Há poucos momentos que têm mais destaque mediático ou audiência televisiva e presencial como a espera pelo fumo branco que, após a morte de um Papa, anuncia a eleição de um novo. Ora, foi apenas em Março de 2013 que o mundo assistiu a algo raro, a assunção do Papa Francisco que iria “substituir” o antigo mas ainda vivo Papa Bento XVI. Algo que em toda a história da igreja católica aconteceu três vezes apenas, acontecia agora no nosso tempo e deixava por responder uma série de questões.
Nesta nova aposta da Netflix, que se tem vindo a aventurar por filmes mais sérios, (quem sabe à procura do Óscar de melhor filme ou simplesmente o reflexo de uma audiência mais madura), é precisamente este jogo de perguntas e respostas que se põe em destaque. O que levou o Papa Bento XVI a renunciar? Terá sido realmente o factor da sua saúde? Terá sido consequência dos escândalos de abuso sexual de menores dentro da igreja católica que o seu mandato viu trazer ao de cima? Porque foi ele eleito da primeira vez sequer? Como surge o Papa Francisco nesta corrida? Qual o seu passado? Porquê a rivalidade entre os dois? Quais as suas diferenças? Qual dos dois é mais apto a conduzir uma comunidade de volta à fé, num tempo em que existem cada vez menos crentes e em que é preciso um líder? E por último, mas não menos importante, como surge a camaradagem que hoje em dia aparentam ter?
O filme tenta através do intercalar da biografia dos dois papas, criar uma narrativa cativante e sedutora, especialmente no sentido da argumentação. Aliás, é exatamente aqui que o filme brilha, o argumento de Anthony McCarten (A Teoria de Tudo, A Hora Mais Negra e Bohemian Rhapsody) pega em dois homens velhos, um mais dogmático outro mais selvagem, e põe-nos a discutir teologia de uma forma que, ainda domada, não deixa de tocar em assuntos importantes e trazer um pouco à responsabilidade, ou pelo menos à luz, aqueles que devem ser culpados. Não é um Mea Culpa, de maneira nenhuma, pela parte da Igreja Católica mas o esforço e a argumentação são interessantes e dão que pensar. Um momento a salientar é uma discussão acesa que os dois têm no jardim, que sem dar spoilers leva o espectador a ter um momento de missão (ou clímax) cumprido.
Anthony Hopkins (Papa Bento XVI) faz o que ele também sabe fazer e já estamos habituados, um trabalho simplesmente inacreditável enquanto que Jonathan Pryce (Papa Francisco) se transforma por completo ao ponto de se anular e existir apenas o Papa no ecrã. Ambos têm performances exímias, chegando em alguns momentos a acreditar que estamos a ver um documentário e não um filme, e na sua luta de personalidades e ideologias nasce algo que nem que seja para melhor entender a situação religiosa atual vale a pena ver.
Mas nem tudo é de louvar. O argumento é bom, as performances também, mas é aqui que a realização entra e deixa a desejar. Uma linha temporal um pouco confusa e planos de câmara que várias vezes nos deixam com dores de cabeça de tão amadoras que são baixam o nível do filme, que de outra forma poderia ter tido muita mais atenção e merecida.
Em última análise, um filme que se vê bem e que no fim nos deixa com vontade de pegar numa cerveja e juntarmo-nos a eles para ver um jogo de futebol ou, quem sabe, discutir um pouco mais de teologia, dependendo da pessoa.
Redes Sociais