Numa aldeia perdida nas montanhas da Macedónia do século XIX, uma jovem que cresceu em clausura é raptada e transformada em bruxa por um espírito antigo que vagueia pelas populações perdidas e isoladas nas montanhas.
Curiosa em relação à vida humana, a jovem bruxa assassina acidentalmente um camponês de uma aldeia vizinha e, literalmente vestindo a sua pele, assume o seu lugar, o que lhe abre novos mundos e realidades e lhe aguça a curiosidade.
Realizado pelo estreante Goran Stovelyski, natural dos Balcãs mas a viver na Austrália e produzido por Sam Jennings e Kristina Ceyton (que também produziu The Babadook), este conto de terror pagão inspirado no folclore da Macedônia, estreou inicialmente em Sundance e marcou presença recentemente no Motelx.
Com paisagens a perder de vista, que quase parecem saídas de um filme de fantasia, é fácil deixarmo-nos seduzir pelos visuais deste filme e a cinematografia que nos hipnotiza, ainda antes sequer de nos ser dado a conhecer a protagonista e a trama desta longa-metragem.
Este filme é uma viagem que fazemos juntamente com as muitas caras e corpos que a protagonista assume ao longo de várias vidas, sempre em busca de algo e sempre com fome de pertencer a algo que ainda não saberá bem identificar, mas que no fundo e apesar de ser retratada como um monstro e de ser constantemente recordada por isso pela sua criadora.
A bruxa que a transformou persegue-a ao longo da narrativa, como um espectro e quando menos espera, mostrando-lhe sempre que ela nunca pertencerá aos humanos, por muito que se esforce e se transforme, independentemente do género ou da idade que assuma.
No entanto, em nada isto demove a protagonista de resgatar a humanidade que lhe foi negada à nascença pela maldição da bruxa que a condenou, procurando-a desesperadamente em cada corpo que habita, em cada comunidade em que se insere, em cada gesto de compaixão que recebe.
Apesar de ter um ritmo mais parado em diferente momentos do filme, depressa apanhou o ritmo e nos torna a prender à trama e ao enredo que se desenvolve.
De destacar as prestações de Noomi Rapace e do português Carloto Cotta, que nos surpreende num registo totalmente diferente ao que já conhecíamos das telenovelas nacionais.
É um filme que além de ser terrivelmente humano e visualmente maravilhoso e que apesar de se inserir no género do terror, é quase um poema, sobre como a natureza humana é reduzida à necessidade perpétua de pertencer a algo ou alguém.
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