Em “Clemência”, Alfre Woodard interpreta Bernadine Williams, a “administradora prisional” que se orgulha de tratar os presos com dignidade, enquanto eles esperam o seu destino final. Destino esse que algumas vezes significa a pena de morte. Ao mesmo tempo que o seu casamento com Jonathan (Wendell Pierce) sofre as consequências da pressão do seu trabalho, Bernadine é confrontada com o destino cada vez mais desesperador de Anthony Woods (Aldis Hodge), que passou 15 anos no corredor da morte. O advogado de Anthony, Marty (Richard Schiff), terá descoberto evidências que questionam a condenação do seu cliente. Mas com os apelos esgotados, Bernadine e Anthony olham para o relógio enquanto os dias, horas e minutos passam, e Bernadine começa aos poucos a ter dúvidas sobre a pena de morte, dúvidas que se transformam em medos reais quando este caso mal julgado revela o verdadeiro horror da execução.
A atuação de Woodard é subtil e interessante na forma como a sua postura e a modulação de sua voz, e até mesmo o ritmo da sua respiração, nos dizem mais sobre a jornada da sua personagem do que a exposição verbal jamais poderia. O fato de “Clemência” abordar o assunto da execução estatal da perspetiva de uma guarda negra do corredor da morte adiciona outra camada de complexidade às lutas de Bernadine, tanto pessoais quanto políticas.
Para além de Woodard, Hodge hipnotiza como o prisioneiro enfrentando a morte, mesmo quando uma nova vida se apresenta – embora à distância. Uma cena poderosa em que Bernadine explica o procedimento de execução para Anthony desenrola-se magnificamente no rosto de Hodge. Enquanto ela fala, ele fica em silêncio, mudando ritmicamente, absorvendo a informação; uma sinfonia de choque, raiva e medo passando pelas suas feições, interrompida apenas pelas trilhas das suas lágrimas e pelo som de uma única expiração.
Enquanto diretor de fotografia, Eric Branco consegue não só discretamente aumentar a sensação crescente de confinamento, como também fazer Bernadine parecer tão encarcerada quanto os homens condenados que ela aconselha. A fotografia junta-se à performance de Woodard para transmitir com clareza que Bernadine deseja recuperar a sua integridade, retornando à felicidade que uma vez teve com o seu marido, mas quando ela recua ao seu toque, percebemos que a sua alma permanece trancada na prisão mesmo fora do horário de trabalho.
Em jeito de análise, “Clemência” oferece uma cena de morte angustiante vivida apenas por meio das expressões de Bernadine. No entanto, é precisamente apenas este o único momento que o filme realmente nos oferece como algo de extraordinário ou empolgante, sendo o resto marcado por um diálogo fraco e uma narrativa que desilude. Ficamos a desejar mais não só do enredo e da realização, mas todas as personagens: mais ação, mais emoção, mais revolta, vontade de mudar, discussão. Queremos sentir que Bernadine e o marido foram uma vez apaixonados, queremos ver as pessoas na rua a gritar justiça, queremos… mas não nos é dado.
Um filme que poderia ser absolutamente extraordinário, fica aquém das expectativas, mas deixa uma reflexão sobre a vida e a justiça que o torna relevante e merecedor de ser visto por isto só.
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