Um ataque cardíaco envolto num ataque de pânico. Esta é a forma que encontro para começar a descrever este filme. Desde o primeiro minuto em que a edição genial nos leva de dentro de uma pedra preciosa para o colonoscopia de Howard (Adam Sandler) que nos percebemos que este filme não vai ser normal. Mais tarde percebemos que se trata de uma metáfora para o a necessidade interior quase obsessiva de Howard por esta pedra preciosa. O facto de a ação se passar toda num curto de período de tempo quase que cria uma sensação de claustrofobia temporal que nos deixa num constante estado de ansiedade que não acaba até ao final. O ritmo acelerado que é normalmente mal aproveitado, desnecessário e que não serve o enredo tornando-se o problema de muitos filmes de ação, é precisamente a vantagem deste.
Os realizadores Josh e Benny Safdie conseguiram o que muitos tentam mas poucos atingem, um sentimento de saturação que vai desde os cenários em Nova Iorque que fazem lembrar os filmes antigos de gangster às próprias performances dos atores. É aqui, porém, que a minha opinião pode não ser igual à da maioria. Enquanto muitos parecem elogiar a performance de Adam Sandler, para mim é talvez o maior problema e o que desvaloriza esta gema de filme. Por muito que tentasse não conseguia abstrair-me do facto da sua performance parecer desconectada, como se estivesse a ver Adam Sandler a representar e não a personagem em si. Monótono, embora com alguns momentos que possam ser considerados melhores, arrasta o filme para baixo no seu todo e não consigo deixar de imaginar como seria o resultado com outro ator. Uma pena porque a personagem que no papel parece ser interessante e com camadas, transparece no ecrã como rasa e aborrecida.
Falemos agora do enredo. A história baseia-se em Howard, um homem num casamento falhado envolvido no mundo das apostas, dívidas e caçadores de recompensas e do qual se quer ver livre. Ou será que quer? A verdade é que este ambiente é quase como cocaína para ele, fazendo lembrar a saga do “Senhor dos Anéis” e a doença pelo ouro. Esta pedra preciosa causa em todos os que a têm nas mesmas um mesmo tipo de influência que aquele anel que tão bem conhecemos, mas sem dúvida Howard é o mais seduzido pela sua riqueza e podíamos quase que descrevê-lo como um Gollum num mundo sem magia. As suas tentativas e a maneira como todas parecem falhar (“Everything I do is not going right.”) são a base desta injeção de adrenalina que salta do ecrã diretamente para os nossos olhos. O filme não pára um segundo, não te deixa recuperar o folgo ou descansar e, assim, faz-nos sentir como se fossemos o próprio Howard, como se estivéssemos a viver o filme, encurralados e asfixiados. Uma técnica brilhante pela parte dos Sadfies.
Um filme de ilusão e desilusão, com humor, fúria e dor. Um filme que vive no limite, como se todo se passasse à beira de um precipício. As personagens são na maioria difíceis de simpatizar, o que faz sentido pois esse papel deveria ser preenchido por Adam Sandler, mas se tal acontece é porque lá no fundo Adam Sandler tem aquele inerente ar de coitado e que dá pena (talvez nesse aspeto a sua escolha para o papel tenha sido inteligente). No entanto, é um filme que vale a pena ver porque no seu todo alcança um patamar que poucos conseguem.
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