Vamos ser sinceros, Bodies Bodies Bodies acerta em duas coisas no filme inteiro. A primeira é o final, entregando-nos um dos verdadeiros plot twists do ano. A segunda, e a mais importante, faz-nos querer que cada uma destas personagens morra uma morte horrível, e praticamente todas a têm.
Com um dos conjuntos de personagens mais irritantes que um filme nos ofereceu nos últimos tempos, Bodies Bodies Bodies dá-nos miúdos ricos mimados, altamente neuróticos e supostamente “woke”, reunidos para uma festa numa mansão estupidamente enorme, tudo enquanto uma tempestade ocorre. Nesta frenética comédia de terror americana, o sentimento que predomina é que a matança comece o mais rapidamente possível. Felizmente é assim que a diretora Halina Reijn quer que nos sintamos.
Resumidamente, Sophie (Amandla Stenberg) e Bee (Maria Bakalova), o novo casal do grupo, chega de surpresa a casa de David (Pete Davidson), melhor amigo de Sophie. Com eles, estão ainda Emma (Chase Sui Wonders), a namorada pretensiosa de David; Jordan (Myha’la Herrold), a ex de Sophie; e Alice (Rachel Sennott), amiga, dona de um podcast, e companheira de cocaína. A um conjunto de adolescentes hipersensíveis, acrescenta-se ainda a presença calma e tranquila do namorado muito mais velho de Alice, Greg (Lee Pace). O filme é imediatamente desconfortável – velhos amigos percebendo rapidamente que não gostam mais uns dos outros – mas é precisamente esta dinâmica que torna os eventos credíveis e inevitáveis.
Na noite em questão, e para animar uma tempestade que aparentemente, por si só, não é suficiente, decidem participar num jogo de Bodies Bodies Bodies, um jogo em que um assassinato de brincadeira ocorre e se tenta descobrir o assassino. Como seria de esperar, o assassinato acaba por se torna real quando um deles aparece com a garganta cortada após um apagão provocado pelo furacão. Agora a brincadeira é outra. Sendo os únicos naquela casa, um deles terá de ser o culpado, e achar o verdadeiro criminoso torna-se um jogo perigoso e mortal. Aos poucos vão-se atribuindo culpas, descobrindo-se segredos e motivos, revelando-se intenções e falta de morais.
Não é que Bodies Bodies Bodies seja mau, apenas não é especial. Repleto de um elenco de talentos em ascensão, a ideia perde-se num diálogo fraco e demasiado juvenil, salvando-o um final que choca pelo entendimento da própria estupidez da situação. Concluindo, num filme em que toda a gente é irritante e ninguém toma boas decisões, a violenta cadeia de eventos desencadeada por essas pessoas horríveis não poderia deixar de ser divertida de assistir. Há tantas, se não mais, oportunidades para rir deste grupinho quanto há momentos de horror. Embora todo o grupo consiga uma delicada mistura de detestabilidade e incompetência quase perfeita, é Sennott, de Shiva Baby, quem dá uma performance de destaque com o seu narcisismo desesperado e irritante. O tom pode não funcionar para todos – mas os extremos são o que o torna tão interessante.
Bodies Bodies Bodies foi exibido no dia 6 de setembro, no Cinema São Jorge, no âmbito da sessão de abertura do Festival de Cinema de Terror de Lisboa – MOTELX.
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