Brandon Sanderson escreveu 13 romances completos antes de conseguir publicar o seu primeiro, Elantris, em 2005. Foi um ano mais tarde que a sua carreira levantou voo, com a publicação do seu segundo livro: Mistborn: The Final Empire (Nascida das Brumas: O Império Final), o primeiro de uma nova trilogia. 15 anos depois, mal podia prever que teria mais de 50 livros publicados, mais de 21 milhões de cópias vendidas, e ter sido convidado a acabar a obra A Roda do Tempo, do seu ídolo Robert Jordan após o seu falecimento.
Em Portugal, Sanderson chegou pela primeira vez em 2014, quando a editora Saída de Emergência publicou O Império Final, com os restantes livros da trilogia, O Poço da Ascensão e O Herói das Eras (dividido em duas partes), terem-se seguido.
Mas afinal, porque vos digo isto tudo? Mistborn foi uma das minhas primeiras sagas de alta fantasia, que me fez apaixonar pelo género literário e catapultar os meus hábitos de leitura de 3-4 livros por ano, para 3-4 por mês. Por isto, deixo aqui as minhas top 5 razões para pegarem imediatamente no primeiro livro e mergulharem nesta aventura eletrizante.
A cinza caia do céu no Império Final, um continente onde o vilão ganhou e ‘O Escolhido’ não foi capaz de ser o herói profetizado. É um mundo sombrio, onde os ricos dominam e os skaa, uma raça inferior, são escravizados para garantir a supremacia dos nobres e do Imperador. No entanto, há esperança quando Kelsier, o líder de um gangue de ladrões skaa, descobre um objeto que poderá ser a chave para derrotar o Imperador e trazer a paz.
Neste grupo de ladrões, cada um tem habilidades diferentes, às quais se junta a jovem protagonista Vin, tornando-se aprendiz do rebelde Kelsier. Monta-se então uma espécie de assalto ao Império, qual Ocean’s Eleven.
Apesar da narrativa relativamente simples, esta história não é apenas um heist num contexto de fantasia. Se gostam de um pouco de romance? Mistborn traz-nos uma grande relação desenvolvida ao longo dos três livros que quebra estereótipos de género na relação e mostra novas dinâmicas de casal. Preferem ação e cenas épicas tipo filmes de quadradinhos? Sanderson escreve das batalhas mais épicas do género literário, tendo os seus finais já sido apelidados de ‘Sanderlaunche’, por se assemelharem a uma avalanche de acontecimentos que trazem aos seus livros uma explosão de adrenalina. Intriga política? Check! Estratégia bélica? Check! Mundo apocalíptico? Check! Mistério? Há sempre um outro segredo!
Para além de tudo isto, Sanderson ainda explora temas como a religião, confiança, a natureza do mal e rebelião. Uma das grandes atrações desta trilogia é que consegue oferecer um pouco de tudo, servindo de excelente porta de entrada para os mais inexperientes à Alta Fantasia, que receiam sagas maiores e mais complexas, não deixando de ser, no entanto, uma excelente leitura para os prós no género.
Se falamos em fantasia, inevitavelmente falamos em magia. E se há coisa que faz Brandon Sanderson destacar-se no género literário é os seus sistemas de magia. Ao contrário dos clássicos de Tolkien e Lewis, em que os limites e total poder dos praticantes de magia não são conhecidos, com Sanderson a magia funciona quase como uma ciência. Em Mistborn, há vários tipos de magia diferentes, todos relacionados com metais. Cada um dos 10 metais dá um poder diferente ao utilizador. Mas apenas os nobres são capazes de usar um destes metais, sendo chamados de Mistings. No raro evento em que um consegue utilizar todos os metais, são chamados de Mistborn.
Os rebeldes que acompanhamos ao longo da história, apesar de não serem nobres, são filhos bastardos de mistings, e tendo herdado os seus poderes. Já Kelsier e Vin, os dois protagonistas, são mistborn, sendo os grandes trunfos da rebelião.
Para além do sistema de magia incrivelmente realizado, Sanderson eleva a sua importância na narrativa, integrando a sua descoberta à progressão da história de forma genial. Há medida que vamos desvendando mais segredos à cerca do Império Final, vamos também descobrindo segredos dos metais e como podem ser usados, mantendo o mistério sempre fresco ao longo da trilogia.
O que é ficção sem personagens? Nada. E se não fossem as personagens que brilhantemente Sanderson nos introduz em Império Final, nem estaria aqui a convencer-vos a ler. Em Mistborn, Vin, uma adolescente skaa abandonada, que cresceu na rua, traumatizada da vida de traições e desconfiança, descobre a sua nova família em Kelsier e os seus companheiros, e aprende o valor da amizade e esperança, tornando-se numa poderosa líder, capitã e companheira, que não conseguimos deixar de torcer por.
Da mesma forma o resto do elenco tem arcos de desenvolvimento incrivelmente satisfatórios, desde Kelsier, o rebelde de moralidade cinzenta; Sazed, o conselheiro e amigo religioso, que se vê confrontado com as próprias ideologias; Ham, o hilariante brutamontes filosófico de coração mole; e tantos outros que vão enriquecendo a narrativa e que nos agarram de tal forma que é com uma lágrima no olho e um sabor agridoce que fechamos a última página do último livro.
Gostam do MCU? Apresento-vos o Cosmere! À semelhança dos estúdios da Marvel, Sanderson tem nos últimos anos contruindo um complexo universo de histórias interligadas, que se passam todas no mesmo universo, o Cosmere. Neste universo existem vários planetas com sistemas de magia diferentes, como Scadrial, o planeta onde se localiza o Império, mas cuja mitologia está conectada entre si. Ocasionalmente há mesmo partilha de personagens entre as várias sagas do autor. Mistborn é um excelente ponto de entrada para este universo em expansão, que conta também com os livros do autor: Elantris, Warbreaker, a saga Stormlight Archive (4 romances), as BDs White Sand e alguns contos.
Finalmente, se forem como eu, e gostam de ler os livros antes das suas adaptações de Hollywood mancharem a vossa imaginação, esta é a melhor altura para o fazer. Apesar da luz verde oficial ainda não ter sido anunciada, o próprio autor tem trabalhado num tratamento do argumento para um filme. Com os grandes sucessos de vendas, uma produção parece inevitável, tendo mesmo o autor anunciado aos fãs que ficaria surpreso se não estivesse num estúdio já no próximo ano!
Este universo partilhado gera enorme discussão nos fóruns online onde os mais entusiastas podem partilhar e discutir teorias, acontecimentos, arte e experiências com o resto do mundo. Sanderson é um excelente comunicador com a fandom, dando atualizações do estado dos seus projetos semanalmente no Youtube, onde também responde a perguntas dos fãs com alguma regularidade.
Se gostas de boa fantasia, com uma narrativa viciante, personagens inesquecíveis, mundos sistemas de magia hiperdesenvolvidos e muita ação, não percas mais tempo e junta-te ao à fandom e ao Cosmere. A trilogia Mistborn está disponível em português pela Saída de Emergência (editada em 4 livros).
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