Não posso negar que o que me fez ler o livro foi o seu título extravagante e as cores fortes da capa. De facto, How To Kill Your Family não poderia ter sido melhor escolhido, tendo em conta que funciona como um bom resumo do livro, chama atenção e é direto, como a protagonista.
How To Kill Your Family de Bella Mackie conta a história de Grace Bernard. O seu pai era um milionário já casado e com uma bebé quando descobriu que a mãe de Grace estava grávida, abandonou-as por completo e regressou para a sua “vida normal”. Deste modo, Grace foi educada pela sua mãe solteira. Contudo, apesar da sua mãe tentar que a filha levasse a melhor vida possível, estas sofrem de problemas financeiros. Passados poucos anos, a mãe morre de cancro e o seu pai volta a recusar-se a ajudar. Assim, ao descobrir isto e a história dos seus pais, a sua raiva e vontade de vingança contra o seu progenitor aumenta.
Never yearn for the light that some men will shine on you. Snuff it out instead.
Quando Grace tem 28 anos, esta encontra-se na prisão após ter morto 6 membros da família, contudo não foi por nenhum destes crimes que esta foi presa. Ironicamente, a protagonista encontra-se aprisionada por homicídio, apenas um que não cometeu. Apesar de parecer que já revelei muito do livro, nada do descrito são spoilers. Toda esta parte da história é referida logo no início do livro, sendo o que agarra os leitores é descobrir o que aconteceu até Grace ter chegado aquele ponto e como se resolverá a situação.
Apesar de temas pesados, o livro funciona como um diário onde a protagonista vai intercalando o que se passa no momento na prisão e conta a sua história até alcançar aquele ponto. Pode-se enquadrar na categoria de comédia negra, apesar de raramente ter efetivamente piada.
I don’t believe in God, but I swear sometimes I think Kelly was sent by some vengeful angel to piss me off.
Não há dúvida que este livro foca-se sobretudo no enredo, o que por si só não é um problema. Contudo, quando a premissa gira à volta das escolhas de Grace, esperar-se-ia que a personagem tivesse mais nuances. Assim, Grace acaba por se tornar uma das mais desinteressantes.
A protagonista tem, sem dúvida, uma personalidade muito bem definida e distinta, apesar de não ser a mais original. Consegue ser bastante direta e simples com as suas opiniões, mas, contradizendo-se, começa a divagar demasiado. Apesar das motivações claras, tendo em conta a sua atitude, não é uma personagem que se ganha muita empatia. Ela apresenta ser manipuladora, que realiza ações questionáveis para alcançar os seus objetivos. No entanto, o que torna menos possível simpatizar com ela está ligado ao facto de que se considerar superior e mais inteligente que qualquer pessoa, sendo que se vê diferente, única e especial. Honestamente, tendo em conta o final, não consigo perceber se o objetivo do livro era ter a história a girar em torno de uma personagem compassiva ou não.
Tal como referido anteriormente, a protagonista divaga muito, dando voltas muito grandes. Assim, existem vários momentos que não são necessários para a história. Em adição, certas situações são apresentadas de uma forma acelerada o que provoca um passo inconsistente à medida que o livro progride.
Tendo em conta que é um livro tão centrado no enredo e nas mortes dos membros da família, fiquei desiludida com a execução destas. Houve especialmente uma das seis mortes cometida por Grace apresentou falhas demasiado grandes para o plano ser executável ou, no melhor dos casos, para esta não ser descoberta. Em adição, a própria lógica da personagem por detrás de algumas decisões também não era a mais coerente e, tendo em conta o tão certa a personagem se sente, apenas me deixou confusa.
Antes deste livro, li In My Dreams I Hold a Knife de Ashley Winstead, um livro tematicamente semelhante. Este passa-se num reencontro de ALUMNI de uma faculdade e centra-se num grupo de amigos enquanto estes finalmente descobrem a verdade sobre quem matou a sua amiga, quando frequentavam a universidade e todos os segredos escondidos. Não posso deixar de os comparar, tendo em conta que em ambos se descobre a verdade sobre eventos já passados e a personagem principal não é a mais fácil de se simpatizar. No entanto, enquanto o livro de Ashley Winstead apresenta ser aditivo, mesmo não trazendo grandes surpresas e mantem um bom passo desde o começo, How To Kill Your Family, por sua vez, vai perdendo impulso à medida que avança.
Inicialmente, estava inclinada para dar a este livro uma avaliação mais baixa, contudo, o final fez-me elevar a classificação para a atual. Encerrar uma história quando não previamente muito bem planeada é sempre difícil, sendo assim recorrente os finais desiludirem. No caso deste livro, foi o oposto. Era impossível o final ter sido mais satisfatório. Mas, infelizmente, para este caso, por melhor que seja o destino, a viagem também interessa.
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