O filme Crimes do Futuro dirigido por David Cronenberg e estrelado por Viggo Mortensen e Léa Seydoux, desenrola-se num futuro distópico em que a humanidade começa a sofrer mutações e a perder a capacidade de sentir dor. A cirurgia extravagante e amadora tornou-se, consequentemente, a norma, e a arte performática tornou-se a mais alardeada e idolatrada das ocupações. A tecnologia tornou-se, assim, uma parte tão integral da vida humana que as pessoas dependem dela para a sua sobrevivência. No entanto, como resultado, muitos novos tipos de crimes e problemas sociais começam a surgir.
A trama segue o personagem principal, um detetive talentoso e obstinado, interpretado por Jenny Wright, responsável por investigar estes novos tipos de crimes. Mortensen interpreta um artista chamado Saul Tenser, enquanto Seydoux interpreta Caprice, a sua parceira tanto profissional quanto pessoal. O filme mostra a evolução da relação entre Saul e Caprice, bem como a forma como ambos lidam com as suas mudanças corporais. O filme marca o regresso de David Cronenberg ao género de terror corporal, no qual é conhecido por ser uma força impulsionadora. No entanto, o filme tem uma qualidade distante e clínica e o coração do cineasta parece não estar presente. O desempenho de Mortensen como Saul, um homem que parece estar a morrer lentamente, é intensamente impactante e transmite a sensação de alguém resignado com a vida. O filme apresenta-nos, ainda, uma série de reviravoltas surpreendentes e tensas que colocam constantemente a resiliência e habilidade de Wright para enfrentar essas novas ameaças sob teste.
O filme ganha relevância ao levantar questões morais acerca do impacto da tecnologia na evolução da definição de espécie humana, tendo para além disso vários pontos positivos e negativos que valem a pena serem mencionados. A direção de arte de Crimes do Futuro é, sem dúvida, espetacular, destacando-se a forma como Cronenberg cria um mundo futurista credível e detalhado que realmente faz o espectador sentir como se estivesse num futuro não tão inacreditável e distante. As atuações são excelentes, principalmente a do ator principal, Viggo Mortensen, que consegue transmitir a complexidade da trama de maneira eficaz. Outro aspeto positivo é também, como já mencionado, a forma como o filme aborda temas polémicos como a evolução da tecnologia e a sua relação com a moral e a ética humana. É interessante ver como a tecnologia pode ser usada para fins positivos e negativos, e como isso pode afetar a sociedade e a humanidade. Por outro lado, embora a narrativa seja interessante, pode ser confusa para algumas pessoas, sendo em vários momentos um pouco complicada de se acompanhar e com diversas cenas difíceis de entender.
O estilo visual de Cronenberg é caracteristicamente único e impactante, e isso é evidente em Crimes do Futuro. A atmosfera futurista é criada através de efeitos visuais surpreendentes e cenários deslumbrantes, que ajudam a enfatizar a natureza distópica da sociedade retratada no filme.
Crimes do Futuro é um filme interessante e provocativo que apresenta uma visão ambivalente sobre o futuro da tecnologia e da sociedade, e que nos traz um reflexo da carreira de David Cronenberg, repleta de obras sombrias e perturbadoras.
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