Binding of Isaac Four Souls
Publicado a 17 Mai, 2021

O videojogo na palma das mãos

Dentro do mundo dos jogos Indie, Binding of Isaac é, sem sombra para dúvida, um dos títulos que sobressalta, não só pela sua qualidade, mas também pela sua longa carreira. Diria que, a par do Super Meat Boy, é um dos Indies mais antigos. Ora, Binding of Isaac é conhecido pela sua história grotesca sobre uma mãe que mata um filho a mando de um “Deus”.  São vároas as referências à bíblia e a outros elementos relacionados com a religião Cristã como, por exemplo, os sete pecados mortais.

No entanto, não é pelo tema que o jogo é reconhecido, diria. O aspeto medonho e aterrador de algumas personagens ou inimigos dentro do jogo é que faz com que o jogo seja o que é. É nisso que Binding of Isaac Four Souls se baseia para construir uma realidade paralela do jogo de vídeo, onde em vez de termos por objetivo chegar a um sítio dentro de uma masmorra, temos de derrotar bosses com um dado até conseguirmos 4 almas.

Binding of Isaac Four Souls apresenta-se como um simples jogo de cartas, guiando os jogadores através de um simples dado com 6 lados e moedas. Tudo o precisamos de saber está descrito nas cartas e pequenos pormenores. como só podermos atacar um monstro por turno (em regra) ou do ataque tem de resultar uma morte (do monstro ou do jogador), estão facilmente descritas no pequeno panfleto incluído na caixa de jogo.

O jogo é, como disse, relativamente simples de aprender. Não existem regras muito complexas, no entanto, é natural que existam algumas dúvidas nas primeiras vezes que joguemos. Nem tudo está bem explicado nas regras e, em algumas circunstâncias, foi necessário tirar a limpo o que fazer em determinadas situações.

Quanto ao jogo em si!

Em primeiro lugar, quero enaltecer o trabalho realizado pela equipa do Studio71 no que toca à arte do jogo. Está sensacional! Os desenhos estão iguais aos do videojogo, ao longo de mais de 400 cartas, o que demonstra um trabalho e um esforço imenso em retratar o videojogo para o tabuleiro. Até as moedas de jogo são iguais!

Em termos de jogabilidade propriamente dita, a questão sorte é central neste jogo. No videojogo, também podemos pautar a nossa prestação em cada run pela sorte (ou falta dela) que temos em cada um dos itens que nos sai ou nos bosses que enfrentamos. Mas quando somos realmente bons e conhecemos os padrões de ataque de cada inimigo, torna-se mais fácil desviar dos ataques e atacar com mais eficácia. No jogo de tabuleiro, isso não acontece por razões obvias.

Aqui, para além de estarmos a jogar contra o jogo, estamos também a jogar contra os nossos amigos. Cada pessoa tem acesso as suas cartas, que pode ativar quando quiser, podendo ajudar ou prejudicar o adversário. Aliás, tal como é dito nas regras, trair a confiança de um jogador é aconselhado! Por isso, para além de tentar matar monstros, o jogo torna-se mais divertido se fizermos de tudo para que as outras pessoas não consigam ganhar. E este é o meu primeiro problema relacionado com a sorte: os itens que cada um tem. Existe uma enorme quantidade de itens – e todos eles diferentes – que podem variar entre muito maus e extremamente bons. Basta um jogador ter melhores itens que o adversário para o destruir por completo. Obviamente que o fator sorte correr para todos os lados e nem sempre existe um claro beneficiado, mas quando existe, ninguém fica feliz.

Aproveito para deixar uma dica quanto a este ponto. Na minha opinião, este jogo serve muito bem a três ou mais jogadores. A dois não recomendo por dois motivos: normalmente quando se joga a dois jogadores, a rotação das cartas é menor, o que significa que vamos ver menos coisas a acontecer e não existe tanta gente a tentar competir pela vitória. Este último ponto pode ser visto como uma coisa positiva, mas não é. Vejamos: se existe apenas um obstáculo entre o jogador e a vitória, o jogo vai ser muito mais “limpo”, do que comparado com um jogo a 3 ou 4 jogadores. Ou seja, num jogo onde é encorajada a interação entre jogadores, quanto maior for a mesa, maiores são as interações e/ou intrigas. A meu ver, quanto maior for a rotação e a gestão de cartas, maior o proveito retirado do jogo.

Avançando, tendo por objetivo matar monstros, temos de ter em atenção quando atacar e o que atacar. E de que forma atacamos os monstros? Com o resultado do rodar do dado, claro. Mais uma vez, a sorte reina. Todavia, pela influência das cartas em nossa posse, podemos alterar o resultado do dado ou, até mesmo, anulá-lo. Daí a importância de saber quando atacar. De qualquer forma, do ataque pode resultar uma de duas coisas: ou matamos o monstro e ganhamos uma recompensa, ou morremos e temos de arcar com as consequências. No primeiro caso, a recompensa pode ser de vários tipos, por exemplo, moedas, cartas de loot ou cartas de tesouro, enquanto perante a morte do jogador perdemos sempre uma moeda, uma carta de tesouro ativa (não eterna) e uma carta de loot da nossa mão.

Dito isto e sendo o objetivo ter quatro souls (almas), ganha o primeiro jogador que cumprir esse requisito. O jogo traz também umas almas bónus que podemos jogar caso já tenhamos alguma experiência. Essas almas não são ganhas ao derrotar inimigos, mas sim cumprindo certos requisitos como, por exemplo, ter mais do que 25 moedas no nosso inventário.

Veredito

Em suma, Binding of Isaac Four Souls é um jogo de cartas com uns toques de RPG que não podemos levar muito a sério. É impossível delinear qualquer estratégia válida, uma vez que pode sempre existir alguém para nos tramar, seja o jogo, seja o nosso “melhor amigo”. Neste jogo, nada é seguro. A não ser as regras base. Tirando isso, tudo é mexido e remexido pela sorte. Por um lado, a utilização de um dado cria imensa instabilidade nos resultados. Por outro, nunca sabemos bem com que cartas é que podemos contar.

Comparativamente ao jogo de vídeo, a arte está espetacular e diria que, de modo geral, retrata bem a experiência do jogo. Também no jogo original existem imensos acontecimentos inesperados e até, por vezes, caóticos, capazes de destruir qualquer partida. Às vezes, até um simples item que, normalmente, é suposto fazer um efeito positivo para o jogador, pode virar-se contra nós.

Se quiserem ter acesso a um jogo de cartas diferente, cheia de intrigas e conflitos, estão no sítio certo. Se, por outro lado, gostam mais de jogos em que não existe qualquer interação e os jogadores atuam livremente, este não é um jogo para vocês. É um jogo simples de aprender e a caixa faz referência a jogos de 30 min a 1h. Eu diria que esse tempo é relativamente correto, embora possam existir grupos onde a negociação force um incremento temporal.

E vocês, já jogaram este jogo? Já jogaram o jogo de vídeo ou algum outro jogo relacionado com estes autores? Digam de vossa justiça!

Esta análise foi possível com o apoio da Studio71 Games!
Binding of Isaac Four Souls
Bom
Criador:
Jogadores: 2-4 Duração: 00H30M (30-60 min min) Idade: 13+
Lançamento: 2018
Temática: ,
Distribuição: ,
7.5
  • Positivo
  • Imensas cartas (mais de 400!!);
  • Arte muito aproximada com a arte do videojogo;
  • Excelente jogo para destruir a jogada do colega do lado.
  • Negativo
  • Irão precisar de imensa sorte!
  • O jogo pode perder qualidades quando jogado em grupos mais pequenos.
Escrito por:
Joel Henriques
A crescer com o Pokémon desde os cinco anos, apresento-me como um amante incurável do mundo dos videojogos e jogos de tabuleiro. Tenho como objetivo principal, em cada artigo que publico, escrever de forma a transmitir uma opinião simples, mas completa, para que todo o tipo de jogadores sinta que seja como se estivesse, ele próprio, a jogar. Acima de tudo, divirtam-se!