A Little Life de Yanagihara Hanya é um livro que segue quatro amigos, Jude, Malcom, Willem e JB desde o momento que se graduam da universidade e mudam para Nova York até aos seus 50 anos. À medida que o tempo passa, é possível ver o crescimento das personagens e as diferentes fases das suas relações entre si enquanto descobrimos mais sobre os seus passados e o que o faz ser como são.
Inicialmente não planeava escrever nada sobre este livro, contudo, ao deparar-me ao fim de mais de um mês a pensar nele várias vezes por semana, achei que valesse a pena pois não há dúvida que me marcou.
But then the feeling would dissipate, and he would be left alone to scan the arts section of the paper, and read about other people who were doing the kinds of things he didn’t even have the expansiveness, the arrogance of imagination to dream of, and in those hours the world would feel very large, and the lake very empty, and the night very black, and he would wish he were back in Wyoming.
Na minha opinião, o ponto mais forte do livro é a forma de como caracteriza as suas personagens. Todas as personagens, incluindo as secundárias, são descritas de forma a terem uma personalidade distinta, única e complexa, e, ao mesmo tempo, realista. As próprias relações entre as personagens são diferentes entre si, sendo que é dado um grande foco às complexidades e desafios presentes numa amizade. Também apreciei a forma de como foi apresentada a sexualidade das personagens, sendo algo existente e tendo-se um foco apenas quando se justifica.
A forma de como está escrito permite transmitir uma sensação de intimidade ao mostrar o que se passa na mente dos protagonistas e vendo os seus pensamentos, sejam estes corretos ou não. Ao mesmo tempo, o livro apresenta uma forma bastante orgânica onde o enredo, as histórias secundárias e as memórias estão ligadas de modo a fluírem naturalmente.
Tendo em conta o referido e o próprio talento de Hanya, o livro encontra-se muito bem escrito. Desde o início é possível identificar, mesmo quando ainda se está a familiarizar com a história e as suas personagens, o quão bonita, original e complexa, apesar de facilmente entendida é a forma de escrever desta autora. Será este também um dos fatores que torna o livro muito intenso e expressivo.
Annika was speaking very fast and had apparently decided that the best strategy was to treat Willem like an eclipse and simply not look at him at all.
O livro é bastante gráfico, imersivo e, por vezes, muito perturbador, tendo em conta que existe um grande foco nos traumas das personagens. Assim, é importante estar num correto espaço a nível mental para ler este livro. Não faz mal ter de fazer uma pausa (precisei) e voltar depois ou mesmo parar, caso esteja a ser demais. Caso alguma situação possa ser sensível, é muito aconselhado a ler os trigger warnings presentes no início do livro.
What he knew, he knew from books, and books lied, they made things prettier.
Por consequência, o principal aspeto negativo que encontrei neste livro foi o excesso de trauma e desastres presentes. Não considero que era necessário tanto para atingir o propósito do livro, para além de apenas provocar uma reação forte no leitor. Assim sendo, evitando dizer spoilers, não considerei o catalisto para o final necessário.
É importante também ter em consideração que o livro tem por volta de 700/750 páginas, sendo assim muito denso. Inicialmente, demorei a entrar realmente na história mas a partir de por volta das 150 páginas fiquei completamente investida e o tamanho já não me assombrava. Desde esse momento, estive tão imersa no enredo e sempre com este em mente que chegava a sonhar com as personagens. No entanto, haveria necessidade de o livro ser tão grande? Talvez se pudessem ter cortado secções, contudo assim que entrei na história deixei de me incomodar.
Por fim, como é dado a entender anteriormente, este livro acaba por ser muito triste. Pessoalmente, nunca chorei tanto a ler ou a ver um filme como com este, no entanto não foi a tristeza que ficou comigo e que me marcou mas sim as personagens e as suas relações entre si, sendo que quando penso nelas, vejo-as todas felizes rodeadas de entes queridos. Posso já não me lembrar de todos os detalhes, mas continuo de momento a me questionar sobre a visão que tinha sobre certos assuntos e a identificar parte das personagens em pessoas que conheço. Creio que esta é das melhores marcas que um livro pode deixar.
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