Contar o enredo de Palm Springs é tecnicamente revelar um spoiler. Este é um filme que começa como uma coisa, mas rapidamente se torna algo completamente diferente – e é absolutamente brilhante. A lógica básica e sem spoilers é que dois estranhos, Nyles e Sarah, se encontram num casamento em Palm Springs, e tudo se desenrola a partir daí. Para falar mais do filme, porém são necessário leves spoilers, e por isso, perdoem-me mas aqui vai.
Palm Springs segue o dia de Nyles, que parece viver a sua vida com o mantra de que “nada realmente importa”. Ele realmente parece não se importar que a sua namorada o esteja trair e essa atitude despreocupada parece estranhamente encantadora quando a cerimónia começa. Acontece que Nyles está preso num ciclo do tempo e vive o mesmo dia repetidamente “há muito tempo”, e Sarah inadvertidamente é sugada pelo ciclo do tempo com ele. Só esse detalhe é um brilhante twist numa premissa que está mais do que batida. Ter alguém preso contigo torna esta comédia diferente e inovadora, porque quando Sarah fica presa no ciclo do tempo, ela imediatamente descobre que não está sozinha – alguém está lá com ela. Ela tenta todos os truques do livro para sair, o que Nyles avisa que ele já tentou. Depois do que ele descreve como anos e anos, Nyles resignou-se ao seu destino e vive literalmente como se nada importasse porque não importa. Ele festeja, fica com as pessoas, morre, mas sempre acorda no mesmo dia. A monotonia é cómica e depois insuportável, algo que percebemos ainda melhor agora depois de termos passado por uma “quarentena”.
O roteirista Andy Siara e o director Max Barbakow conseguem um filme histérico e comovente que poderia ter dado errado de várias maneiras, mas que parece conseguir fazer sempre a escolha perfeita. Nyles e Sarah inicialmente concordam em não dormir juntos, mas provavelmente podem adivinhar para onde está história irá. Ao longo do filme, eles começam a quebrar as barreiras um do outro. Ambos mentem para si mesmos sobre coisas diferentes, mas um no outro encontram um motivo para sair da cama todos os dias. O resultado é uma comédia hilariante, um drama comovente e uma história de amor genuinamente emocionante que se atreve a dizer que talvez a vida seja um pouco melhor com um companheiro ao teu lado.
O que faz Palm Springs brilhante são as várias maneiras como evita as armadilhas relacionadas a este género em particular. Nyles e Sarah recebem o mesmo peso de personagens. Nyles não é um palhaço cuja vida será endireitada por Sarah, e Sarah não é apenas um objecto sexual para Nyles. Ambos são hilariantes, espirituosos, perturbados, tristes e complicados, e tanto Samberg como Millioti são absolutamente fenomenais na sua interpretação.
No fundo, Palm Springs é uma história de amor, mas sem as noções ingénuas ou desactualizadas sobre romance. A natureza niilista de Nyles e, até certo ponto, de Sarah fornece um ponto de partida fascinante para o relacionamento deles, e quando eles se conhecem melhor, o filme desafia directamente aqueles que realmente acreditam que nada importa. Uma vida pode certamente valer a pena ser vivida de forma independente, mas Palm Springs leva para casa a ideia de companheirismo à sua maneira pateta e genuinamente pungente. Acaba por ser uma conversa com todos os tipos de implicações sobre como abordamos as nossas vidas, e catapulta-se, assim, para o topo das comédias do ano.
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