Quando o primeiro filme do Black Panther surgiu nas notícias, percebi logo da importância cultural que este teria na sociedade, principalmente num segmento muito específico. Não podemos de modo algum discordar o quanto essa produção criou um importante precedente na forma como se olha para as equipas presentes em qualquer obra cinematográfica. Apesar de ainda hoje, muitas minorias continuarem a lutar por melhores condições de trabalho, mais oportunidades e igualdade para todos, ainda há muito trabalho a fazer e são produtos como este que acabam por dar uma força aos que mais precisam dela.
Como filme, não acho que tenha sido algo de tão especial assim, mas como obra que ficará na história para sempre, sempre tive e continuarei a ter todas as certezas que é uma verdade definida. Ao longo destes anos que aguardamos por mais Black Panther no cinema, muito aconteceu e infelizmente perdemos a cara que tão bem protagonizou este super herói. Se Robert Downey Jr encaixou perfeitamente no papel de Tony Stark, então podemos igualmente dizer que Chadwick Boseman foi outra escolha certeira para o papel de T’chala e vê-lo partir tão cedo é demasiado forte para quem vive estas histórias intensamente.
O momento em que somos presenteados pela habitual introdução da Marvel Studios é arrepiante, pesado e faz-nos interiorizar toda a nossa existência. Só quem está desligado do mundo não pensará exatamente isto. Ver aquelas imagens de Chadwick num silêncio profundo, onde toda a sala de cinema respondeu e respeitou. Senti todos aqueles segundos como se tivessem durado horas e bem dentro de mim compreendi a dureza do momento. Não foi o único momento assim, conseguindo o realizador arrebatar a parte final com outra sequência semelhante.
Se há que fazer uma homenagem a este mega herói do cinema de super heróis que seja desta forma. Pois se há algum que Chadwick Boseman merece é todo o respeito que lhe foi aqui presenteado. Que seja para sempre lembrado por toda a sua forte presença no ecrã, nestes ou noutros filmes. A história é marcada por momentos como estes e na cultura do entretenimento e da presença africana no cinema, este nome ficará para sempre marcado nos murais da eternidade.
É quase ingrato proferir as restantes palavras que aqui quero transmitir depois do que já escrevi, mas acima de tudo esta é mais uma produção do Universo Cinematográfico da Marvel e uma sequela, que precisou de se adaptar muito do filme de 2018. Por essa razão, quero aqui deixar algumas notas sobre a minha experiência para com esta narrativa e toda a possível importância que esta sequela pode também ter. É nesse sentido que julgo ser importante que o público compreenda que este filme é mais focado em Wakanda e de dar a conhecer outra nação igualmente forte, do que propriamente no super herói. Acho que a própria escolha de dimensões no logo entre título e subtítulo era uma previsão daquilo que seria a narrativa deste filme. A presença de Black Panther é empurrada para o último terço do filme criando assim um destaque muito maior à nação de Wakanda e todas as suas lutas após o desaparecimento do Rei T’Chala.
Este forte destaque na atual presença no mundo de Wakanda oferece uma visão mais alargada do final do filme anterior com mudanças que aconteceram por via das circunstâncias. Contudo e mesmo com essas mudanças, é possível compreender algumas relações com um possível guião onde Chadwick ainda fizesse parte. O filme começa, desenrola-se e termina como uma homenagem ao ator, mas entre isso temos um interessante conflito entre duas nações igualmente poderosas. Surge assim Talokan, um reino que pode ser equiparado à lenda da Atlântida. Aqui temos um importante personagem para a MCU em várias vertentes, com a chegada de Namor, mas já lá vamos. Na minha perspetiva, a relação entre os dois reinos foi um dos destaques para o desenrolar deste filme. Com grandes momentos de demonstração e partilha cultural, intensas sequências de combate e personagens interessantes saídos dos dois lados. Colocamos assim em cima da mesa mais uma importante representação de duas distintas culturas que tanto tem em semelhança quando olhamos para as suas histórias.
Como referi, há vários personagens que aqui nos são apresentados e que têm grande destaque no desenrolar da história. Alguns tenho mesmo de destacar pela positiva, outros continuo sem conseguir dar grande importância. Riri Williams surge como uma agradável surpresa e estou muito ansioso para a ver em ação na sua própria série. O comportamento da personagem e a forma como a atriz Dominique Thorne a transportou tão bem para o ecrã deixou-me rendido aos seus momentos. Divertida, séria quando deve e com uma presença muito interessante para aquela que foi a sua primeira aparição no universo.
Outro que tenho de destacar é mesmo Namor, que tem uma presença muito assertiva e bem estruturada. Tenoch Huerta Mejía está muito bem no seu papel e julgo que terá ainda muito para oferecer, em conteúdos mais detalhados e direcionados ao personagem. Michaela Coel e Danai Gurira estão ambas irrepreensíveis nos seus papéis. Com momentos muito bons em todos os aspetos. Um trabalho incrível feito pelas duas atrizes que terão aqui um futuro muito interessante e ainda por descobrir. Não esquecendo de Angela Bassett que tem agora um destaque enorme na narrativa e soube muito bem aproveitar o que lhe foi aqui apresentado.
Do lado menos positivo tenho também algumas notas, já que continuo a não achar muito interessante algumas personagens e outras surgem aqui um pouco aquém das suas possibilidades. Pessoalmente, acho que Letitia Wright não faz aqui o papel mais interessante do mundo. Sinto que a sua força no primeiro filme apoiava em todos os detalhes na ligação com Chadwick e aqui sozinha, não senti a força e presença que esta tentou transmitir do princípio ao final do filme. Tenho pena que pessoalmente, a atriz não tenha enchido as medidas da personagem e tenha ficado aquém do que esperava, que seria algo próximo do que senti com Ramonda.
Nakia teve tanto de importante como de fraca presença. Poucas cenas que realmente se destacaram e a sua presença quase pareceu forçada. A atriz esteve muito bem, tal como Lupita Nyong’o nos tem vindo a habituar, mas a sua personagem não conseguiu acompanhar. Por último, foi interessante ver Martin Freeman e principalmente Julia Louis-Dreyfus como Vão, tendo em conta a sua relevância para a fase 5 da MCU, mas no entanto sinto que o arco de história que envolveu os americanos foi desnecessário e desinteressante para o todo que este filme tentou ser. Estas duas presenças acabam por ter demasiado tempo de antena para a sua importância no filme.
Os estúdios da Marvel continuam com problemas nos detalhes visuais e efeitos especiais. A verdade é que desde o início, estes filmes nunca foram a primazia dos efeitos, mas ultimamente temos tido algumas tentativas muito longe daquilo que a tecnologia permite nos dias que correm. Alguns filmes têm mesmo problemas gritantes que nos fazem duvidar dos altos orçamentos que aqui são aplicados. A quantidade de produções que a Marvel Studios tem agora nas suas mãos também não ajuda e infelizmente isso tem vindo a ser cada vez mais visível no ecrã. Apesar de Wakanda Forever não ser o pior trabalho neste campo, continua a ser notório que há algum problema nas equipas de efeitos visuais que Kevin Feige não está a conseguir resolver. Em produções onde esta área técnica é das mais importantes e onde os orçamentos são cada vez mais elevados começa a ser cada vez mais complicado compreender alguns destes problemas. Vai ser uma tarefa árdua para que as coisas voltem a entrar nos eixos.
Se há mais um problema a apontar neste filme é mesmo a sua longevidade. A duração que Ryan Coogler decidiu impor a esta história é demasiada para aquilo que poderia ser. Na saída do cinema consegui rapidamente expor um conjunto de cenas que estão claramente a mais. Desde flashbacks de cenas que aconteceram há poucos minutos atrás, até cenas com personagens que pouca ou nenhuma diferença fazem no panorama geral da história. Em certos momentos, senti que o filme não queria terminar a sua constante homenagem a Chadwick Boseman. Houve claramente a tentativa de prolongar tudo o que nos estava a ser apresentado, mas em grande parte não era de todo necessário. Apesar de não me ter sentido aborrecido pela duração, acho que é um detalhe menos positivo neste filme e julgo que aqueles que o filme pouco disser, vai ser ainda mais difícil de aguentar as quase 3 horas de filme.
Procurei um bom serão e encontrei-o e essa é a verdadeira essência do cinema. Não tem de ser elitista ou de ser uma experiência única em cada ida às salas. Cabe a cada um saber como experienciar uma obra cinematográfica. Com a crescente crítica à fórmula Marvel, seria fácil embarcar no barco da crítica e dizimar mais esta estreia, mas enquanto estes títulos me continuarem a entreter do princípio ao fim, prefiro muito mais embarcar na felicidade do que não conseguir ver mais nada além do crescente negativismo. Se este filme é uma peça de museu? Não. Se vai mudar a minha vida? Não. Se me fez passar um bom bocado e cumpriu com aquilo que esperava dele? Sim, sem qualquer dúvida. Por isso que venham mais.
Black Panther Wakanda Forever é uma sequela digna que tem os seus problemas. Consigo ver a importância destes filmes além disso, mas continuo a achar que a consideração por eles está um pouco toldada por esse destaque cultural. Fico a aguardar pelo regresso de Black Panther e espero que Shuri consiga oferecer mais no futuro.
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