A Farsa – Stephanie Archer
Publicado a 06 Out, 2024

Nunca tinha lido nada desta autora antes, então comecei este livro sem grandes expectativas, mas também sem grandes preconceitos. Gosto de me surpreender e de deixar os livros falarem por si e apesar de não ter sido muito surpreendida (irei explicar melhor porquê) achei que foi um livro muito fácil de ler, com temas um pouco mais pesados que foram bem abordados como a parte da positividade corporal, da pressão mental que pode ser feita aos atletas de altas competições e até mesmo relações tóxicas. 

“Everyone deserves to move and feel good in their body. Everyone deserves to love themselves.”

Desde o início, percebi que este livro ia ser mais do que apenas uma história de amor cliché. Claro, não é um enredo totalmente original – a premissa de um romance falso que se transforma em algo mais genuíno já foi utilizada diversas vezes no género. Mas a maneira como a autora constrói essa narrativa é o que realmente importa.

O título do livro entrega logo tudo. Não há segredos quanto ao que vai acontecer. O romance “de mentira” é apresentado de imediato, quando Hartley, a nossa protagonista, decide fazer um pacto com Rory, um atleta de hóquei no gelo que parece estar sempre no centro de tudo. E por que motivo alguém faria isso, perguntam? Porque Hartley está a ser perseguida pelo fantasma do seu ex-namorado tóxico, que não consegue deixá-la em paz e tem de ser sua fisioterapeuta durante a época.

Aqui entra o primeiro ponto alto do livro: a relação passada de Hartley não é apenas um pano de fundo para justificar as suas ações. Não é apenas uma história triste que é mencionada de passagem para dar algum contexto emocional. Pelo contrário, a autora mergulha nessa relação tóxica de uma forma bastante interessante, revelando gradualmente os traumas e as cicatrizes que Hartley carrega. Ficamos a saber que o ex-namorado a traiu várias vezes, fazendo-a perder a fé no amor e nos relacionamentos.

E é aqui que o plano entra em cena: para se ver livre de uma vez por todas do ex-namorado, e também para poder concentrar-se na sua vida e nos jogos de hóquei, Hartley propõe a Rory uma relação de fachada. Fazem um pacto, uma espécie de contrato onde ambos ganham. Ela finge que está numa nova relação, e ele, sendo o típico atleta confiante e que quer ser bem visto como novo capitão, aceita a proposta.

“I’m in love with her. Hazel’s eyes are bright as she takes in the living room again, smiling, and a warm pulse of happiness radiates through my chest. I’m in love with her, and I’d do anything to make her happy. And this look of elation on her face as she smiles up at me—it’s everything I’ve ever wanted.”

Depois surge o segundo ponto importante do livro: a relação entre Rory e Hartley. À primeira vista, Rory parece aquele tipo de personagem masculino que já vimos em outros romances – o atleta charmoso, sempre rodeado de atenção, com uma postura confiante e despreocupada. Mas à medida que a história avança, começamos a ver camadas mais profundas no personagem. Ele não é apenas o “bonito e popular”. Há uma vulnerabilidade em Rory que se vai revelando aos poucos, especialmente quando percebemos que, para ele, este romance de mentira talvez não seja assim tão falso. 

Por outro lado, Hartley é uma personagem bem construída. A sua força e determinação são evidentes desde o início, mas ao mesmo tempo, vemos as suas fragilidades. A forma como a autora aborda o trauma emocional de Hartley é bastante cuidadosa e realista. Sentimos a sua luta interna – o desejo de se libertar do passado e, ao mesmo tempo, o medo de se entregar a algo novo.

“It’s not fake anymore,” I whisper. “Is it?” Rory shakes his head. “No, Hartley. It isn’t.” His gaze moves over my face like he’s trying to take in every detail about me, and he swallows like he’s nervous. “It hasn’t been fake for me for a long time.”

O desenvolvimento da relação entre os dois é extremamente bem feito, mas confesso que, em certos momentos, desejei que houvesse mais surpresas ao longo deste livro. A previsibilidade do enredo, de certa forma, tirou um pouco da emoção que esperava encontrar. Desde cedo, sabemos que este pacto não vai continuar apenas como uma simples farsa entre estas personagens. É óbvio que, mais cedo ou mais tarde, os sentimentos vão evoluir e eles acabarão juntos com um casal a serio. E, embora o percurso seja cativante, senti falta de algumas reviravoltas que mantivessem a tensão até ao fim.

“If you really were my girlfriend, Hartley,” he whispers, his breath sending electric currents over my skin, “there’s no limit to what I would spend on you, so if we want to sell this? Let me.”

O que realmente diferencia este livro de outros romances clichês são os temas que a autora decide abordar. A positividade corporal, por exemplo, é tratada de maneira bastante sensível. Ela luta muito por causa das inseguranças da mãe e tem até o sonho de criar um estúdio de yoga onde todos os corpos se sintam aceites. Ou até mesmo a pressão aos atletas de alta competição que é abordado com o caso de Rory e do pai que o julga quando ele faz um passe mal, tudo isto são coisas que enriquecem esta narrativa e que eu gostei bastante de ver as personagens lidar e ultrapassar os obstáculos. 

Por isso, sim recomendava a quem estive à procura de um romance fofinho com um tema um pouco cliché, mas como se costuma dizer foi para mim um livro que me soube a pouco. 

Esta análise foi possível com o apoio da Saída de Emergência !
A Farsa
The Fake Out
Satisfatório
História:
Ano: 2024
Saga/Série: Vancouver Storm 2/2
Lançamento: 14 de Agosto de 2024
6
  • Positivo
  • Temas Abordados
  • Romance fofo
  • Negativo
  • Cliché
Escrito por:
Rute Cândido
Apesar dos meus tenros 29 anos, a alma de pessoa idosa já me assombra certos dias, principalmente nos dias de chuva e adoro passá-los acompanhada de um bom livro. Talvez seja uma espécie de abacate,de aspecto enrugado mas verde, com uma textura ótima para coisas frescas de verão que tanto adoro, mas que não pode passar grande tempo sem a sua outra metade e sem fazer o que mais gosta - ler e escrever. Agora que vejo o fim do túnel bem mais perto decidi fazer alguma coisa de que me posso orgulhar - começar a colaborar com o Café mais Geek.