Baseado na colecção de poemas de T. S. Eliot, Cats foi durante muito tempo o musical mais bem-sucedido da Broadway, pelo que seria de esperar que tal sucesso no palco criasse algo de monumental quando traduzido para o grande ecrã. Algo que entrasse nos corações das pessoas da mesma forma que O Feiticeiro de Oz. Porém, não é isso que acontece.
Tom Hooper (Os Miseráveis, vencedor do Óscar de 2012) é o homem por detrás desta produção, aquele que acreditou que a história daria uma boa longa-metragem. Quando lhe perguntam na estreia do filme se estaria contente com o resultado, responde que o havia terminado “às 8h do dia anterior”, ao que nós respondemos: nota-se!
A história começa com uma gata branca abandonada chamada Victoria (Francesca Hayward, do Royal Ballet) que encontra a comunidade de gatos “jellicle”. Logo a seguir percebemos que estes gatos estão a competir pela chance de subir à camada superior, também conhecida como céu dos gatos, onde renascerão. Para ascenderem, cada gato deve provar que é digno cantando uma música. Um vencedor sortudo é depois escolhido pelo “Old Deuteronomy”, normalmente interpretado por um homem, mas desta vez representado por Judi Dench (no seu casaco de pele, por pouco sentido que isso faça).
O filme conta com as músicas do musical original de Lloyd Webber e Trevor Nunn, mas nem isso o consegue salvar. Com um elenco musical de excelência desde Jason Derulo (Rum Tum Tugger) a Taylor Swift (Bombalurina), estes são os únicos que parecem estar realmente a divertir-se nos seus papéis, talvez porque não sendo actores não conseguem perceber de todo o ridículo que se está a passar à sua volta. Quanto a Francesca Hayward, esta tem em Victoria o seu papel de estreia, mas não tendo praticamente quaisquer falas e passando a maioria do filme apenas a dançar e a “mover-se à gato”, mais valia ter ficado pelo ballet. Quem sabe, talvez venha a ter uma segunda oportunidade para realmente mostrar do que é capaz, ficaremos curiosamente à espera. Para a maioria dos outros envolvidos, este filme é claramente o ponto baixo da sua carreira. O papel de Rebel Wilson é patético e oferece-nos uma das cenas mais assustadoras (pelas as razões erradas) da última década, é absolutamente doloroso observar o seu número musical e não se deixar encher de vergonha ao imaginar quem dentro dos milhares de envolvidos achou que pôr baratas e ratos com cara de humanos a dançar era boa ideia.
James Corden (Bustopher Jones) tenta salvar o seu papel com algum do seu charme natural, mas o tiro sai-lhe pela culatra e é quase metafórico vê-lo rebolar numa pilha de lixo. Exagerado na sua performance como gato, na realidade é algo que seria de esperar e que poderia ficar bem no teatro, mas que no ecrã apenas transparece como estupidificante. Porém, a pior parte do filme é talvez ver o que estes papéis fazem de lendas como Ian McKellen (Gus, gato do teatro) e Judi Dench. Para além da performance cândida de Laurie Davidson como Mr. Mistoffelees, que consegue criar alguma empatia com a personagem, o monólogo de McKellen é talvez o único ponto positivo (sem dúvida o mais alto) do filme. Não deixa de ser, no entanto, desolador e indigno vê-lo envolvido num desastre como este enquanto mia e lambe uma taça de leite. Por último, o talento de Jennifer Hudson (Grizabella) é reduzido a meia dúzia de cenas nas quais está sempre a chorar, tornando-se exaustivo de ver, e um desperdício. A sua balada parece não acabar numa tentativa mal-executada e ainda pior pensada de criar algo parecido com uma história.
Desde a escala dos cenários que varia de cena para cena, não criando coerência, ora mostrando os gatos com dimensões animais ora com dimensões humanas, tudo está errado. As interpretações são erradas, os ângulos e planos parecem convulsivos, indecisos, tentando procurar evocar algo que os actores não conseguem. As músicas não têm descanso nem respiram entre elas, as sequências de dança não transmitem emoção ou informação, e os efeitos secundários mostram claramente que foram apressados. Mesmo assim, e embora sejam sem dúvida a pior parte do filme quando associados a um , não acredito que se os efeitos tivessem sido cuidados o filme ganharia com isso. Na realidade o que falta ao filme é alguém que diga que às vezes certos projectos ficam melhor na gaveta.
Não gosto de escrever críticas más, afinal cada filme é o bebé de alguém, alguém o sonhou, o concebeu, o deu à luz. No entanto, acredito também que cada um tem poder de escolha sobre o que apresenta, sobre o que deixa ver a luz a do dia e este é um filme feito em cima do joelho, que só vale a pena ver para se poder comentar o quão mau é.
Redes Sociais