Tecnicamente, a antiga lenda do dragão dos desejos da China antecede a história de Aladdin e o seu génio da lâmpada. Porém, é impossível não pensar imediatamente neste clássico da Disney ao assistirmos O Dragão dos Desejos, e vemos Din, o herói do filme, a esfregar um bule de chá do qual sai um dragão rosa fluorescente, pronto para realizar três dos seus sonhos mais selvagens.
Para além disso, temos ainda a história do mesmo jovem infeliz que se quer conectar com uma rapariga bonita e rica. Ao encontrar um item mágico, que liberta um ser poderoso que concede desejos e decide usar um deles para parecer rico e, assim, impressioná-la. A premissa é nos familiar, no entanto as semelhanças entre os dois rapidamente passa para segundo plano. O Dragão dos Desejos oferece um mundo totalmente novo e um novo ponto de vista fantástico dentro desta mensagem inicial de ter “cuidado com o que se deseja”.
A nossa história começa, no entanto, antes deste encontro do jovem Din com o seu dragão mágico. Na realidade, começa em Xangai com Din ainda pequeno, a contruir a sua amizade com Li Na, uma rapariga rebelde, destemida, e que o protege. Opostos sem serem opostos, os dois são quase como que o yin para o yang um do outro. O pai de Li Na, entretanto, arranja uma nova vida, mais rica, e leva-a com ele para longe de Din e do seu pequeno bairro pobre, mas cheio de amor e família.
Anos depois, Din não esqueceu Li Na, e arranja trabalhos enquanto estuda, para arranjar todos os trocos possíveis para poder comprar um bom fato para a ir visitar e impressionar na sua mansão. É num destes trabalhos que Din é abordado por um velho baixinho engraçado que diz ser um Deus e que lhe oferece um bule de chá. Quando de lá sai Long, um dragão mágico e engraçado, ansioso para servir, Din não cobiça dinheiro ou poder, mas apenas ajuda para poder ver Li Na e se reencontrar com a sua amiga de infância.
Depois de usar o desejo de entrar em sua festa de aniversário ostentosa, Din percebe que agora eles estão a morar em dois mundos completamente diferentes. Enquanto isso, um vilão misterioso que deseja possuir o bule mágico para seus próprios propósitos malignos contrata três capangas misteriosos que começam a perseguir Din e, eventualmente Li Na, desencadeando uma série de peripécias e cenas de ação animadas de forma estupenda e divertida.
O Dragão dos Desejos apresenta Din como uma alma pura e sincera, alguém que pode ensinar a Long uma lição ou duas sobre as prioridades da vida, mas também como um “camponês” para a “princesa” de Li Na. Visualmente, o filme pinta um brilho de desenho animado na Xangai dos dias modernos, para destacar a diferença entre os ricos e todos os outros. São muitas bordas arredondadas e cores suaves, dando ao bairro menos rico de Din uma aparência particularmente acolhedora, especialmente em contraste com os brancos da mansão de Li Na.
O maior problema do filme são as figuras vilãs, que basicamente existem apenas para adicionar cenas de luta e perseguição supérfluas. Os três capangas e o líder que eles seguem parecem ameaças obrigatórias, quando na realidade o conflito real de Din, Long e Li Na contra as desigualdades fundamentais da sociedade é mais interessante. Infelizmente, o terceiro ato do filme torna-se mais supérfluo e previsível nas suas reviravoltas de quem é o verdadeiro vilão, quase como forçando a dar a Din e Long um adversário mais concreto do que a desigualdade económica. Ainda assim, o final é interessante e não desaponta.
No geral, O Dragão dos Desejos não vai muito além de parâmetros previsíveis. As piadas no seu geral são escritas a pensar em crianças, baseando-se na sua maioria no humor infantil, e a premissa é já mais do que conhecida. No entanto, consegue explorar alguns temas interessantes, debruçar-se sobre desigualdades sociais. E claro, bem ao estilo dos filmes de animação, embrulhar uma ou duas lições sobre o valor da amizade, a importância da família, e o sentido da vida num espetáculo visual emocionante, cativante e colorido.
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