Pouco depois de descobrir e tomar consciência daquilo que o mundo cinematográfico podia ter para oferecer, surgiram alguns filmes e franquias derivados de universos dos super-heróis. Primeiro foi Batman, depois foi X-Men, mas foi em Spider-Man que mais me deliciei. Não só pelo imaginário que Sam Raimi e Tobey Maguire tornaram reais, mas por todos os momentos a jogar Spider-Man na PlayStation 1. O herói nunca me foi desconhecido, mesmo com pouca leitura dos seus comics. Com o passar dos anos, sempre acompanhei tudo o que vinha a ser lançado do aranhiço. Quer a trilogia de Sam Raimi, quer a duologia de Marc Webb ficaram marcados na minha experiência cinematográfica. Sendo estes filmes bons ou não, são filmes importantes para mim.
Quando a Marvel se afastou de licenças vendidas e começou a desenvolver aquilo que hoje conhecemos como MCU, estava longe de imaginar que este icónico personagem conseguiria juntar duas empresas rivais num trabalho conjunto sem precedentes. Tom Holland surge para carregar o pesado fardo de vestir um dos mais importantes fatos de super herói. É importante destacar que todo o universo de Homem Aranha é um dos grandes pilares desta companhia. O SpiderVerse envolve tanto conteúdo de grande qualidade, que pode subsistir sem precisar de outros heróis, levando a Sony a conseguir manter esta licença até ao limite. O negócio está encaminhado para o sucesso e ninguém quer deixar este barco.
Nesta terceira saga do universo de Homem-Aranha tudo começou bem. Os primeiros dois filmes, Homem-Aranha: Regresso a Casa e Homem-Aranha: Longe de Casa, são muito divertidos. Obras de entretenimento puro que souberam levar o herói por caminhos que nunca antes a Sony tinha conseguido. Explora lados bem diferentes deste herói, não recontando a habitual história, mas oferecendo uma experiência única em cada filme. O final do segundo deixa-nos numa expectativa gigante, com uma das maiores revelações que mudaria a vida deste herói. O tempo de espera até este terceiro título não ajudou a esta gestão de expectativa. Muitos meses de teorias, fãs totalmente loucos na busca por todos os segredos. Qualquer lançamento da Marvel era razão para se procurar todos os pequenos e ligeiros detalhes. Mas tudo chegou ao fim e temos muitas respostas.
Nas próximas linhas não direi quaisquer spoilers. Vou descrever o que achei do filme como um todo, sem me debruçar em detalhes. Certo é que este é talvez um dos mais difíceis filmes de não falar do que realmente aconteceu. Para saberes mais, podes sempre ouvir o nosso futuro episódio do podcast T4KE.
Homem-Aranha: Sem Volta a Casa é provavelmente um dos filmes mais completos por si próprio. A MCU está repleta de filmes com grande qualidade a nível colaborativo, mas muitos necessitam sempre de algo por trás para segurar a narrativa. Vingadores: Endgame é um dos melhores filmes do universo, mas não funciona tão bem quando olhamos para o mesmo sozinho. É difícil num universo expandido que algum filme possa ser absolutamente incrível sem mais alguns filmes atrás a suportar toda a narrativa. Neste isso não acontece e o filme suporta-se a ele próprio sem qualquer problema. Aliás, faz sempre parte da sua própria trilogia e é importante ter algum conhecimento do que aconteceu nos dois primeiros, mas para toda a complexidade da história deste terceiro capítulo só depende de si próprio.
Tenho de admitir que consigo pensar em mais dois ou três pormenores que podiam ter tornado este filme ainda mais forte emocionalmente. No entanto, tudo o que acontece é realmente suficiente para satisfazer os fãs desta saga e de todo este universo da Marvel. É um empreendimento quase impossível de imaginar, mas que aconteceu mesmo. Os vilões são a ligação perfeita com tudo o que a Sony construiu desde 2002. Contudo, nem todos senti que eram realmente necessários.
Sandman e o Lizard são peças pouco importantes para a narrativa e acabam a servir como uma conexão com o Spider-Man 3 e o The Amazing Spider-Man. Com estes dois vilões podemos referir que os cinco filmes antigos estão representados. No entanto, a sua ligação e peso para esta história torna-se muito irrelevante e mesmo na batalha final são apenas números. Além disso, o encaixe dos 5 vilões trouxe algumas questões de pouca lógica como o reconhecimento de certos personagens em relação a outros existentes nos seus universos. Pequenos pormenores que me deixaram ligeiramente desiludido com a pouca importância de certos vilões. Vou um pouco mais longe e digo mesmo que o Electro aparenta uma importância que verdadeiramente não tem.
Não se enganem, pois no seu todo a existência destes personagens oferece um nível de fanservice como nunca foi visto e isso vai com certeza deixar todos os fãs extasiados com todos e quaisquer acontecimentos deste filme.
Preciso ainda de referir algumas questões que podem criar problemas para o futuro, mas sem escrever qualquer spoiler fica muito complicado. No entanto, podem ficar com a certeza que este filme tem algumas questões narrativas que podem vir a levantar certos problemas com a continuidade da série na MCU e não só. São pequenos detalhes e que podem passar despercebidos, mas deixou-nos a pensar em alguns aspetos e na forma como estes se iriam traduzir nos próximos filmes.
Os problemas com os efeitos visuais eram mais que conhecidos pelo público em geral. Várias notícias foram lançadas pelos problemas que o filme vinha a passar desde o início da sua produção. No final, tivemos uma grande qualidade neste aspeto, mas há claramente vestígios das dificuldades de produção. Em certos momentos, foi possível observar problemas ligeiros que para os mais atentos pode fazer alguma confusão. Longe de estragar a experiência deste filme, mas notoriamente não ficou tudo ao mais alto nível.
É importante referir que todas as produções da MCU tem as suas questões quanto aos efeitos visuais. Nem sempre tem sido o ponto mais positivo deste universo, sempre com muitas variações de qualidade até durante o filme. Aqui não é diferente e Homem-Aranha: Sem Volta a Casa está longe de ser perfeito nos efeitos especiais. Vários momentos do aranhiço fizeram-me torcer o nariz, sendo que a última metade do filme é a mais notória para estes problemas. É interessante relembrar a trilogia original, que tinha as suas limitações técnicas da altura e também os dois filmes de Marc Webb, que sendo num tempo mais atual possui também os seus problemas nos efeitos especiais. Rapidamente compreendemos que esta é uma dificuldade antiga e mesmo tendo sido agravado neste filme, não é surpresa que a qualidade não esteja no seu máximo.
Como já referi anteriormente, Homem-Aranha Sem Volta a Casa é um filme totalmente dedicado aos fãs, habitualmente referido como fanservice. A questão é que isso nem sempre é um fator positivo para a qualidade geral dos filmes. Há vários exemplos ao longo da história cinematográfica que demasiado fanservice pode descurar em outros aspetos dos filmes. Aqui podemos referir que a situação está equilibrada e apesar do filme estar carregado de momentos que vão fazer os fãs delirar, a sua qualidade não se perde no meio disso. Explorar momentos que levam os fãs a uma experiência única na sala de cinema é o que este filme faz de melhor, sem qualquer dúvida. Apesar de considerar algum exagero aquilo que aconteceu na nossa sala de cinema, reconheço que há momentos em que até eu senti aquela felicidade desmedida.
Quando me refiro a isto ser um problema tem a ver diretamente com os fãs. As reações na nossa sala de cinema tiveram tanta lógica como estar a ver um concerto musical de um jovem artista com os seus fãs aos gritos na primeira fila do início ao fim. Chegou ao ridículo de qualquer acontecimento no filme fazer a sala explodir, mas nos momentos que só os mais conhecedores do herói percebiam era um silêncio de rir. Eu compreendo que havia muita euforia para saber tudo o que iria aparecer neste filme e percebo uma reação mais eufórica das maiores surpresas, mas nem tudo foi uma surpresa. A reação exagerada da nossa sala esmoreceu a nossa experiência em particular. Já nada era uma surpresa ou um momento de euforia, porque todos os momentos eram gritos, palmas, e loucura.
Explorar estes universos foi sem dúvida uma experiência espetacular e mesmo com tudo o que aconteceu naquela sala de cinema tentei absorver tudo o que este filme tinha para oferecer.
Jon Watts não falha pela terceira vez. Apesar de alguma vantagem sobre os seus antecessores, devido à ligação da Marvel Studios com a Sony Pictures, Watts não se sentiu intimidado pelo empreendimento que tinha em mãos e desde o primeiro filme que nos leva por experiências muito positivas. Contudo, este senhor é apenas um nome no meio da equipa que tornou isto tudo possível. Desde Amy Pascal e Kevin Feige, até ao grupo que tornou estes efeitos possíveis, mesmo a trabalhar até ao último minuto. Todos os nomes desta equipa gigante que tornou possível a existência de mais um grande filme na MCU.
Por muitos problemas que este universo tenha e pela falta de qualidade que alguns filmes contêm, ou até mesmo por ter criado um modelo de negócio que muitos desprezam, não podemos negar que foram criadas diversas situações únicas e históricas para o mundo cinematográfico. A espetacularidade dos acontecimentos colocam este terceiro capítulo do aranhiço no mesmo patamar dos melhores filmes do Universo Cinematográfico da Marvel. Tudo isto tornou-se possível graças a toda a equipa por trás desta obra.
Não podemos falar em equipa sem referir o elenco presente. Até hoje, julgo que nenhum dos atores que interpretou o aranhiço era o perfeito. Um mais que outro, mas todos eles tinham os seus pormenores que se desviam daquilo que supostamente é ser o Peter Parker. No entanto, todos eles nos oferecem detalhes únicos nesta interpretação e transportam-nos de formas diferentes para jornadas muito específicas. Tom Holland não é exceção e o ator tem feito um excelente trabalho ao encarar a personagem. Mesmo quando olhamos para lá do filme, conseguimos sentir que este é o seu papel. É como relembrar Robert Downey Jr. que parece ter nascido para o papel de Tony Stark, entre muitos outros que dificilmente os desligaremos dos seus personagens. Tom Holland é e vai ser o Homem-Aranha por muitos anos, seja no papel seja no imaginário dos fãs. Longe de ser perfeito, mas deixou rapidamente a sua marca e é um dos mais interessantes.
Tom Holland também conta com parceiros incrivelmente carismáticos. A sua MJ, interpretada por Zendaya ou o seu parceiro Ned, the computer guy, que é interpretado por Jacob Batalon. Qualquer um tem tido um papel muito importante na jornada do herói e aqui não ficam indiferentes. Antes pelo contrário, têm aqui o maior destaque nos três filmes, apontando algumas questões que podem vir a ser algo importantes no futuro da MCU… Quem sabe. A entrada de Doctor Strange, o fantástico Benedict Cumberbatch, é uma adição de peso e apesar de uma participação relativamente curta, tem uma importância enorme para o futuro do universo da MCU. Do lado dos vilões, julgo que Alfred Molina, mas mais Willem Dafoe levam os restantes às costas. Como já referi antes, há vários vilões que estarem ou não estarem neste filme daria exatamente no mesmo. No entanto, estes dois têm uma carga e um peso tão impressionante em toda a narrativa que fazem completamente o filme por eles próprios.
Homem-Aranha: Sem Volta a Casa é um filme único e com uma qualidade de topo no seu todo. Não é um filme incrível em todos os seus pormenores. Explora um lado de Peter Parker que até hoje nunca tinha sido conseguido no cinema, mesmo com algumas tentativas pelo meio. É um filme divertido, que entretém, mas ao mesmo tempo sério e pesado. Contém uma carga emocional e nostálgica muito interessante, explorando e oferecendo uma visão sobre os restantes universos da Sony, como nunca antes foi feito. Não se perde pelo caminho e encaixa os alicerces bem cedo e com uma grande força.
É um filme único, que funciona muito bem sozinho e a acompanhar a MCU. Além disso, serve para qualquer propósito que as duas empresas tenham no futuro. O caminho pode ser conjunto ou não. De hoje para amanhã podem terminar os projetos ligados entre as duas empresas, mas fica tudo encerrado de uma forma ideal para todo e qualquer desfecho do futuro. Este filme é uma autêntica homenagem aos filmes de super-heróis e é uma forma de não esquecer o passado. Vai ultrapassar gerações de fãs. se para uns é apenas um hype desmedido por medo de ficar de fora das novidades, para outros vai ser uma carga nostálgica e de paixão como nunca antes se viu. Explorar este universo é uma aventura e faço-o desde 2008.
Não falho um projeto da Marvel desde 2002. Cada projeto teve os seus valores e os seus problemas, mas a MCU conseguiu alcançar objetivos muito além daquilo que imaginava, ou até mesmo eles imaginavam. Podia terminar hoje que ficava muito satisfeito com todo o resultado.
Este é um filme obrigatório!
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