Quando o professor JJ (DJ Próvai) conhece os irreverentes Naoise (Móglai Bap) e Liam Og (Mo Chara) , nasce um trio que a história do hip-hop nunca antes vira. Rimando em irlandês (Gaeilge), os Kneecap tornam-se um líder improvável de um movimento revolucionário, visando salvar a sua língua materna.
Rich Peppiatt, que escreveu e dirigiu a obra, apareceu por breves minutos antes desta começar, deixando uma mensagem para aqueles que, tal como eu, compareceram à antestreia do seu filme – “Kneecap” é uma jornada frenética e alucinante sobre origens e sobre a resistência cultural ao colonialismo britânico, provocadora e instigante, toda ela camuflada por comédia da boa e, segundo as palavras do realizador, oferecendo uma nova roupagem a um antigo lema: sexo, drogas e… hip-hop.
Kneecap consegue atingir o seu objetivo na perfeição. Fruto de um cinema europeu que tende a chegar sem grandes alaridos, a verdade é que a jornada de Peppiatt consegue, sem tirar o pé do acelerador, colocar-nos dentro desta história, partindo de uma premissa original e abordando um tema que, a princípio, não parece forte o suficiente para nos manter na sua narrativa, mas que, à medida que o filme vai avançando, Peppiatt vai ensinando ao seu espectador a importância das línguas indígenas que cada vez mais caem em desuso e o quanto elas podem ser importantes para esta revolta cultural, podendo ser o contraponto da violência “com que todas as histórias sobre Belfast começam”.
As atuações são todas muito boas e a química entre os três protagonistas, quando combinada com o excelente timing de comédia do argumento de Rich Peppiatt, gera boas gargalhadas. A edição de Julian Ulrichs e Chris Gill combina muito bem com toda a estética do filme e algumas escolhas a nível do design de produção pareceram-me audaciosas o suficiente para arriscar em fazer algo diferente sabendo, no entanto, os seus limites, evitando que caíssem no banal.
Kneecap foi o primeiro filme de língua irlandesa a estrear no Festival de Sundance, a 18 de janeiro de 2024. Por isso, creio que a barulhenta e irónica crítica social da obra, que se propunha a não se levar a sério, de alguma forma, já cumpriu o seu propósito.
Esta análise foi possível com o apoio da NOS Audiovisuais!
Redes Sociais