Quem é que não conhece a lenda do Rei Artur? Há centenas de versões criadas ao longos dos séculos, cada uma com o seu toque característico. Legendborn de Tracy Deon é mais uma entre tantas histórias Arturianas, mas é também uma história sobre trauma e racismo, sobre perseverança e sobrevivência, tanto no passado como no presente.
Bree Matthews é uma jovem negra brilhante que entra num programa que permite que alunos do secundário acedam à universidade mais cedo. Na sua primeira noite no campus, Bree assiste ao ataque de um monstro, assim como à sua morte às mãos de um rapaz e uma rapariga misteriosos. E é assim que Bree descobre os Legendborn.
A magia que estes usam para tentar apagar as memórias de Bree do ataque apenas a faz perceber que alguém lhe fez o mesmo na noite em que a sua mãe morreu num acidente, três meses antes. Bree decide, então, infiltrar-se nesta sociedade secreta para descobrir o que realmente aconteceu à sua mãe.
Há muito, muito tempo, o Rei Artur pediu a Merlin que o ajudasse a garantir que haveria sempre alguém capaz de combater os demónios que invadem o nosso mundo. Merlin criou um feitiço que permite que os espíritos de Artur e dos últimos treze Cavaleiros da Távola Redonda vivam através dos seus descendentes, os Legendborn.
O world-building, inspirado na mitologia Arturiana (e não só) é espectacular. O sistema de magia é bastante suave, mas nem por isso menos bem pensado. Pelo contrário, mistura ideias e conceitos de origens diversas, fazendo-as coexistir quando, à primeira vista, parecem excluir-se mutuamente.
O meu coração pertence aos personagens. Bree, uma rapariga determinada e marcada pelo trauma de perda da mãe, vê-se atirada para uma competição com pessoal que treinou a vida toda para aquilo que ela acabou de descobrir. Nick, heróico e querido com um toque de passado trágico, é o interesse romântico saudável que raramente aparece em YA. Selwyn, arrogante, emo e um pouco maldoso, passa a vida a antagonizar a Bree, só porque sim. As personagens secundárias são também muito bem desenvolvidas, com especial atenção para a minha favorita, Alice, a melhor amiga que tanto apoia como chama à atenção nas horas certas.
Já o enredo matou-me. É volta atrás de volta atrás de volta, todas tão bem encaixadinhas de tal forma que nem se nota onde acaba uma e começa a outra. Aliás, a partir de certa altura nem dá tempo para respirar com tal montanha russa de emoções e revelações. E aquele final! O final!
Leiam devagar. A sério. Eu li as últimas 350 páginas de uma assentada e depois tive uma crise existencial. Agora vou ficar a sofrer até sair a sequela, algures em 2021. Façam-me companhia.
Se preferirem ler em português, a autora anunciou recentemente que uma editora adquiriu os direitos para publicação no Brasil.