Tivemos acesso ao Beta do mais recentemente anunciado hero-shooter multiplayer em primeira pessoa da Firewalk Studios, Concord. Em primeiro lugar, pedimos que vejam a nossa crítica como uma orientação construtiva para melhorar o jogo antes do seu lançamento e não um ataque gratuito aos problemas que o mesmo apresenta. Não nos deixamos influenciar pela opinião em massas, até porque tivemos o cuidado de evitar ouvir ou ler a opinião de outros jogadores sem antes ter um veredicto próprio. Concord realiza algumas coisas bem, mas necessita obrigatoriamente de melhorar, caso queira captar a atenção dos jogadores.
A nossa análise não estaria correta se não falássemos do impacto positivo inicial que tivemos com o estilo de arte planeada para o jogo, que nos remete para os anos 80 do imaginário da humanidade na corrida ao espaço, dentro de uma vertente futurista, bem desenhada, única e com uma captação interessante do universo em que decorre o jogo. Parece-nos que a simbiose do estilo gráficos dos anos 80 com o tema da exploração espacial foi um casamento feliz. Com cinemáticas bem planeadas, o jogo apresenta-nos, nos primeiros minutos, algumas das personagens jogáveis, todas elas com características profundamente distintas e inclusivas. As narrativas parecem-nos ser igualmente apropriadas às personagens, incluindo as piadas, que nos soltaram alguns risos tímidos. A desenvolvedora Firewalk Studios teve a audácia fenomenal de criar um ambiente semelhante (ou que nos remete) para uma dinâmica de equipa dos Guardians of the Galaxy ou até mesmo do Destiny 2, tornandoo espaço onde a história se desenrola bastante convidativo e participativo.
Comicamente, podemos dizer: “Houston, we have a problem” para resumir o lançamento atribulado do próprio BETA do jogo. Supostamente, o beta de Concord seria jogável a partir do dia 12 de Julho, mas só o conseguimos jogar por volta do meio da tarde, no dia seguinte. Conseguindo entrar no jogo, foram vários os problemas que nos davam a infamosa “tela azul da Playstation” e nos forçava ao fecho do jogo. Procurámos apoio e o problema foi resolvido com um patch rápido lançado pela desenvolvedora. Através do Reddit, foram vários os jogadores que relataram o mesmo problema. Contudo, é importante destacar que se trata de uma versão BETA, onde esses problemas são comuns (e até necessários) para assegurar um lançamento final de alta qualidade para todos os jogadores. A desenvolvedora já demonstrou o seu compromisso com isso, tendo o meu respeito e confiança.
Contudo, importa referir que, inicialmente, o BETA só seria jogável para quem comprasse o jogo antecipadamente ou se inscrevesse no fórum da desenvolvedora. Alguma coisa aconteceu entretanto (à qual nos é totalmente alheia) que fez a distribuidora Sony Interactive Entertainment disponibilizar o acesso ao Beta para todos os subscritores da assinatura Playstation Plus. A medida não foi divulgada, não sabendo se se trata de falta de comunicação ou uma outra jogada de marketing por parte da Sony, para chegar a um maior número de jogadores. Acreditamos que seja a boa e velha tática do “queijo para ratos”. Não sabemos se a mudança de tática planeada para o acesso ao Beta BETA também ter sido um sinal, segundo a opinião pública (e não a nossa) de se sentir que o jogo poderá ser um “flop”.
Tratando-se de um first-person hero shooter, Concord será na sua base, um life-service game, multiplayer, com várias seasons programadas ao longo do tempo. Com uma variedade considerável de agentes extraterrestres/aliens e até mesmo robôs, com design único e inclusivos. Cada personagem apresenta uma variedade de habilidades que adequam-se e são facilmente adaptáveis ao estilo de jogo procurado pelos jogadores. Neste sentido, existem personagens cujo estilo de jogo é mais focada na luta corpo-a-corpo, outras que se baseiam-se numa atitude mais stealth (algumas ficando mesmo invisíveis), e claro que não foram esquecidas as personagens que dão dano long range, assim como as híbridas (mistura de dois tipos de jogabilidade numa só personagem). Com atualmente 16 personagens, digamos que é vasta a escolha de um herói que melhor se adeque ao nosso estilo de jogo.
Contudo, nem sempre o estilo de jogo ou as características da personagem que importam. Não existem regras específicas ou obrigatórias de preencher. Tratando-se de um jogo multiplayer 5 versus5, durante o BETA, foram diversos os jogadores que davam insta-lock nas personagens que faziam mais dano ou que, por meio de algum glitch ou exploit, conseguiam dominar o jogo, tirando vantagem sobre outros jogadores. Será talvez a regra de ouro de qualquer hero-shooter: antes de lançar ou criar uma personagem, perceber se as suas habilidades são justas e adequadas para o jogo, tendo em conta os diferentes modos de jogo, balanceamento e equilíbrio do mesmo. Para o estado atual, sendo um BETA, encontrámos um META (conjunto de personagens melhores para jogar o jogo) repetitivo.
Como modos de jogo, temos o clássico team death match, kill and collect e o de conquistar/capturar um ponto no mapa. Todos os modos de jogo são 5 vs 5, por enquanto. O jogo, futuramente, terá também um modo ranked.
Mesmo em modo BETA, Concord apresenta-nos alguns mapas diferenciados, que se passam em diferentes exo planetas com ambientes profundamente distintos e interessantes. Tanto podemos lutar num mundo desértico como numa plataforma sobre um planeta aquático. Houve, por parte dos desenvolvedores e artistas, uma clara intenção de criar ambientes singulares, interessantes e amplamente atrativos. Contudo, apesar da excelência dos ambientes, temos várias reservas em relação ao mapeamento, especialmente na disposição das diferentes plataformas, portas e rotas de ataque ou defesa. Em várias ocasiões, encontrámos outros jogadores a explorar pontos cegos dos mapas para obter vantagem sobre os demais. Reconhecendo que se trata de uma versão BETA, acreditamos que seria interessante ter um modelo de report mais acessível, além de uma forma mais simples de formar grupos ou adicionar novos amigos à equipa.
Ficamos também com algumas dúvidas no que toca à personalização das personagens. Para já, não é garantido que existirá uma loja para comprar cosméticos, mas tudo indica que a mesma será implementada. Os únicos cosméticos que fomos recebendo, ao longo do jogo, foi ao passar de nível na nossa conta pessoal. Seria melhor atribuir cosméticos conforme o desenvolvimento e aumento do nível de cada personagem, jogada pelo jogador e não a atribuição, deliberada, de cosméticos random somente com o progresso da conta pessoal. Mais do que justo, seria interessante.
Concord está na aproximação do horizonte de eventos de um buraco negro. Sentimos que se a developer não alterar algumas condições do jogo, o mesmo poderá ter imensos problemas em captar a atenção dos jogadores no futuro. Não nos interpretem mal. O jogo é “o.k.” em proporcionar uma experiência de um hero shooter que nos meteu horas e horas a experimentar novas personagens e a desafiar novos jogadores. Contudo, pelas limitações do Beta, sentimos queConcord pode cair num universo repetitivo, completamente saturado por outros hero shooters já estabelecidos no mercado. Poderiam ter algo único que fizesse migrar os jogadores de outros jogos do mesmo género para este. O facto de existirem missões secundária fomentam a necessidade de re-jogar mais partidas, contudo, não é o suficiente.
Sentimos a necessidade das coisas mais básicas: melhorar o voice chat; implementar um battel pass; dar bonificações aos jogadores que apresentem uma boa conduta ética e desportiva no jogo competitivo e punir severamente os quitters; ter um sistema de reposição rápida para equipas que fiquem sem jogadores por causa de leavers; criar um tutorial obrigatório para todos os jogadores que comecem a jogar o jogo – de modo a evitar problemas de maior efeito; ter mais cuidado com o balanceamento das personagens de maneira a mitigar os efeitos de personagens abusivamente fortes sobre outras mais fracas, entre outros aspetos.
Por outro lado, Concord poderia implementar um modo PVE (sem ser o clássico PVP) semelhante ao que Destiny 2 efetua, dando um novo sentido rítmico à história que desenvolve nas cinemáticas que nos apresenta. Pensar num grupo de jogadores mais alargado, em vez de um grupo específico, poderá ser o modelo mais certo a seguir. Tendo uma vasta experiência de hero shooters em primeira pessoa, posso assumir, sem nenhum pretensiosismo, que se o Concord não efetuar alterações aos problemas enumerados, pode, evidentemente, ficar fadado ao fracasso de não captar a atenção dos jogadores. Sentimos que existe um universo de potencial consideravelmente enorme no videojogo, mas está subaproveitado. Será um problema de marketing ou de comunicação por parte da desenvolvedora?
Um outro grande problema é talvez a crise de identidade que Concord sofre. Por um lado, quer se assumir como algo único, num estilo de arte bastante diferenciado. Por outro, apropria-se de mecânicas de outros jogos que já estão no mercado há mais de 7 ou 8 anos e que já possuem uma base bastante fiel de jogadores. Não será o suficiente para captar a atenção destes jogadores, somente com visuais deslumbrantes, boas cinemáticas ou personagens únicas e inclusivas. É necessário encontrar um ponto diferenciador de todos os outros hero shooters e exponenciar esse fator ao seu máximo.
Um outro problema é o facto do jogo ser pago. Com um custo de 39,00€ a versão base, entendemos que não é, de todo, um fator benéfico para a desenvolvedora ou para a própria Sony. Uma vez que implementaram esse sistema, mesmo que o retirem mais tarde e tornem o jogo free to play, tratar-se-á de uma “facada nas costas” a todos os jogadores que pagaram pelo jogo na totalidade. Será difícil “descalçar esta bota” ou, aproveitando o universo, “contornar este asteroide”. Por outro lado, a opinião pública está a desconstruir e a destruir totalmente o jogo, dizendo que será um verdadeiro flop. Na minha opinião, não digo que Concord será um flop, mas está, sobretudo, desvalorizado. Se tivesse um modo história em simbiose com o modo multiplayer seria o melhor de dois mundos e daria uma visibilidade colossal ao jogo, por se adaptar ao gosto generalizado dos utilizadores. Uma boa parte dos jogadores da Playstation habituaram-se aos melhores exclusivos com as mais fantásticas histórias single player. Há de facto aqui uma camada que é posta de lado ou descartada. Não será do dia para a noite que estes jogadores irão gostar de jogos multiplayer. Será necessário repensar o rumo de Concord, de maneira a evitar cair no “horizonte de eventos” e mergulhar num buraco negro.
Devemos ainda apontar para o profundo erro de colocar jogadores de P.C. a jogar simultaneamente com os de consola (Playstation) sem qualquer tipo de ajudas. Enquanto que os jogadores de P.C. possuem uma mira mais assertiva, os jogadores de consola são punidos por nem sequer existir um ajustamento personalizado assistência de mira. Se o modelo existe noutros jogos, por que motivo neste não existe?
Ainda é cedo para tomar uma posição referente ao videojogo Concord, mas existem vários pontos a melhorar, como mencionamos ao longo do artigo. Reiteramos a nossa opinião de que Concord é um jogo “ok”, ideal para passar o tempo e para se divertirem a jogar com amigos ou contra outros jogadores. Contudo, lançamos a seguinte questão: Terá sido a aposta num jogo pago, hero shooter, multiplayer, a medida mais acertada, ou será que não teria sido melhor criar um um jogo com modo história e multiplayer para todos os jogadores?
Esta análise foi possível com o apoio da PlayStation Portugal!SEM ARTIGOS
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