Tenho de há muitos anos a esta parte (e também aquele todo), a convicção que há muito boa gente que deve uma porção da sua vida social à existência do Prémio Nobel da Literatura. Estas pessoas têm, normalmente, o seguinte perfil:
Poderia complementar ainda mais este perfil, mas acho que o ponto que expus em cima fala por si. Quem é que quer ler uma história sobre os Excesso!? Isto diz tudo sobre este tipo de gentinha desinteressante e básica. Sobretudo, e muito especialmente, quando há a oportunidade de saber mais coisas sobre os Milénio. Recordo que, nos Excesso, havia um senhor que não só tinha nome de fruta, como padecia de uma condição médica debilitante que o fazia ter coração de melão. Já nos Milénio, havia um senhor tão bem considerado pelas senhoras e pela comunidade homossexual que era conhecido apenas por “gato”. Tirem as vossas próprias conclusões sobre quem terá melhores histórias para contar.
Mas estávamos a falar do Prémio Nobel da Literatura. Seguindo a verdadeira tradição sueca, este galardão serve para muita coisa. Por exemplo, se montarmos o Nobel de determinada maneira, é possível torná-lo simultaneamente na maior distinção literária mundial e num estiloso abajur. No entanto, e apesar de toda a sua versatilidade e facilidade em montar, a maior função do Prémio Nobel da Literatura é deixar os nossos amigos burros sentirem-se cultos.
Já perdi a conta ao número de vezes que pessoas que eu sei que não leem, mais, que afirmam durante todo o ano que não leem (às vezes com um inexplicável orgulho), me dizem a certa altura do ano o seguinte:
– E o Nobel, viste? Achei super justo! Finalmente alguém reconhece o contributo da literatura vanguardista nepalesa para o mundo das letras!
Porque sou um homem educado e bem formado, a maior parte das vezes reajo a este tipo de conversa com um edificante arremesso de fezes à cara do sujeito. Mas já houve vezes, admito, em que perdi a cabeça e sorri falsamente. Um homem não é de ferro.
Não me entendam mal, no geral, estou-me a borrifar para quem é o Prémio Nobel da Literatura. Gosto que seja uma pessoa que escreve livros em vez de canções? Sim, mas também não é o fim do mundo. Gosto que o grande Saramago tenha recebido um? Não só gosto, como me orgulho, feito parvo, como se tivesse sido para mim. Mas no geral, o que é o Prémio Nobel, se não uma desculpa para não leitores? Se são leitores assíduos que uso lhe dão? Arrisco a dizer que nenhum. Talvez conheçam o mais recente Nobel, talvez não, mas o mais provável é que se ainda não o leram foi porque a vossa pilha de livros à espera de ser lida não deixou ou porque, simplesmente, não é o vosso género.
Às vezes, nos meus maiores momentos de cinismo, pergunto-me que é feito daquelas centenas ou milhares de edições de livros nobelizados que são vendidos a mais todos os anos, após o anúncio. Será que chegaram a ser folheados? Ou andaram durante uns tempos entre casa e o trabalho, a ser mostrados e expostos em autocarros e comboios, esplanadas e jardins, sem nunca terem tido lidos?
Não sei qual é a resposta correta. Sei, no entanto, que o melhor membro dos Milénio era, sem dúvida, o Ruca. E aprová-lo está o seguinte: foi o único membro da banda que depois de esta acabar conseguiu ser uma estrela de televisão e ter a sua própria série de desenhos animados.
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