Este especial de 2 horas baseado na famosa e adorada série britânica sobre uma família e a gestão do seu património, com tudo o que isso envolve, traz para as salas do cinema a promessa da grandiosidade que os espectadores assíduos da série estavam habituados. Estruturado como um dos episódios da série, o filme anda em torno de várias histórias paralelas, cada uma com as suas pequenas cena, que ora vêm ora vão ao longo do filme. O argumento de Julian Fellowes (que ganhou o Óscar de melhor argumento original em 2002 com Gosford Park) leva-nos de volta àquele ambiente como se nenhum tempo tivesse passado entre o final da série, e estivéssemos a ver apenas o primeiro episódio da nova temporada.
O cenário é perfeito para o cinema, tudo o que revolve à volta da monarquia e aristocracia é atraente: o guarda-roupa impecável, a forma de falar snobe, os cenários imponentes e a cinematografia extraordinária, principalmente quando associados à postura da moral em combate entre as gerações e classes. Em conjunto, todos estes detalhes criam as bases perfeitas para um bom filme. Contudo, o que Fellowes conseguiu com o violento e submissivo Gosford Park, não consegue com Downton Abbey, sendo no argumento que encontra a sua maior falha. O filme é o contrário de excitante ou envolvente, o que é estranho se considerarmos que a premissa do filme é a visita da Família Real a Downton Abbey.
Maggie Smith (a adorada professora McGonagall) retorna como a condessa viúva de Grantham em toda a sua glória e magnificência, com as suas icónicas e espirituosas observações e comentários engraçados com todo o desdém que encerram. Imelda Staunton, a icónica Dolores Umbridge de Harry Potter e que foi agora confirmada para representar a rainha Elisabete II para a quinta temporada de The Crown (seguindo as performances de Olivia Coleman e Claire Foy), junta-se ao elenco, mas é menosprezada e subutilizada, juntamente com outros actores, principalmente no caso do caricato mordomo Molesley (Kevin Doyle) que é pateticamente encantador.
O cenário agora é 1927, e Downton está agitada e com a notícia de que o rei George V (Simon Jones) e a rainha Mary (Geraldine James) virão para uma visita. Várias histórias paralelas se desenrolam ora à volta dos monarcas trazerem os seus próprios mordomos e criados que rivalizam com os que são da casa, ora à volta da prata que vai desaparecendo ao longo da sua estadia, até ao talvez verdadeiro fio condutor da história: a relação entre a Lady Grantham (Smith) e Lady Bagshaw (Staunton) e o segredo que as une e talvez possa criar problemas para todos. Embora seja um prazer ver estas duas actrizes voltarem a contracenar juntas depois de Harry Potter, o argumento peca por não se focar mais entre as duas, pondo as suas performances quase como um rodapé apenas. O drama central parece então secundário e resolvido à pressa, o que é uma pena. Mas nem tudo é precário, o filme dá o fim merecido a algumas das personagens mais queridas e chega até a criar novas relações, envolvendo-nos ainda mais na vida destas personagens como é no caso do lacaio que virou mordomo Barrow (Robert James-Collier) que tem a sua sexualidade reconhecida e até celebrada.
Este filme oferece não só momentos mais tristes e sombrios como também momentos de alegria e diversão, finalmente atando algumas das pontas soltas que ficaram com o final da série, dando uma conclusão no geral satisfatória, mas que não deixa de levantar a questão se não deveria ter ficado no pequeno ecrã.
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