Lembram-se de quando vos falei de aranhas que eram basicamente pessoas num planeta distante terraformado? Bom, desta vez trago-vos a sequela, Children of Ruin, e vamos falar de polvos. (Esta série é só aulas de biologia, com um toque de xenobiologia.) Se o primeiro livro era ficção científica pura, com um pezinho nas questões filosóficas e sociais, a sequela tem uns tons de terror e as questões existenciais estão em todo um outro nível.
Tal como no livro anterior, esta história começa com uma (outra) equipa de terraformação a ser atacada. A diferença é que esta equipa tinha acabado de aterrar num planeta onde já havia vida e na nave tinha ficado um elemento que era um grande fã de polvos. Temos então uma história com três focos diferentes. Temos os astronautas que se depararam com aliens que possuem gente (literalmente); os polvos ao longo das gerações (à semelhança das aranhas, mas muito menos parecidos com os humanos); e do livro anterior, uma equipa de aranhas e humanos que partiram para o espaço à procura de vida noutros planetas.
A partir daqui, o enredo baseia-se na dificuldade de comunicação entre as diferentes partes. Habitualmente, falhas de comunicação enquanto fio condutor de uma história irritam-me, mas aqui é ideal. É algo que demonstra tanto a criatividade como a precisão científica deste livro. Enquanto os polvos comunicam principalmente com cores que simbolizam estados emocionais, os humanos e as aranhas (embora com esquemas diferentes) usam palavras. Encaixar estas duas formas de comunicação é um desafio enorme, provavelmente semelhante ao que a Humanidade enfrentaria se alguma vez encontrasse extraterrestres (já que é pouco provável que outras criaturas que existam algures no espaço sejam humanóides). Para não falar dos aliens que são basicamente uma infeção auto-consciente que possuem pessoas (desculpem, achei esta parte super sinistra e não estou a conseguir ultrapassar).
O final segue o mesmo estilo do final anterior. Por isso, não é tanto o mistério de como é que vai acabar e mais o mistério de como é que se chega lá. Como ter a resposta para um problema de matemática, mas o interesse e a tensão está em como é que se resolve, não no resultado.
Tal como o seu antecessor, Children of Ruin é uma obra de ficção científica no seu melhor. Encarna os desafios que a Humanidade poderá ter de enfrentar num futuro hipotético, desafios esses tanto tecnológicos como de relacionais, tanto intra como inter-espécies. É isso que caracteriza fundamentalmente o género: explorar a Humanidade nos mais diversos cenários e situações, testar os seus limites, e ir mais além.
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