A irmã Paxton (Chloe East) e a irmã Barnes (Sophie Tatcher) são duas jovens que, apesar de enfrentarem diariamente o constante desinteresse demonstrado pela sociedade à palavra que as mesmas propagam, dedicam os seus dias a pregar de porta em porta, tentando converter novos fiéis. Após diversas tentativas falhadas, uma porta finalmente se abre – a porta do Sr. Reed (Hugh Grant) – um homem dedicado a descobrir mais sobre a sua religião. No entanto, a receção amigável do mesmo, rapidamente se transforma num jogo intenso que colocará em causa a fé de ambas.
Depois do sucesso de “Um Lugar Silencioso” (2018), os argumentistas e agora realizadores, Scott Beck e Bryan Woods aventuram-se por mais uma história macabra, desta vez abraçada pela famosa A24, que conta com um orçamento reduzido, mas que promete deixar a sua marca. “Herege” tem um ponto de partida bastante claro e a história é relativamente simples, no entanto, isso não significa que o filme seja banal. Pelo contrário, o argumento de Beck e Woods pretende guiar o espectador através de uma linha de pensamentos filosóficos sobre a religião e como esta pode mover as pessoas, usando um aparentemente simpático senhor de idade como uma espécie de host de um programa de televisão sádico, que nós, enquanto espectadores, não só assistimos como, a certa altura, nos sentimos completamente dentro da história. E aqui, temos de aplaudir a escolha de Hugh Grant para o papel, até porque, se a curiosidade de ver Grant num papel de antagonista assustador não cativa uma pessoa o suficiente para ir ver este filme ao cinema, eu realmente temo que nada cativará.
O Sr. Reed é, de tal forma, carismático que é capaz de deixar as irmãs Paxton e Barnes confusas e desconfiadas pelo simples facto de que as palavras que profere – brincalhonas e descontraídas – parecem não condizer com a sua figura sinistra. E o mais incrível é que esse sentimento passa para nós, espectadores. A figura do Sr. Reed contrasta com as suas falas, aparentemente desprovidas de qualquer tipo de maldade, o que acaba por gerar boas gargalhadas no cinema ao mesmo tempo que nos faz automaticamente desconfiar de tal personagem e consequentemente embarcar, juntamente com as protagonistas, no ambiente que Beck e Woods nos colocam. Como se isso não bastasse, a equipa de design de produção e a cinematografia de Chung Chung-hoon contribuem, e muito, para nos fechar, juntamente com as jovens mórmons, naquela casa.
“Herege” é original, é bem escrito e muito bem realizado, mas, sobretudo, é um prato cheio para quem procura um filme frenético do início ao fim. Ainda conta com, provavelmente, a melhor atuação da carreira de Hugh Grant que, na minha opinião, é o grande trunfo para toda a narrativa funcionar. Diverti-me genuinamente no cinema!
Esta análise foi possível com o apoio da NOS Audiovisuais!
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