Quando comecei a ler O Meu Romeu Sombrio, confesso que estava com uma expectativa completamente diferente. Pelo título e por algumas opiniões que tinha lido, imaginei que fosse algo mais alinhado a um retelling de Romeu e Julieta, o grande clássico. No entanto, à medida que fui avançando nas páginas, percebi que a história estava muito mais próxima de A Bela e o Monstro. E, honestamente, a surpresa acabou por ser positiva para mim, pois trouxe uma narrativa que me prendeu de uma forma que não esperava.

He taught me strength. Most importantly, he delivered the cruelest lesson of all—there’s beauty in every beast. Thorns in every rose. And a love story can blossom—even from the carcass of hate.

O personagem masculino, que ironicamente se chama Romeu, é bastante diferente do Romeu que todos conhecemos da peça shakespeariana. Em vez do jovem apaixonado, que está disposto a desafiar tudo e todos pelo amor de Julieta, aqui temos um homem que é essencialmente o oposto. Ele é rico, arrogante e cheio de manias. Desde o início, fica claro que ele acredita que o mundo gira à sua volta e que todas as pessoas na sua vida, inclusive a mulher com quem ele se casa, lhe devem subordinação. Esta sua visão distorcida da realidade faz com que ele tome decisões extremamente questionáveis, e uma delas é literalmente enganar a protagonista feminina para que ela se case com ele.

You’re going to be a headache, aren’t you?” “A headache?” I cocked my head. “You kidnapped me, you psycho. I’m not gonna be a headache. I’m going to be, at the very least, a deadly brain tumor.

Senti que esta situação me colocou enquanto leitora numa posição de desconforto, já que é óbvio que Romeu é um personagem tóxico e problemático, mas, ao mesmo tempo, é fascinante observar o desenrolar de tudo isto. Romeu é uma pessoa autoritária, alguém que precisa exercer controle sobre tudo ao seu redor, algo que nos é explicado mais para a frente e isso desde início cria uma dinâmica muito tensa entre ele e a protagonista feminina, já que ela ao contrário do que ele esperava, não é uma mulher submissa ou que aceita passivamente o papel que ele quer que ela desempenhe.

A protagonista feminina, Dallas, em certa parte até é parecida com o Romeu, mas sem nunca espezinhar ninguém. Ela é uma mulher forte, cheia de garra e com uma clareza impressionante sobre o que quer para a sua vida. Desde o início, fica evidente que ela não vai deixar que ninguém faça farinha com ela, muito menos Romeu. E, ao longo da história, ela vai demonstrando isso de diversas maneiras, seja pelas suas ações ou pelas suas palavras afiadas que me fizeram rir várias vezes à gargalhada. 

A dinâmica entre os dois personagens é uma das partes mais interessantes da história, pois embora exista uma tensão evidente, ela é temperada com um humor inesperado. O livro consegue equilibrar momentos de tensão com diálogos espirituosos e engraçados, o que torna a leitura muito mais leve do que eu imaginava inicialmente. Há inúmeras trocas entre o casal que fazem parecer que estamos lendo uma comédia romântica, mesmo quando a história, em essência, é bastante sombria e cheia de momentos picantes.

Embora o livro tenha momentos de leveza e humor, há um subtexto sombrio, principalmente em relação à figura de Romeu, sendo um personagem extremamente tóxico. Desde o momento em que decide enganar a protagonista para se casar com ele, já fica claro que Romeu não é o tipo de herói romântico clássico. Pelo contrário, é o vilão da própria história em muitos sentidos. A sua necessidade de controlar a protagonista e de manter o poder sobre ela é algo que pode ser perturbador, especialmente porque isso a transforma quase numa prisioneira de um casamento de conveniência, um acordo do qual ela não tem grandes chances de sair.

O interessante é que, apesar de todos os problemas deste casal, há uma química inegável entre os dois personagens. E essa química é reforçada, em grande parte, pelas faíscas que surgem quando eles batem de frente ou quando têm interações sexuais. A protagonista não se deixa intimidar por Romeu, e isso é parte do que torna o relacionamento entre eles tão fascinante. Embora Romeu tente controlá-la e mantê-la sob as suas regras, Dallas está constantemente a desafiá-lo e a encontrar maneiras de manter a sua própria identidade dentro de um contexto que, muitas vezes, a sufoca.

Essa dualidade, entre uma relação que beira o abuso e a resistência da protagonista em perder a sua essência, é algo que me manteve envolvida na leitura. O livro não é apenas sobre romance, mas também sobre poder, liberdade e respeito. E a forma como a protagonista lida com a sua situação, sempre com humor e perspicácia, faz com que o leitor torça por ela a cada página e também que se torne amor.

Everyone will hurt you. The key to happiness is finding someone worth enduring the pain.

Outro aspecto que gostei bastante neste livro foram as mudanças intrínsecas nas motivações iniciais dos personagens e na maneira como olham para as suas próprias vidas, adicionando uma profundidade interessante à história. Ao contrário de muitos romances contemporâneos ou mesmo de interpretações de clássicos, O Meu Romeu Sombrio consegue fazer algo que não vejo com muita frequência e reverter a típica história de amor. Em resumo, surpreendeu-me de várias maneiras. O que eu esperava que fosse uma releitura de Romeu e Julieta acabou por se revelar uma história com muito mais nuances, uma espécie de A Bela e o Monstro moderno, onde o “monstro” não está escondido atrás de uma aparência horrível, mas sim disfarçado pela riqueza, pelo charme e pela atitude detestável de Romeu e que vai crescendo ao longo desta narrativa. A autora fez um excelente trabalho ao criar personagens complexos e criando boas bases para que eles possam florescer. Ao adicionar elementos de humor e tensão que poderiam facilmente ter caído em clichês, criou um experiência interessante. No fim das contas, essa mistura de comédia e dark romance foi uma combinação que funcionou muito bem para mim e que recomendo aos leitores se gostarem deste tipo de histórias.