Normalmente, o que me chama mais num livro são os personagens. Claro que o enredo, o world-building e até a própria escrita são importantes, mas é com os personagens que eu crio aquela ligação que me faz apaixonar-me por um livro. Isso não aconteceu com Kingdom of Souls.
Apesar de o livro ser todo contado da perspectiva de Arrah, ela é-me indiferente. O que me interessava aqui era como ela ia resolver os conflitos que surgiam e as consequências para o mundo à sua volta. Para mim, a própria Arrah é um bocado sem interesse. O que não faz sentido, porque ela é um dos meus tipos de personagem favoritos: pessoa sem poderes quando toda a gente tem poderes. Não consigo dizer qual é problema, aliás, creio que provavelmente nem há problema e temos aqui um caso de “não és tu, sou eu” literário.
Também não tive qualquer interesse em Rudyek, o interesse romântico de Arrah, ou nos seus amigos. Os personagens mais interessantes foram os pais e a avó de Arrah, mas não tiveram a atenção devida, e eu fiquei super curiosa sobre o seu passado.
Mas vamos àquilo que me cativou: o mundo e o enredo. Kingdom of Souls é fantasia inspirada por crenças de África Ocidental. Hekka é o deus das tribos e aquele que lhes dá a sua magia. Já na capital, Tamar, as pessoas veneram os múltiplos Orishas, mas poucas são as que têm algum poder. Há uma grande diferença entre os estilos de vida e formas de pensar destes dois grupos – como se vê, numa analogia tosca ao mundo real, entre o campo e a cidade – sem que deixe de haver uma identidade comum.
Os deuses, os demónios, e as lendas não servem apenas para pano de fundo que dá profundidade a este mundo. Pelo contrário, são intervenientes ativos, e as relações e conflitos entre estas entidades são uma parte essencial do enredo.
Tudo começa com o desaparecimento de várias crianças em Tamar. Enquanto os políticos usam esta tragédia como arma de arremesso entre si, Arrah e Rudyek tentam descobrir o culpado a tempo de salvar os miúdos. Mas isto é só o início, porque a partir daqui a situação torna-se cada vez mais negra num encadeamento de problemas e dificuldades que se empilham contra Arrah. Cada pequena vitória vem acompanhada de uma grande derrota, aumentando gradualmente a parada até que o próprio reino e todos os que neles habitam ficam em risco.
Adorei conhecer este novo mundo. Sofri, e muito, com o que lhe estava a acontecer. E cada página valeu a pena.
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