Cordeiro é um filme de Valdimar Jóhannsson sobre um casal, María (Noomi Rapace) e Ingvar (Hilmir Snær Guðnason), que, após o nascimento de um cordeiro fora do comum, o adotam e criam como se fosse seu filho, desafiando as leis da natureza, e, deste modo, havendo consequências futuras. Deste modo, é explorado o luto de uma família que se agarra à primeira coisa para substituir algo que perdeu.
O filme estreou a 13 de Julho de 2021 nos Festival de Cannes, contudo só chegou aos ecrãs portugueses a 31 de março de 2022. No Festival de Cannes este recebeu o Prémio de Originalidade.
O filme abre com uma criatura, sendo que apenas se ouve a sua respiração, a caminhar, à noite durante uma tempestade. Esta cruza-se com um conjunto de cavalos, que se mostram aterrorizados e, por fim, chega a um curral de ovelhas. Dentro do curral, as ovelhas começam a fugir, contudo a última aparenta estar fraca e cai. O prólogo termina com o ser a observar María pela janela.
Neste começo, apesar do foco ser nos animais, através apenas das ações e expressões dos mesmos e da forma de como foi filmada, está presente uma sensação inquietante e arrepiante, deixando uma expectativa que algo está a caminho de ocorrer.
Infelizmente, o filme não alcançou o potencial que o prólogo criou, sendo que o resto do filme consiste numa história que pouca surpresa traz. Apesar de haver momentos (não muitos) em que ansiedade é criada sobre o que vai ocorrer, a resolução não chega a satisfazer, sendo sempre a mais simples. Nenhum destes aspetos por si só são maus, contudo o maior problema encontra-se no facto de como o prólogo cria uma expectativa e o caminho seguido é outro. Assim sendo, no final do filme, apenas me questionei “Era só isto?”.
Dito isto, apesar do filme ser classificado como de terror, nada irá realmente assustar, sendo o prólogo o momento mais tenebroso.
É de se destacar a forma de como o filme conta uma história de forma maioritariamente visual, recorrendo a pouca exposição e falas. A forma de como este foi filmado irá contribuir para tal, assim como para uma apresentação criativa de certas cenas.
Em Cordeiro apenas são representadas três personagens, María e Ingvar e, não tão saliente, o irmão do último, Pétur (Björn Hlynur Haraldsson). Deste modo, cai apenas nestes atores o papel de manter a atenção do espectador. Note-se que todos os artistas fizeram um excelente trabalho, sendo de realçar a performance de Noomi Rapace como María.
A beleza da Islândia rural e a forma de como esta foi captada também foi algo promitente. Esta para além de ser deslumbrante, também consegue transmitir o isolamento das personagens para com o resto do mundo e contribuir para a atmosfera geral do filme.
Apesar de se tratar de uma história simples de se entender e acompanhar e de ter o filme um passo lento, nunca me deparei entediada, tendo em conta as questões apresentadas inicialmente.
Como afirmei anteriormente, considero que o aspeto mais negativo do filme consiste na ideia inicial que este transmite não ser o caminho que segue em termos de tom, contudo, apesar de recorrer à solução mais simples, esta também é muitas vezes a mais lógica e mais vale uma solução simples e lógica que um plot twist sem sentido.
Mesmo tendo uma premissa criativa, pode não ser memorável em termos de enredo e não ficar durante muito tempo na memória mas vale a pena ser visualizado, nem que seja pela forma de como foi realizado.
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