Flow – À Deriva, um filme de animação indie da Letónia, teve a sua estreia mundial no prestigiado Festival de Cannes de 2024 e chegou aos cinemas portugueses em fevereiro de 2025. Esta obra independente conquistou o Oscar de Melhor Filme de Animação em 2025, superando grandes sucessos como Divertidamente 2, Robot Selvagem e Wallace & Gromit: A Vingança das Aves, todos fortes candidatos ao prémio.
Com uma narrativa poética e uma estética visual única, Flow – À Deriva encantou a Academia e o público, tornando-se um marco na história do cinema letão. A vitória do filme não só reforça a força do cinema independente na animação mundial, como também deu à Letónia o seu primeiro Oscar, consolidando a sua posição no cenário cinematográfico internacional.
Este filme, criado inteiramente no software de código aberto Blender, acompanha a jornada de um pequeno gato preto solitário cuja vida muda drasticamente quando uma grande cheia destrói a sua casa e o mundo que conhece. Forçado a procurar refúgio, embarca num barco junto a outro animal e, à medida que a viagem avança, a embarcação vai-se enchendo de diferentes criaturas, cada uma com a sua própria história e desafios. Juntos, eles precisam de aprender a conviver e a aceitar as suas diferenças para conseguirem sobreviver.
A narrativa é conduzida de forma brilhante, sem necessidade de diálogos, transmitindo emoções profundas através da animação e da expressão dos personagens. Os cenários deslumbrantes evoluem com o percurso do barco, refletindo os desafios e as transformações emocionais dos animais, criando uma experiência imersiva e tocante.
No final, fiquei intrigada sobre o destino dos humanos naquele mundo. Para onde foram? O meu palpite é que, neste cenário pós-apocalíptico, os humanos foram completamente extintos, restando apenas os animais como sobreviventes. Alguns vestígios das suas construções aparecem ao longo da jornada, sugerindo que a civilização humana já foi dominante, mas acabou por desaparecer.
A arte de Flow – À Deriva é verdadeiramente cativante, como se estivéssemos dentro de um quadro em constante movimento. A estética combina perfeitamente com a narrativa e a aventura dos animais, criando uma atmosfera imersiva e única. O estilo visual é adorável e, em vários momentos, tive a sensação de estar a assistir a um videojogo indie, de tão bem conseguido que estava.
O facto de não haver falas e mesmo assim a história manter o público focado e interessado é de louvar. Conseguiram, para além de se focar num assunto atual e moderno, também atingir várias faixas etárias. Apesar de não recomendar muito a crianças muito jovens, pois pode ser muito forte em termos de sentimentos de tristeza, e nestas idades mais novas pode ser um choque.
A banda sonora ajudou imenso a entrar ainda mais na história deste filme e os visuais acompanharam tudo ao mínimo detalhe. E é preciso destacar que conseguiram fazer isto tudo no software Blender.
E claro para quem é amante de gatinhos este filme vai ser muito apreciado.
Apesar de ter um pacing por vezes lento, e algumas pessoas não apreciarem este aspeto, fiquei fascinada com a maneira como nos contaram a história e nos levaram para uma experiência única. Cada animal tinha a sua caracterização, os seus visuais, os seus sons que fizeram toda a diferença. Não estava à espera de ter gostado tanto deste filme e me ter cativado de uma forma tão única.
Conseguir sentir as emoções, sentimentos e desafios dos animais, e até as suas intenções foi incrível. As conexões que o gatinho vai fazendo ao longo do filme com diferentes animais mostra que por muito diferentes que eles sejam e por muito “inimigos” que sejam, num mundo que está a desmoronar e a cooperação é necessária e todos se podem ajudar. Mostra-nos que em situações adversas as alianças mais improváveis podem acontecer e a reflexão que podemos retirar deste filme apesar de silenciosa é muito importante.
Apesar da mensagem que tem e de ser de animação, Flow – À Deriva pode não ser apreciado por todo o público, pois nem todas as pessoas gostam de um filme que não tem diálogo e por vezes pode ser um pouco lento.
Flow – À Deriva pode parecer um filme de animação demasiado simples, mas o seu significado é enorme. Tem pormenores que fazem toda a diferença para nos manter imersivos na história. Os visuais, os cenários, a banda sonora e a fluidez da história, transporta-nos para uma experiência e jornada completamente diferentes.
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