‘Salem’s Lot (pt: A Hora do Vampiro) é o segundo livro de Stephen King, publicado em 1975, e é considerado uma das melhores obras do autor. Este romance conta a história de um outono negro, numa pequena vila americana ‘Jerusalem’s Lot’, em que vampiros vão lentamente convertendo os cidadãos em mais sangrentos agentes demoníacos.
small towns have long memories and pass their horrors down ceremonially from generation to generation.
That above all else. They did not look out their windows. No matter what noises or dreadful possibilities, no matter how awful the unknown, there was an even worse thing: to look the Gorgon in the face.
‘Salem’s Lot começa lentamente, sendo o primeiro terço do livro um momento de construção do ambiente. Se já leram King sabem que ele excele a imergir o leitor nas pequenas vilas que constrói, e aqui não é diferente. O Lot é como que a sua própria personagem, repleta de pequenas personagens que fazem do Lot uma verdadeira vila, vivida, com as suas próprias histórias e intrigas. Deste modo, o leitor que necessite de um passo acelerado nos seus livros pode ter dificuldade a entrar nesta narrativa. Ao longo destas primeiras páginas passamos tempo com várias famílias, comerciantes e idosos do Lot, compreendemos como pensam, como está organizada a vila e as relações interpessoais de cada elemento deste ecossistema. Este lento setup magnificamente feito faz com que os eventos posteriores serem tão mais tensos e impactantes, uma vez que sentimos que somos parte da vizinhança de Lot.
Não interpretem, no entanto, que as primeiras 150 páginas são enfadonhas, longe disso! Para além de King ter uma escrita magnífica, daquela que de fazer parar e voltar atrás só para experienciar a passagem outra vez, King vai também lentamente aumentando a tensão, brotando no leitor inquietude e desconforto.
We’d all be scared if we knew what was swept under the carpet of each other’s minds
A personagem principal deste livro é Ben Mears, um escritor que procura escrever o próximo livro na sua vila natal, e exorcizar alguns traumas de infância. Para seu azar, assim que chega a ‘Salem’s Lot, coisas estranhas começam a acontecer: um cão violentamente assassinado; o desaparecimento de uma criança… À medida que a lista de desaparecimentos aumenta, Ben percebe que algo está errado, e junta forças com o novo amigo professor Matt Burke, o médico do Lot Dr. Cody e a nova paixoneta Susan Norton.
Infelizmente, nem todos estes personagens deixaram um marco grande ao longo do livro. Dentro dos mais bem contruídos temos o protagonista Ben, que serve ao leitor de POV na maioria das páginas, ajuda a desconstruir os horrores que vão acontecendo. Mark Petrie, que se junta ao grupo de heróis, é um miúdo demasiado inteligente para a sua idade, que não deixa o medo dominar as suas ações e que prova ser uma peça fundamental para tentar salvar a vila do perigo que se eleva. Padre Callahan, também recrutado para o grupo mais tarde, similarmente tem um arco extremamente interessante, em que a sua fé é posta à prova, numa cena épica e memorável. No entanto, tirando estes 3 personagens, os restantes habitantes do Lot parecem um pouco superficiais, principalmente Dr Cody e Susan, que apesar de terem muito tempo na página, não tem grande desenvolvimento. Em relação aos restantes membros de Salem’s Lot, apesar de serem uma peça fundamental para a imergir o leitor na narrativa, nunca fazem grandes impressões.
And all around them, the bestiality of the night rises on tenebrous wings. The vampire’s time has come.
If a fear cannot be articulated, it can’t be conquered.
Mas e o terror? Este livro é assustador ou não? Não se preocupem leitores, porque King traz-nos a verdadeira história de vampiros desde o Drácula de Stoker. Os vilões brilham, não na pele, mas no caracter ameaçador e aterrorizador com que lentamente dominam a vila. Com estes vampiros, King apresenta uma verdadeira ameaça, incrivelmente difícil de enfrentar, oferecendo cenas de verdadeira tensão e terror, que muitos filmes cheios de jumpscares falham em fazer
Se já conheces a reputação dos finais de King, não te preocupes, pois ‘Salem’s Lot tem um final incrivelmente satisfatório. O último terço do livro é uma viagem eletrizante, que conclui num clímax que conclui a história, mas deixa suficientes janelas abertas para o leitor imaginar o que acontece a seguir (ou mesmo para serem exploradas noutros livros do Multiverso de King).
Devo, no entanto, mencionar que King não deixa de ser King neste livro. ‘Salem’s Lot é repleto de referências a marcas e eventos americanos da década de 70, que para os leitores mais novos e de fora dos estados pode parecer exagerada. Não obstante, nunca se torna entediante e é algo que com o tempo, se entranha ajudando a tornar a historia mais imersiva e realista.
Concluindo, ‘Salem’s Lot é uma icónica história assustadora, com vilões ameaçadores, que nos faz sentir completamente imersos nos estados unidos de 1970. É uma recomendação fácil aos amantes de King e de terror, aos apaixonados por histórias de vampiros, ou para qualquer fã de uma boa história. É sem dúvida dos melhores que King tem para oferecer.
‘Salem’s Lot tem também uma adaptação ao grande ecrã em produção, com estreia para 2023, tendo já sido adaptado em 1979. O livro, em Portugal, foi reeditado este ano pela Bertrand Editora.
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