“The Goldfinch” é a adaptação da obra com o mesmo nome de Donna Tartt, vencedora do prémio Pullitzer em 2013. Ao sabermos isto criamos grandes expectativas, é inevitável, expectativas essas que infelizmente não são alcançadas. O enredo é interessante, o que seria de esperar, mas talvez resultasse melhor como uma minissérie para a televisão. Encurtá-lo para duas horas e meia é complicado, visto que o enredo é complexo e precisa de tempo para ser desenvolvido e como consequência alguns momentos cruciais são apressados. Theo perde a mãe durante um bombeamento no Museu Metropolitano de Arte quando ainda é criança, porém cena da bomba apenas aparece em flashbacks e nunca na sua totalidade, o que não forma uma cena comovente. A mãe morre e não sentimos angústia ou tristeza, apenas nos focamos na nuvem de poeira que em câmara lenta vai acontecendo.
Após o bombardeamento, o jovem Theo (Oakes Fgley) é acolhido por uma família rica, os Barbours, estabelecendo uma rede interpessoal importante para o resto do filme, e da qual se salienta o papel breve mas bem-conseguido de Nicole Kidman, a guardiã que com boas intenções o introduz a comprimidos para o ajudar a lidar com o trauma. A verdadeira história, porém, apenas começa quando é revelado o segredo que Theo traz consigo: Theo impulsivamente rouba “The Goldfinch”, uma peça de arte do famoso pintor holandês Carel Fabritius. O quadro que representaria a última conexão de Theo com a mãe, a perda e o luto, desencadeia uma cascata de peripécias quase como uma segunda bomba. Para além disso, no meio da confusão, um homem às portas da morte dá a Theo um anel e um lugar onde entregá-lo. Quando o pai (Luke Wilson) o obriga a ir com ele para o deserto do Nevada, a única coisa boa por entre o abuso emocional de que é vítima e a falta de cuidado ou atenção que o pai lhe parece prestar, (parecendo apenas interessado no dinheiro que pode conseguir com o filho), é a amizade que ganha com o jovem ucraniano Boris (Finn Wolfhard), a quem mostra o seu quadro roubado.
Theo (Ansel Elgort) cresce e torna-se um adulto perturbado e viciado em Vicodin, porém não o transparece para o exterior. Em vez disso, esconde-se por detrás de um ar de sofisticação, trabalhando como um jovem negociante de antiguidades duvidoso para um restaurador de antiguidades chamado Hobie (Jeffrey Wright), com o qual estabelecera uma amizade ao longo dos anos após lhe ter entregue o anel como lhe pedira o homem moribundo. Eventualmente, Theo envolve-se num escândalo à volta do quadro roubado, quando se descobre que afinal este não terá ardido ou desparecido com a bomba, mas que ele o possui. Ou será que o possui? O argumento em teoria é forte e cativante mas na prática deixa a desejar. Elgort não é convincente e é incapaz de transmitir o tumulto emocional da sua personagem. O livro que é um novelo de coincidências bem articuladas é adaptado para o grande ecrã sem sentido, ritmo ou mistério. O realizador John Crowley e o argumentista Peter Straughan parecem intimidados pelo material original rearranjando a obra, que originalmente acontece em ordem cronológica, numa estrutura dispersa e incoerente. A intenção talvez fosse a de tornar explícitas as conexões entre o seu passado e futuro, mas não há detalhe ou caracterização suficiente para funcionar.
No final, um bom guarda-roupa e banda-sonora não conseguem salvar a adaptação fraca e pobre de uma obra que merecia mais.
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