Dice Throne é bem capaz de ser o jogo de tabuleiro que mais rapidamente se tornou num dos que mais gosto de jogar. Vou ainda mais longe e digo que é, muito provavelmente, a minha escolha de eleição sempre que jogos de tabuleiro são assunto. Escolhemos um personagem de um leque de 16, cada um com as suas habilidades e diferentes formas de jogar. E seja todos contra todos ou em equipas, é sempre divertido e cada partida é diferente da anterior. Simples, direto e ao mesmo tempo complexo. O que há para não gostar?
As regras são bastante simples de se entender. Cada jogador tem pontos de vida, que tem de preservar ou subir a todo o custo, assim como pontos de combate que irá usar para atacar os adversários ou pagar o custo das cartas que lança em jogo. Após ter iniciado a sua ronda, onde pode evoluir habilidades ou descartar cartas para acumular pontos de combate, salta para a investida. Podemos lançar cinco dados até três vezes. Quantos dados lançamos de cada vez fica à discrição de cada um, já que a ideia é chegar a uma determinada combinação que nos vai permitir ativar uma das nossas sete habilidades.
Tendo sido bem-sucedido, qualquer adversário, não apenas o nosso alvo, poderá jogar cartas para alterar os nossos dados, se as cartas assim o permitirem e se lhe for vantajoso essa alteração. Caso contrário, resta ao adversário jogar as cartas que tem em mão e também lançar os seus dados para ativar a oitava habilidade que cada personagem tem, apenas usada na defesa. Assim que este conflito seja resolvido, voltamos a ter oportunidade de repetir a fase posterior ao ataque ou podemos dar por encerrado o nosso turno.
E isto repete-se por todos os jogadores, que devem definir a sua estratégia de forma a serem o último jogador com pontos de vida na mesa. Ênfase na palavra estratégia, pois pode acontecer ser tudo eliminado no último embate e ninguém ganha.
Tudo isto leva uma reviravolta quando se junta à brincadeira Dice Throne Adventures. Esta adição ao universo criado por Nate Chatellier, Manny Trembley e Gavan Brown, deixa de lado o combate direto entre jogadores e leva-os a unir forças contra um adversário comum, o Mad King. Ao longo de oito masmorras aleatórias, que nunca são iguais de sessão para sessão, vamos explorando e derrotando inimigos, na esperança de reunir riqueza para melhorar as nossas cartas e as habilidades e, quem sabe, ter alguma hipótese de conseguir derrotar o inimigo final.
Este é um modo de jogo que não é possível completar de uma só vez, daí existir a possibilidade de salvar o estado do jogo para continuar mais tarde. É algo que exige estratégia em grupo, combinações de jogadas, definir caminhos a percorrer pelas masmorras, enquanto tentamos ter acesso ao portal que nos faz levar à próxima masmorra, sem nunca perder ninguém pelo caminho. É complicado, difícil mas bastante gratificante quando se consegue ultrapassar mais um obstáculo.
Porém, esta breve introdução só existe para nos fazer chegar ao que realmente interessa: Marvel Dice Throne.
Tal como nas edições passadas, tudo começou pelo Kickstarter, em outubro de 2021. Em menos de um mês não só conseguiram chegar ao objetivo de 100 mil dólares, como o ultrapassaram em 2 milhões de dólares. Entre os benefícios estavam sleeves personalizadas a cada um dos personagens (que ainda podem comprar separadamente), um tabuleiro para lançar os dados, ou ainda tapetes de jogo para cada personagem. Para quem decida comprar agora, só está disponível o battle chest que é uma caixa com todos os personagens.
Ainda assim, isso é tudo o que precisam para poder aproveitar ao máximo esta nova coleção de Dice Throne. No total, temos acesso a oito heróis, sendo eles Captain Marvel, Thor, Loki, Scarlet Witch, Black Widow, Doctor Strange, Black Panther e Spider-Man (Miles Morales). Aquilo que cada um faz, tal como nos personagens lançados anteriormente, varia bastante entre eles e é fortemente inspirado nos poderes e personalidades destes heróis. Conseguir usar estas habilidades nem sempre é fácil, pois está tudo bastante dependente do resultado que os dados ditem e de quando podemos ativar não só as habilidades, como os estados positivos e negativos que podem dali surgir. A variedade que vamos encontrar pode ir de ataques mais diretos, manipulação do jogo do adversário ou até aplicar condições que limitam as jogadas.
Por exemplo, no caso da Black Widow, ela está focada em esquivar-se de ataques e atualizar rapidamente as suas habilidades, e a aplicar dano através de bombas, que explodem com o passar das rondas, ou ataques diretos. Já Loki faz um jogo mais “sujo”, bloqueando as habilidades dos adversários, impedindo que elas sejam usadas durante uma ronda, e ainda tem uma mecânica que deixa os outros jogadores escolher entre três cartas para decidir o resultado de certas jogadas. O seu irmão, Thor, acaba também por interagir bastante com os adversários, já que ao longo das rondas vamos ver o Mjölnir a voar de tabuleiro em tabuleiro a causar estragos. A Scarlet Witch mexe bastante com o jogo dos outros heróis, pois altera-lhes a realidade ao forçar o uso de um dos seus dados (logo limita as combinações que podem ser feitas por cada conjunto de dados), pode usar efeitos positivos de outros jogadores nela mesma ou até manipular diretamente os dados para ter os valores que precisa.
Há ainda outros quatro para descobrir, todos eles com as suas características e diferentes formas de abordar o jogo. Seja qual for o estilo de abordagem preferida pelo jogador, vai encontrar neste grupo peculiar algum herói que lhe chame mais a atenção e vá de encontro à sua forma de jogar.
Apesar deste conjunto de personagens ser de uma realidade que em nada tem a ver com aquilo que já existe em Dice Throne, todos eles foram criados a pensar num todo. Isto é, se alguém quiser enfrentar a Captain Marvel com um Shadow Thief do jogo original, são livres de o fazer. Querem uma dupla que junte o Black Panther e o Barbarian? Sem problema algum! Não há combinações impossíveis.
Além disso, é ainda possível fazer essas misturas ou jogar exclusivamente com conteúdo Marvel, o Dice Throne Adventures. Portanto, apesar de funcionar como um jogo próprio, este conjunto foi feito tendo em mente o aumento de possibilidades que existem neste mundo. O que adiciona também valor à compra, já que estamos a refrescar conteúdo anterior, ao colocar em cima da mesa outras possibilidades e estratégias que até então não existiam.
A própria arte do jogo mantém o estilo original de Dice Throne, que por si só já era bastante elevada, mas há que admitir que se esmeraram bastante nesta edição Marvel. Os tabuleiros dos personagens são bastante dinâmicos e vibrantes, e as cartas um regalo para a vista. Ainda que não seja nada de novo, é um estilo que funciona incrivelmente bem dentro do género e dos melhores que já vi em jogos de tabuleiro.
E a qualidade de todo o material, mais uma vez, não desilude, bem pelo contrário! Cada herói vem com a sua própria caixa, convenientemente arrumada dentro de uma embalagem com espaço para cada um destes personagens. As cartas de cada baralho são resistentes e suaves ao toque, chego a ter dilemas internos relativamente ao uso, ou não, de sleeves de tão bem que sabem ao toque. O tabuleiro individual de cada herói é também bastante resistente, ainda que pareça que as dobras podem rasgar, nunca senti que podia ficar com uma metade em cada mão. Nem neste, nem nos anteriores. Os dados e tokens usados também são bastante bem acabados, assim como os indicadores de pontos, que mesmo havendo mais fricção não se gastam nada facilmente.
No geral, fica a sensação de termos em mãos um produto cuidado e pensado para ser usado variadas vezes sem nunca perder resistência ou danificar com o tempo. Acredito que esse foi mesmo o objetivo dos criadores. De criar algo que resista a inúmeros usos, pois sabia exatamente o que tinham em mãos: um jogo de tabuleiro que todos iam querer jogar até à exaustão. Embora pareça que essa exaustão esteja a demorar a surgir, pois até já há movimentações para o eventual lançamento de uma versão digital. Se terá a coleção Marvel? Não se sabe, por isso mais vale agarrar já a versão física!
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