Kenneth Branagh regressa em Morte no Nilo, para dar vida pela segunda vez a Hercule Poirot, depois da sua estreia no papel em 2017 com o filme Um Crime no Expresso do Oriente, também realizado pelo ator. O mais famoso detetive belga regressa para desvendar um novo crime no meio do Rio Nilo, em pleno Egipto dos anos 1930.

Após ter protagonizado Poirot em Um Crime no Expresso do Oriente em 2017, Kenneth Branagh expressa com entusiasmo que gostaria de continuar neste potencial universo cinematográfico de Agatha Christie. O ator/realizador preparou-se durante semanas para desempenhar o papel de Poirot, desde ler por ordem cronológica as aventuras do icónico detetive, ouvir gravações de várias pronúncias belgas a falar inglês e a contratar um treinador linguístico para aperfeiçoar a pronúncia de Hercule Poirot. Kenneth Branagh referiu numa entrevista que tentou deixar crescer o bigode ao máximo, para se assemelhar ao icónico bigode do célebre detetive.

Morte no Nilo marca o regresso do mais famoso detetive belga a um caso de mistério. O filme centra-se em Linnet Ridgeway (Gal Gadot) e o seu marido Simon Doyle (Armie Hammer), quando após a festa do seu casamento, o casal convida várias pessoas, incluindo Poirot que estava de férias no Egipto, a passar a lua de mel com eles a bordo de um navio no Nilo. A lua de mel não começa bem, quando a ex-namorada de Simon, Jacqueline de Bellefort (Emma Mackey), aparece de surpresa no navio, desesperada para voltar a reconciliar-se com ele.

Nesta história de crime, inveja e traições, junta-se também grandes nomes como Armie Hammer, Rose Leslie, Letitia Wright, Annette Bening, Russell Brand, Ali Fazal, Dawn French, Sophie Okonedo, Jennifer Saunders. Tom Bateman regressa com Bouc, um grande amigo de Hercule Poirot.

Beleza Egípcia

Morte no Nilo é um filme de uma beleza maravilhosa. Não só conta com uma fotografia absolutamente extraordinária, como os cenários e o guarda-roupa se adequa extremamente bem à época do filme.

Comecemos pela fotografia e os cenários exteriores. O segundo filme daquele que Branagh pretende fazer um universo cinematográfico de Agatha Christie, foi filmado todo em 65mm, para dar uma maior imersão do filme, e em várias localizações do Egipto. O país dos faraós é sem dúvida lindíssimo e apresenta-nos paisagens deslumbrantes ao longo do Nilo, incluindo uma das Sete Maravilhas do Mundo da Antiguidade, as Pirâmides de Gizé. Ao longo desta viagem pelas idílicas vistas do Egipto, o nosso grupo em lua de mel, visita as cidades maravilhosas de Aswan, Luxor e Cairo, e ainda o majestoso templo de Abu Simbel.

O crime de Morte no Nilo acontece com vista para a beleza do Nilo, a bordo do SS Karnak, o luxuoso paquete que transportava Linnet Ridgeway e Simon Doyle em lua de mel, juntamente com o seus convidados. Todos os cenários a bordo do paquete estão absolutamente credíveis, quer no exterior como no interior do mesmo. O detalhe da decoração e construção do paquete é extraordinário. Kenneth Branagh decidiu construir o navio da maneira mais real possível e o elenco só poderia vê-lo quando a cena de entrada no mesmo fosse filmada. O ator/realizador queria capturar uma reação o mais natural possível, e foi precisamente isso que conseguiu. O SS Karnak é efetivamente uma verdadeira obra de engenharia e, mesmo não tendo motor ou flutuar, ninguém pode negar a sua imponência.

Relativamente ao guarda-roupa, é perfeitamente adequado à época do filme, os anos 1930. Nota-se a diferença de estilo e classe social, especialmente quando comparamos o guarda-roupa de Linnet Ridgeway com o de outros personagens. Gal Gadot esteve extraordinariamente bem vestida, durante todas as suas cenas no filme, bem como o icónico detetive belga, Hercule Poirot.

Universo Agatha Christie

Agatha Christie escreveu Morte no Nilo em 1937, após regressar de umas férias passadas no Egipto. Existiram várias adaptações da obra, inclusive como peça musical no West End (em Londres) e na Broadway (Nova Iorque). A primeira adaptação cinematográfica aconteceu em 1978. Teve direito ainda a uma série de televisão, Agatha Christie’s Poirot, em 2004 e, mais recentemente neste filme de 2022, protagonizado por Kenneth Branagh.

O ator/realizador pondera a oportunidade de fazer mais filmes, o que poderá criar um “universo cinematográfico” de Agatha Christie com filmes sobre as aventuras de Hercule Poirot.

Morte no Nilo é um filme de crime, mistério e suspense que deixa qualquer pessoa de água na boca. Tem cenários de cortar a respiração, uma banda sonora espetacular e completamente adequada à época e, uma exibição de Kenneth Branagh como Hercule Poirot extraordinária.

A adaptação da obra de Agatha Christie sofre algumas alterações, nomes e quantidade de personagens, mas o núcleo importante da história mantém-se bem coeso, com interpretações muito bem conseguidas.

A história está bem conseguida, o ritmo do filme até certo ponto é um pouco lento, visto que não sabemos logo nos primeiros 15/20 minutos quem é a vítima do crime. Toda a emoção que advém na tentativa de descobrir o assassino é ainda mais presente neste segundo filme. No entanto, temos a sensação que esta adaptação salta algumas questões, como motivos para cometer o crime e, a relação de alguns personagens com a vítima.

Morte no Nilo é uma experiência visualmente agradável, com alguns erros de adaptação. Mas, a grande maioria de adaptações literárias ao grande ecrã peca em pequenos detalhes.

Caso a recepção do filme seja boa, podemos estar perante o segundo filme do universo cinematográfico de Hercule Poirot.