A adaptação do musical Everybody’s Talking About Jamie do palco para a tela conta a verdadeira história do adolescente homossexual, Jamie Campbell, cujo sonho era ser uma drag queen. Neste filme, Jamie (Max Harwood), um jovem adolescente numa cidade inglesa de classe trabalhadora imagina toda uma outra vida cheia de glamour e brilho fora dos limites que a sua cidade e a sua escola lhe impõem. Enquanto a mãe Margaret (Sarah Lancashire) dá o melhor de si para o apoiar, os colegas gozam com ele por ser homossexual, a professora tenta destruir-lhe os sonhos, forçando-o a encarar a vida com mais seriedade, e o pai (Ralph Ineson) rejeita-o por ser como ele é.
Superficialmente, Everybody’s Talking About Jamie parece muito com o filme The Prom do ano passado, já que os personagens principais dos musicais estão a trabalhar para o mesmo objetivo: convencer uma escola restrita a permitir que alunos queer frequentem um baile de formatura que inclua pessoas LGBTQIA+.
No filme de Ryan Murphy, a personagem principal deseja poder dançar com a namorada no baile como qualquer outro casal heterossexual, enquanto que neste filme, Jamie sonha em poder ir de vestido. Mas é basicamente aí que as semelhanças terminam. Jamie é muito mais extrovertido, mais confiante, a sua luta interior é outra. O maior obstáculo de Jamie é interno, e é com a ajuda de todos ao seu redor que aos poucos ele se resolve. Em vez de se esconder a si mesmo e à sua personalidade extrovertida, a personagem principal decide perseguir os sonhos de se tornar uma drag queen com uma pequena ajuda dos seus amigos – a melhor amiga de Jamie e aspirante a médica, Pritti (Lauren Patel), e o seu novo mentor Hugo (Richard E. Grant), a ex-drag queen Loco Chanel.
Embora a história se foque em Jamie, as personagens secundárias, que durante os primeiros 30 minutos do filme aparecem ser abandonados para quinto plano, aos poucos ganham força e ganham o seu próprio destaque debaixo dos holofotes, tendo a sua própria narrativa.
No que diz respeito aos musicais sobre a adolescência, Everybody’s Talking About Jamie envia uma mensagem encantadora e alegre de auto-aceitação. Desde o início, a performance de Harwood como Jamie é encantadora e convincente. Comprometendo-se com os altos e baixos da história de Jamie de olhos arregalados e voz confiante, atirando-se por completo nas sequências de sonho, que equilibram uma certa vulnerabilidade com a sua confiança de forma mágica.
Embora a maioria das músicas soem todas ao mesmo, não sendo muito memoráveis e servindo apenas como música de fundo para uma história de base mais interessante do que os números musicais, existem uma exceção. A nova adição ao filme que traz um pouco mais de âncora e profundidade à história é a nova música original “This Was Me”. Nesta sequência, Hugo mostra a Jamie não apenas o seu passado fabuloso como Loco Chanel, mas também o que a comunidade gay passou durante a a crise do HIV/SIDA, a morte de Freddie Mercury, os protestos de rua, os policias que prendiam quem frequentasse clubes homossexuais, e o momento radical em que a princesa Diana conversou com doentes com SIDA. Na sua interpretação, Grant torna-se num contador de histórias cativante com lágrimas nos olhos que ainda sente as perdas de décadas atrás. É nesses momentos de honestidade e vulnerabilidade, como a apreensão de Jamie antes de subir ao palco pela primeira vez como uma drag queen, que torna Everybody’s Talking About Jamie um pouco mais especial.
Em conclusão, com performances que brilham num ambiente que em tudo tenta retirar os sonhos e a luz interior das personagens, Everybody’s Talking About Jamie resulta no ecrã como uma história de adolescência, de crescimento e aceitação necessária para toda uma geração de miúdos e graúdos que finalmente se podem ver representados em primeiro plano e sem vergonhas.
Esta análise foi possível com o apoio da Amazon Prime Video!
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