Comecei a ver este filme sem saber muito bem o que me esperava. É verdade que o realizador, Julius Avery, já tinha mostrado o seu talento no passado em Overlord, de 2018, mas por outro lado, o responsável pelo guião, Bragi F. Schut, tem aqui a sua primeira longa metragem. O que nos leva a ter um filme de super heróis à superfície, mas muito genérico quando tenta aprofundar qualquer questão. Samaritan é baseado na novela gráfica de Bragi F. Schut, Marc Olivent e Renzo Podesta, publicada pela Mythos Comics em 2014.
Na base, esta história leva o leitor e agora espectador numa viagem por um mundo citadino realista e a fantasia dos super poderes. Mostrando uma premissa bem interessante que depois cai em motivações e desenvolvimentos demasiado simplistas. Acaba por ser mesmo Avery e a fotografia deste filme, a cargo de David Ungaro, que dão alguma cor a esta película. A par com estes, está o elenco que coloca performances conviventes dentro do que têm para trabalhar. Samaritan chegou à Amazon Prime Video e apesar de não ser obrigatório, fica a nota para quem gosta de consumir conteúdo relacionado com super heróis.
A história deste filme segue Sam, que vive num bairro mais pobre de Granite City. Sam tem o sonho de encontrar o herói Samaritan, que há 25 anos foi dado como desaparecido. Depois de conhecer Joe Smith, vizinho do prédio da frente que trabalha como homem do lixo, Sam começa a desconfiar que este poderá ser o desaparecido herói. O filme arranca com um prólogo ao estilo cartoon onde nos apresenta algumas ideias do passado. A luta entre Samaritan e o seu irmão maligno, Nemesis, que levou à morte do segundo e desaparecimento do herói. Sam viu o seu pai falecer uns anos antes e a mãe totalmente ausente devido ao trabalho que não chega para pagar a renda. Com a vida desta forma, o pequeno protagonista coloca-se numa posição complicada entre gangues e questões morais.
Sam acaba mesmo por entrar em conflito de influências, apesar de pouco aprofundado. A forma como o personagem se liga ao criminoso Cyrus e a Joe, podia ter sido utilizado para explorar um lado mais emocional do personagem, mas o ritmo a que a história nos é apresentada não permite que esta ideia se desenvolva. Senti que foi nesta parte que o filme me perdeu. Toda a primeira parte do filme deixou-me curioso por saber mais e principalmente colocou ideias em cima da mesa com grande potencial. Tudo com uma imagem meio grotesca e com uma realização com carácter. Mesmo com as falas mais básicas, o restante tinha potencial e agarrou-me o suficiente para o resto do filme. A partir daí, a segunda e terceira parte do filme deixam muito a desejar. Torna-se num festival básico já mais que visto.
Com cenas de ação que pouco têm para oferecer, mas principalmente um vilão que se apresenta tal como é, sem grandes surpresas e ficando aquém daquilo que um fã de super heróis espera de um vilão. Não há intenções válidas ou sequer fortes o suficiente para que Cyrus seja o novo Nemesis, como ele próprio se apelida. Há uma tentativa imensa de colocar este personagem como o “bad guy”, mas nunca é apresentado o porquê. Isso leva a que tudo o que vai sendo apresentado, mesmo o maior twist do filme, não tenha o impacto esperado.
Samaritan é um filme que na primeira vista parece competente naquilo que tenta produzir. O realizador oferece uma interessante visão das cenas de ação, com coerência e até alguns momentos intensos, mas perde com o fraco nível de efeitos visuais apresentados. Há certos momentos que chegam a ser mesmo desastrosos, com pouca credibilidade e de baixíssimo orçamento.
O filme arrecada ainda alguma qualidade devido às prestações, que mesmo com o fraco guião fazem o que podem para explorar os seus personagens da melhor forma. A verdade é que Samaritan é um filme para streaming e parece querer demonstrar isso mesmo. Não tem a atenção que merecia e acaba mesmo por se perder em mais um filme básico de super heróis. Na tentativa de se encaixar perante algumas séries atuais, como The Boys, este filme falha miseravelmente, com um aspeto mais amigo dos mais novos.
Faltou um maior destaque no personagens que deveriam ter sido o centro da história: Samaritan e Nemesis. Levar estes dois personagens ao destaque, com uma construção digna do herói, mas principalmente com a exploração das intenções do vilão da história. Estes dois personagens tinham potencial para oferecer uma produção de grande qualidade e uma história com uma narrativa muito mais interessante do que acabamos por ter no produto final.
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