Depois de abrirmos a caixa do Everdell, falta apenas fazer uma análise geral do jogo em si. Neste momento de pandemia, não tive oportunidade de jogar com muita gente de uma vez, ou seja, grande parte dos jogos que fiz não passaram de jogos a dois jogadores. No entanto, acho que o jogo não perdeu qualquer qualidade relevante por essa razão. Para além disso, vou fazer uma análise, sobretudo, ao jogo base e não ao conteúdo que vem com o collector’s edition. Irei, claro, fazer uma pequena menção honrosa, mas mais do que isso não, pois grande parte das pessoas que vão ter acesso a este jogo terão a versão base e não a versão com todos os extras.
Quero começar por dizer que o jogo é bom. Mesmo bom. Diria que, dentro do género, é um dos melhores que já joguei. Everdell, tal como referi aquando do unboxing, é um jogo de alocação de trabalhadores, onde em cada turno podemos fazer uma de três coisas: jogar uma carta da nossa mão ou da Meadow (centro do tabuleiro); colocar um trabalhador num espaço dedicado para tal ou preparar para a próxima estação. Simples, não é? Sim. O jogo tem essa facilidade. Aprender é bastante fácil, tendo apenas algumas especificidades, como não podermos ter mais do que oito cartas na mão ou quinze cartas na nossa cidade, mas são pequenos pormenores que pouco influenciam a mecânica de aprendizagem do jogo. Vamos então dividir o jogo pelas ações que podemos fazer.
O jogador que joga em primeiro (que, de acordo com as regras, deve ser o mais humilde!) tira 5 cartas do baralho, enquanto que os restantes jogadores tiram sempre mais uma que o jogador anterior (o segundo tira 6, o terceiro tira 7, por aí fora). Para além destas, temos ainda a possibilidade de jogar as cartas que estão na Meadow, que se considera como uma extensão partilhada das nossas cartas da mão. A Meadow é a zona central do tabuleiro, onde são colocadas 8 cartas viradas para cima e qualquer jogador pode pagar o seu preço para as comprar e colocar na sua cidade. E o que quero dizer com pagar o preço? Cada uma das cartas tem um preço associado, sejam bagas, madeira, resina ou pedras. Para além disso, existem dois tipos de cartas distintas: os animais e as estruturas. Dentro destas, existem ainda as cartas comuns e as cartas únicas. Neste último cenário, é definido uma restrição de jogo, ou seja, cada jogador pode colocar o número de cartas comuns que quiser, na sua capital, mas apenas pode ter uma carta única, do mesmo género, na capital. Cada carta está ainda aliada a um de cinco tipos existentes no jogo, cada um com um efeito distinto. Esta última parte, vou deixar-vos explorar no livro de regras.
Como vos disse, temos a restrição de 15 cartas na nossa capital/cidade. O que é que isso significa? O objetivo do jogo é chegar ao final das quatro estações e ter o máximo de pontos possíveis e para conseguir isso, precisamos de colocar cartas à nossa frente, depois de pagar o respetivo custo. Deste modo, estamos a construir uma cidade sustentável para os nossos animais e empreendedora o suficiente para derrotar a concorrência.
Enfim, no final de contas, o que interessa nesta parte da jogada é saberem que podemos jogar uma carta se conseguirmos pagar os recursos que elas pedem para puderem ser colocadas na nossa cidade.
Na maioria dos jogos de alocação de trabalhadores que tenho jogado, existe uma zona no tabuleiro especificamente delineada para obtermos mais trabalhadores, para conseguirmos ter mais opções cada vez que jogamos. Em Everdell isso não acontece. Aqui ganhamos trabalhadores dependendo da estação em que nos encontramos. Começamos o jogo com dois e acabamos, sempre, o jogo com seis. Desta forma, toda a gente tem a possibilidade de jogar com todos os trabalhadores, mas, claro, cada um ao seu ritmo (termo que vai ser explicado no terceiro ponto).
Aqui, ressalva-se a importância dos espaços onde colocar os trabalhadores, desde já, no tabuleiro. Neste, existem dois tipos de espaços distintos: aqueles com o círculo aberto e aqueles com o círculo fechado. O que é que isso significa? Muito simples: os espaços abertos podem ser selecionados pelo mesmo jogador ou por outro diferente, não tendo, portanto, limite de ocupação. Por outro lado, os fechados são espaços exclusivos para um jogador. Tendo qualquer jogador colocado um trabalhador nessas casas, mais nenhum pode utilizá-la, a não ser que o jogador que o colocou lá, assim o retire. Depois, como já tive oportunidade de referir, vamos ter, na nossa capital a possibilidade de ter cartas com espaços abertos, tal como no tabuleiro. Estes espaços podem ser exclusivos para a pessoa que a detém ou pode ser um espaço aberto disponível para todos os jogadores da mesa. No entanto, em caso de utilização por pessoa diferente daquele que construiu, o proprietário recebe uma moeda de um ponto de vitória.
Por fim, quero apenas referir que os espaços dedicados as cartas da floresta são sempre diferentes, dando mais versatilidade ao jogo e uma maior variedade de soluções.
Por fim e quando entenderem necessário, podem decidir mudar de estação. E o que é que isso incluí? Bem, em primeiro lugar, em cada estação, recebem, pelo menos, um trabalhador novo para colocarem onde bem entenderem. Depois, podem ter um segundo efeito, dependendo da estação para a qual irão. Por exemplo, na primavera, para além do trabalhador, voltam a produzir todas as vossas cartas verdes!
Para além disto, não há muito mais a dizer sobre este último plano. Cabe a cada jogador saber onde colocar os trabalhadores e quando os retirar de forma a atrasar ou adiantar o seu jogo. Embora estejamos perante um jogo com regras relativamente simples, todo o plano que o constitui é bastante rebuscado e complexo. Isto tudo ainda sem qualquer expansão (tem três até aos dias de hoje!).
No final do jogo ganha quem tiver mais pontos de vitória, consoante vários critérios de aferição dos mesmos, desde cartas, eventos, pontos de vitória soltos que vamos ganhando ao longo do jogo, entre outros eventos.
Já deviam ter reparado que eu gosto do jogo. Aliás, dentro de jogos de alocação de trabalhadores, diria que é um must have para os amantes do estilo. As mecânicas do jogo são bastante simples, mas como cada jogador pode ter cartas completamente diferentes do jogador ao lado, faz com que cada um jogue para uma coisa diferente e cria uma sensação de novidade e originalidade a cada sessão de jogo. Para além disso, o próprio tabuleiro, como vos disse, nunca é igual ajudando, também, para esse sentimento.
Durante estas minhas jogatanas, tive oportunidade de contactar com um colaborador da Starling Games, sobre a eventual introdução de recursos no início do jogo. De acordo com as regras oficiais, nenhum jogador começa com recursos, sendo obrigatório que os primeiros passos sejam “queimados” para colocar os trabalhadores no tabuleiro. Embora não veja mal nenhum nisso, se já tivéssemos alguns recursos em nossa posse, esse início poderia ser um pouco diferente do que é. Este mesmo colaborador respondeu que existem muitas regras domésticas aliadas a Everdell e percebo, perfeitamente, o porquê: quem não se lembra de aldrabar as regras do Monopólio? Quem nunca leu mal uma regra e só ao final da quarta ou quinta vez a jogar é que deu por ela? É normal que pequenas alterações ao jogo base surjam e isso nunca é mau. O importante é que as pessoas se divirtam com aquilo que compraram. Daí a total abertura para uma nova forma de jogar deste colaborador. Disse, inclusive, que quando esta situação pandémica terminasse, que iria testar esta variante com os colegas da empresa.
Em suma, Everdell conjuga perfeitamente as mecânicas de alocação de trabalhadores com Card Drafting, providenciando aos jogadores uma fantástica experiência, aliada, claro está, a uma fantástica arte e beleza geral do jogo. Recomendo vivamente.
Esta análise foi possível com o apoio da Starling Games!
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