Num destes dias, estava à procura na Netflix de um filme diferente, quando me deparo com um trailer um tanto peculiar e que me deixou um pouco curiosa por ver o desenrolar da história. O filme que estou a falar tinha na realidade acabado de estrear a 4 de Setembro – I’m Thinking of Ending Things.
Este é um filme baseado no livro de Iain Reid, com o mesmo título e realizado por Charlie Kaufman. Mas a grande questão aqui é: o filme é sobre o quê? Começa por uma história simples de uma jovem rapariga (Jessie Buckley) que vai numa viagem com o seu namorado (Jesse Plemons) conhecer os seus pais. Estes acabam por ficar presos na quinta com os seus pais (Toni Collette e David Thewlis) devido a uma tempestade.
Durante todo o percurso a rapariga começa a questionar tudo o que aconteceu, tudo o que sabia sobre o namorado, sobre ela e o mundo. Começando por explorar os seus arrependimentos e a fragilidade do espírito humano.
O filme é bastante complexo por si só, tal como o livro, mas o realizador Charlie Kaufman não nos facilita as coisas, gostando de deixar o filme aberto a múltiplas interpretações. A primeira grande pista sobre o que acontece é o facto da actriz principal, Jessie Buckley, desde do início do filme que começa por narrar a história e repetir a todo o tempo “I’m thinking of ending things”. Durante todo o percurso que eles têm a caminho de casa dos pais, sempre que ela pensa nisto, Jake interrompe quase como se ele conseguisse ouvir os pensamentos dela.
Tal como no livro, o facto de ela estar constantemente a repetir “I’m thinking of ending things” acaba por nos direccionar que ela esta a pensar acabar o seu relacionamento com o namorado enquanto está a caminho para conhecer os pais dele. Mas para além dessa interpretação, esta frase também poderá ter outro significado mais sombrio: “I’m thinking of committing suicide“. Este último seria o final que o livro tomou.
Ao longo do filme, o realizador dá-nos diversas pistas subtis sobre o que está acontecer. Todo o desenrolar das personagens, como o que se passa com o Jake, o facto de num minuto estar a apresentar a namorada aos pais, e noutro vermos ele a cuidar dos pais até à morte. O facto de não sabermos o nome da namorada e este estar constantemente a mudar ao longo do filme. Da mesma forma que não sabemos a profissão dela, que começa por dizer que é empregada de mesa, pintora, estudante – mas isto parece ser tudo intencional, uma forma que o realizador Kaufman arranjou para nos alertar e nos dar alguns sinais.
Outra pista mais estranha, é quando ele mostra uma foto de quando era pequeno à namorada, e esta ao olhar para a foto, vê-se a ela mesma, questionando-se o porquê de estar ali. Isto é uma das grandes indicações que temos no filme de que na realidade o que se passa é que Jake está a contemplar a sua vida e que estamos a rever o que aconteceu no passado até chegar aquele ponto decisivo. Deixando-nos uma grande questão no ar: será que a namorada existe? Ou isto é tudo fruto da sua mente?
Ao longo do filme conseguimos sentir a frustração das personagens e observamos a forma estranha em que a história de desenrola. Sentimos que o realizador nos está a guiar por um labirinto e que ao longo dele nos vai demonstrando várias peças de um puzzle para no final tudo fazer sentido.
Uma conclusão que podemos tirar disto tudo é que o filme pretende demonstrar-nos tudo o que aconteceu e o que poderia ter sido modificado para alterar a vida dele e esta ter-se tornando num final feliz. O mais peculiar neste filme torna-se o seu final. Como o realizador não queria que este se tornasse tão violento como no livro, decidiu alterá-lo. Segundo Kaufman:
Há uma revelação no livro que nos altera a percepção do final, e não queria que esta se foca-se na sua revelação. Então durante o filme fui plantando as sementes da verdade, e tentei demonstrar que o final fosse algo mais para aprendemos e explorarmos sobre o seu relacionamento. Mas também deixando que a personagem Jessie fosse capaz de se afastar de Jake.
O realizador decidiu encerrar o filme com uma versão do Jake mais velho a seguir um porco pelos corredores de uma escola. Este final foi propositadamente vago para nos deixar em aberto as múltiplas interpretações.
Este filme é de bastante reflexão, o que se torna muito interessante tentar ver se apanhamos todas as pistas que o realizador nos deixou ao longo do filme. Embora não seja um tipo de filme que visse, gostei bastante e recomendo vivamente assistirem. Deixo-vos aqui o trailer do filme para ver se vos desperta a mesma curiosidade que me despertou!
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