The Outfit surpreende pelo facto de ser continuamente imprevisível. É surpreendente que este seja o primeiro filme como realizador de Graham Moore, previamente elogiado como argumentista ao ponto de em 2015 vencer o Óscar de Melhor Argumento Adaptado por O Jogo da Imitação.
Como seria de esperar, Moore e o co-roteirista Johnathan McClain fazem maravilhas com o argumento de The Outfit, tecendo um enredo gradualmente complexo, detalhado e inesperado. Todo o filme é um labirinto no qual, felizmente, nos perdemos e do qual ansiamos por descobrir a saída, não porque queremos ir embora, mas porque queremos saber o que nos espera do outro lado. The Outfit desenrola-se dentro de uma pequena e íntima alfaiataria na década de 1950. O mestre por detrás do pequeno atelier é Leonard Burling (Mark Rylance), um “cortador” – ele faz questão de não ser chamado de alfaiate, por motivos que mais tarde percebemos – treinado em Savile Row que deixou a sua casa em Londres para o Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial.
Os nazis foram obviamente o principal motivo da sua partida, mas desde cedo notamos que existe algo mais, uma tragédia secreta que o motivou a vir embora da sua terra natal. Aos poucos, Leonard conseguiu estabelecer-se, mas o sucesso não é apenas seu, mas sim também devido ao patrocínio dos gângsteres locais: Roy Boyle (Simon Russell Beale), que controla todo aquele território com o filho desconfiável, Richie (Dylan O’ Brien) e a ajuda de Francis (Johnny Flynn), o novo menino de ouro de Roy. Mark Rylance fornece um centro sólido com uma performance tipicamente calma, mas que esconde todo um mundo interior. Aliada à sua performance de excelência, parte da diversão de The Outfit é o comportamento continuamente auto-renovador que mantem os espectadores a adivinhar o que raio se está a passar até ao último momento.
Inesperadamente, no entanto, é observar Graham na cadeira de realizador, e a forma profissional com que orquestra os mistérios do filme com um olhar atento e minucioso. De facto, o que poderia ter sido uma peça de teatro transforma-se em algo magicamente cinematográfico nas suas mãos. Há uma mestria generosa nos detalhes que Moore ora escolhe mostrar ora esconder, em qual rosto se concentra e como bloqueia as cenas. Igualmente impressionantes são os figurinos do filme, elaborados com vertiginosa precisão de época por Sophie O’Neill e o famoso estilista Zac Posen. No final, um sentimento descreve The Outfit: chique, rico, e sumptuoso, desde a sua cinematografia e realização, até à roupa e ao texto. O título só por si mostra a forma como nada é o que espera: embora The Outfit signifique um figurino, é também o nome da máfia. Um filme refinado e bem escrito que segue gângsteres vestidos a rigor apontando armas uns contra os outros num espaço fechado e cheio de reviravoltas.
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