Gostaria de começar por mencionar que sendo o segundo livro da trilogia Arc of a Scythe de Neal Shusterman, e que o primeiro livro é dos meus favoritos de todos os tempos, não só do género mas em geral, Thunderhead é, na minha opiião, uma continuação perfeita.
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Muitas são as vezes em que o autor se perde ao escrever a sequela, pressionado por continuar o mundo que criou de forma igualmente excitante, mas Thunderhead não falha. O mundo criado por Shusterman é um dos conceitos distópicos mais interessantes e originais que já li e que fazem desta saga não só um épico de fantasia fantástico, mas também uma discussão engenhosa sobre o que é politicamente correto ou não, discutindo muito sobre a vida e a morte e sobre os propósitos do ser humano.
Os personagens, como sempre, são um dos pontos mais fortes e sólidos do livro. Thunderhead ocorre quase um ano após os eventos de Scythe. Seguimos Rowan, que agora é conhecido como “Scythe Lúcifer”, um herói sombrio que pretende fazer justiça pelas próprias mãos, e Citra que, como Scythe júnior, sob a proteção de Scythe Curie, que quer mudar o sistema corrupto por dentro. No entanto, as coisas não poderiam ser fáceis e vemos nos deparados com peripécias e enredos cada vez mais complicados de se resolver, interligados e formas que só percebemos mais tarde e que nos deixam arrebatados. A única com poder capaz e sabedoria suficiente para mudar tudo é a própria Thunderhead, a grande Inteligência Artificial que controla o mundo, mas qual será sua posição em um mundo que é considerado perfeito?
Esta história tem uma qualidade incrível em termos de construção de enredos, e apesar de ter vários elementos de ficção científica, surreais e fantásticos, aborda tópicos actuais e mundanos sobre a vida humana e o significado dela. Acima de tudo foca-se em qual será a coisa certa a fazer num mundo que aparenta ser “perfeitamente” organizado. Há muita corrupção por trás da organização Scythe, que sabíamos desde o primeiro livro, mas desta vez é possível sentir que a tensão que existe nesta escolha entre tirar vidas com responsabilidade, sensibilidade e empatia, e aqueles da “nova ordem” que tiram prazer em fazer isto. É uma discussão super interessante que nos coloca a pensar sobre o que é moralmente correto.
Neste livro, como o nome indica, temos o que conhecemos como Thunderhead, que é a mente central e a que administra tudo no mundo (com excepção dos Scythes), como personagem principal. É interessante vermos esta AI fazer perguntas que a si mesma e a duvidar das regras que foram impostas. Testemunhamos o que poderíamos considerar uma espécie de crise existencial com monólogos surpreendentes.
O estilo de escrita é brilhante como sempre, oferecendo-nos um livro altamente informativo com um enredo intenso sobre política e debates emocionantes, mas também uma história muito fácil de ler e altamente envolvente. Lembremos que este é um livro que se concentra em um mundo altamente avançado, onde os seres humanos superaram e conquistaram todos os aspectos problemáticos da vida, inclusive a morte. Isto dá asas para grandes discussões morais sobre a vida.
O final é destroçador, fantástico e inovador, culminando num caos generalizado que consegue emocionar e surpreender, e que nos deixa a saber que a partir de agora muitas coisas mudarão neste mundo em geral e certamente veremos um panorama mais caótico no último livro. Mal posso esperar.
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