Tick, Tick… Boom, um dos projetos deste ano de Lin-Manuel Miranda, traz para o grande ecrã um tributo sincero ao talento da Broadway, Jonathan Larson, interpretado aqui por Andrew Garfield, tendo sido previamente interpretado no palco pelo próprio Lin-Manuel Miranda. Um projeto claramente sentimental para este, o resultado traduz-se numa homenagem cheia de coração sobre Larson, um compositor que criou espetáculos de grande sucesso como Rent, e que se não tivesse morrido tão novo de certeza teria sido autor de muitos mais.
Adaptado pelo roteirista Steven Levenson a partir da peça autobiográfica de Larson com o mesmo nome, Tick, Tick… Boom conta a história do seu primeiro grande projeto musical: uma fantasia futurista extremamente ambiciosa chamada Superbia. Tick, tick… Boom! começa quando ele está prestes a completar 30 anos e ainda luta com a criação deste musical distópico e futurista de ficção científica em que trabalha há oito anos. Larson está prestes a ter o seu primeiro workshop de produção, o que é emocionante e aterrorizante, especialmente porque ainda não escreveu o solo crucial do segundo ato para uma personagem chamada Elizabeth, que é o ponto de viragem do espetáculo. Acrescentado a isto, temos ainda o facto de não ter dinheiro, a namorada precisar de uma resposta sobre se deve aceitar um emprego longe de onde eles vivem e se este virá com ela ou não, e um dos seus amigos mais próximos estar no hospital com SIDA, a mesma doença que matou outros três de seus amigos, todos na casa dos 20 anos. O título do filme refere-se à pressão que ele sente interna e externamente.
O filme é ironicamente sobre a “quarter-life crisis” (crise de quarta-idade, em português) de Larson e os primeiros contactos com as noções de mortalidade e finitude, sejam estas literais como também metafóricas, para a vida de artista, que normalmente tende a ter um prazo de validade curto no que diz respeito a criatividade. Acima de tudo é sobre esperança, sonhos e perseverança, sobre não desistir de ser aquilo que se quer ser em troca de um emprego chato que pague bem. Resumindo, Larson sente que o mundo é bomba-relógio e que em breve a sua carreira explodirá. A dúvida que resta é se será no bom sentido?
Andrew Garfield é irrepreensível no seu retrato do escritor teatral charmoso, efusivo. Sempre em busca de inspiração criativa, mas também sempre à beira da exaustão e agora tentando absorver a nova possibilidade de desilusão. Garfield habilmente transmite o sentimento de urgência de Larson e a mistura de confiança, ambição e frustração de um artista que tem muito a dizer e ainda assim tem que lidar com as realidades da vida quotidiana, incluindo desapontar as pessoas que deram tanto para o apoiar. Ele quer colocar no seu trabalho as suas opiniões sobre o que está acontecer no mundo, mas como alguém o lembra, embora possa pensar que tem muito a dizer, ele é apenas mais um. Só quando fica no comando do elenco para a sua primeira produção que o vemos entrar no seu verdadeiro, que estava à espera para explodir e finalmente começar a explorar todo o seu potencial.
Algumas pessoas poderiam ficar frustradas com a perceção de Larson da sua própria importância e com a negligência das pessoas ao seu redor. No entanto, qualquer um que se afunde um pouco mais neste estudo de personagem perceberá que não é a sua própria importância que o entusiasma. Mas a importância das histórias que deseja contar, as histórias de pessoas que reais. E são estas mesmas histórias que mais tarde lhe trazem sucesso.
Em última análise, Tick, Tick… Boom! não é um filme que dá ao seu herói um final feliz, mas um filme que embrulha com músicas extraordinárias e performances sólidas a história de um homem que acredita que não desistir, e lutar dia após dia, desilusão após desilusão, um dia valerá a pena.
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