equipa e de um conjunto de heróis que poucos conhecem também, torna tudo mais complicado. A verdade é que colocar Hawkman, Dr. Fate, Atom Smasher e Cyclop num filme não é o mesmo que juntar a principal equipa da DC. São heróis menos conhecidos, principalmente pelas massas. O grupo que representam também não é o nome mais famoso no público e assim fica uma tarefa complexa de chegar mais longe que os principais fãs.
Certo é que mesmo com estas questões, o filme acabou por entreter-me do princípio ao fim. Como peça de cinema, é simples e muito focado em algumas das regras já bem estabelecidas dos filmes de heróis. Não tenta arriscar de forma alguma e segura-se em apenas algumas questões, como o próprio Dwayne Johnson. O ator que tem vindo a ser destaque em variados filmes de ação, continua a dar cartas em Hollywood e mesmo com todos os seus limites é o suficiente para dar vida a um papel deste género. Black Adam não se desafia em nenhuma questão, mas oferece uma visão muito interessante de todos os heróis que aqui estabelece e principalmente volta a dar uma conexão ao passado e futuro da DC Universe.
Com a estreia a chegar na mesma altura que as maiores mudanças acontecem no estúdio, o filme acaba por funcionar quase como uma passagem de testemunho. A presença de alguns personagens já bem estabelecidos no universo praticamente desde o seu início ajudam a criar uma ligação entre o mundo que aqui nos contam. Apesar da pouca ligação com alguns dos personagens, que claramente precisavam de uma maior apresentação, o facto de conseguirmos sentir a presença destes personagens em algo maior que este filme ajudam a estabelecer a narrativa e fazer-me estar ligado do princípio ao fim.
Black Adam foi, pessoalmente, uma boa surpresa. Um filme que se mantém seguro, com efeitos especiais de grande nível na maioria do filme. Um valor de produção ótimo para todas as circunstâncias em que a produção está envolvida. Dwayne Johnson faz o seu papel sem grandes problemas, mas é mesmo Dr Fate que se destaca no meio desta aventura. Ter o ilustre Pierce Brosnan a desempenhar este papel foi a escolha mais acertada, com uma grande presença no ecrã e um plano narrativo muito interessante. Totalmente bem definido e envolvido na trama desta aventura, mostrando o carisma certo e representando o personagem tão bem que só fico com pena se não o voltarmos a ver. Outro destaque tem de ir para Aldis Hodge, que nos traz um excelente Carter Hall para o grande ecrã e igualmente a representar muito bem o papel do herói Hawkman.
O novo filme da DC Universe não é o pico da experiência cinematográfica desta casa de comics, mas sem dúvida que nos deixa um gostinho na boca para o futuro. Não sou o tipo de fã que só quer que o Snyderverse regresse, nem tão pouco fico chateado se for feito um recomeço completo ao universo, mas o sentimento que há algum tipo de conexão entre o passado e o futuro é o suficiente para me deixar investido em querer ver mais daqui para a frente. Espero sinceramente que a nova equipa criativa dentro da DC Studios consiga levar o universo a bom porto e que a partir daqui tenhamos grandes obras cinematográficas. Terminando ainda que a DC não tem de ser como a MCU e espero ver aqui experiências diferentes, mais adultas e prontas para arriscar onde devem arriscar, tal como já muitas vezes assistimos.
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