Depois de no ano passado, mesmo durante a pandemia, o Motel X ter conseguido celebrar o melhor do terror nacional e internacional com lotação limitada, era de esperar que este ano o número de visitantes aumenta-se. E foi assim, num ambiente seguro e limpo que a 15ª edição do Motel X aconteceu novamente no Cinema São Jorge.
Entre 7 a 13 de Setembro, o Motel X trouxe os melhores filmes de terror de 2020 e 2021 para competirem entre si, para várias competições que apimentam a visualização dos filmes. Estes prémios foram o Méliès D’Argent para a melhor Longa Europeia, o Méliès D’Argent para melhor curta Europeia, o prémio Motel X para a melhor Curta de terror Nacional e um prémio votado pelo púbico para o melhor filme da lista Serviço de Quarto (a já habitual lista feita pelos organizadores do evento).
No final, este ano foi um ano bastante positivo para o terror Nacional, com a curta “O Nosso Reino” de Luís Costa a ganhar ambos os prémios Motel X para melhor curta curta nacional e o prémio o Méliès D’Argent para melhor curta Europeia. Com esta decisão inédita, Luís Costa recebe 5.000€ de prémio, o apoio da Santa Casa da Misericórdia em futuros projetos e a possibilidade de representar a Europa e Portugal na competição de terror Mundial.
O grupo de jurados composto por Sónia Balacó, Josh Waller e Emily Gotto salientou “a sua cinematografia etérea e a escrita e realização que revelam confiança e graciosidade, no que é uma viagem às sombras da infância e aos primeiros encontros com a morte.”
Houve também uma menção honrosa para “The Thing that Hate the Birds” de Sophie Mair e Dan Gitsham, que desde o início era considerado o favorito a ganhar, mas acabou por ser ultrapassado por “O Nosso Reino”. Mas também vai poder ser visto nas sessões a nível nacional, espalhadas por todo o país, organizadas em parceria com os cinemas NOS.
Em relação às longas-metragens, o vencedor do prémio Méliès D’Argent foi para o filme do País-de-Gales (e falado na língua original de país em vez de inglês), “The Feast”, realizado por Lee Haven Jones, que tive o prazer de ver pessoalmente e desde logo me pareceu um dos favoritos à vitória. Um filme que serve como metáfora e aviso para o crescente problema das alterações climáticas e para o impacto que estas têm e vão ter cada vez mais nas nossas vidas. O grupo de jurados composto por Ana Moreira, Adriana Molder e Diego López-Fernández disse ser “um filme que nos prende desde o início, através de uma imagem impactante, destacando-se o domínio do tempo pelo realizador, que constrói através da música uma composição envolvente e precisa”.
Para além de “The Feast”, os jurados decidiram dar uma menção honrosa a “Um Fio de Baba Escarlate” do português Carlos Conceição, que quase garantiu a dobradinha no Motel X a filmes Portugueses, mas pela qualidade do “The Feast” não foi possível. Este filme, tal como o vencedor, vão poder ser visto nas exibições espalhados por todos o país nos cinemas NOS.
Relativamente ao prémio do público dos filmes Serviço de Quartos, tive o prazer de ver a estreia nacional de “Three” de Pak Ruslan, uma versão cinematográfica do caso de um dos mais famosos serial killers do Cazaquistão e de como o terror que espalhou pelas mulheres da sua comunidade foi abafado pela União Soviética, para poderem organizar os jogos Olímpicos desse ano. Para além deste, também tivemos a estreia Europeia de “We are all going to the World’s fair” de Jane Schoenburn, um filme sobre o impacto que a internet tem nas nossas vidas e de todas os prós e contras que a mesma pode trazer. Focando-se muito no perigo da criação de identidades falsas e do fácil acesso que dá a criminosos às suas vítimas mais suscetíveis).
No final, o vencedor deste prémio foi “Boody Oranges”, o segundo filme de Jean-Christophe Meurisse, que cria um filme moisaico com diferentes histórias de terror passadas na França, que se cruzam umas com as outras e criam uma imagem bastante negra de muitas das debilidades sociais e políticas do sistema Francês.
Para além destas competições, o Motel X teve as já habituais sessões de Lobo Mau, filmes de terror para crianças, e Micro-curtas, filmes de terror filmados no telemóvel e com 4 minutos ou menos. Esta edição também foi composta pelo WorkShop “Making Genre-From Concept to Distribution”, com Josh C. Waller, Camille Gatin, Emily Gotto, Molly Quinn e Elan Gale. E por último, o evento também se focou na Trilogia Inacabada do Ultramar de Tino Navarro e Joaquim Leitão.
Mas o grande destaque do evento foi mesmo a secção Fúria Assassina: Mulheres Serial Killer, onde foram analisados vários filmes com foco em mulheres serial-killer, desde ficcionais ou reais. Tenho que aqui dar ênfase ao filme “Black Medusa” de Ismael. Todos estes filmes têm como objetivo dar força e presença às mulheres, não só no género de Terror como na sociedade. Cada vez mais existe o esforço e a intenção de aumentar a influência das mulheres na sociedade.
E assim com uma sessão de abertura que exibiu o filme “The Green Knight” de David Lowery e uma sessão de Encerramento que exibiu o filme “The Night House” de David Bruckner, a 15ª Edição do Motel X foi novamente um dos eventos do ano para o Cinema Nacional e Europeu. Um evento que traz a mais especial magia do cinema, que muitas vezes é esquecida. Apaixonar-nos por um filme do qual nunca ouvimos falar e onde não conhecemos nenhum dos atores.
As minhas notas pessoais vão mesmo para “We’re All Going to the World’s Fair” e para “The Sadness”de Rob Jabbaz, que apesar de não ter conseguido ver no evento chamou-me a atenção pelos comentários que ouvi durante o mesmo e é algo que vou definitivamente ver assim que consiga.
Esperemos que o Motel X continue a dar-nos o melhor do cinema de terror e que para o ano, na 16ª edição, continue tão boa como têm sido as últimas e porque não até melhor?
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